sexta-feira, 17 de agosto de 2007

DE QUEM É A RESPONSABILIDADE

A declaração do secretário de Segurança Pública sobre a desastrada incursão da Polícia Militar no Jacarezinho mostra que, na hora do “pega pra capar”, os de cima são os primeiros a transferirem responsabilidade.
O gaúcho José Mariano Beltrame, trazido para o Rio como a “solução da lavoura”, afirmou que a operação de tropas do 3º Batalhão na comunidade, em pleno meio dia, foi “mal planejada” e não considerou o apoio dos serviços de inteligência. Traduzindo em miúdos, eles partiram para cima no “vai o racho” e do “salve-se quem puder”.
Até parece que é a primeira vez que a polícia ataca o Jacarezinho, como se estivesse numa guerra civil, atingindo quem tem e quem não tem culpa no cartório. Até parece que essas ações irresponsáveis não vêm acontecendo nas horas menos indicadas, como na volta das crianças das escolas.
O que aconteceu na quarta-feira é reflexo de uma política de governo. O senhor Sérgio Cabral Filho acha que o melhor caminho para enfrentar a violência no Rio de Janeiro é “partir para o confronto”, não importa quem vá acabar pagando a conta.
Só nos complexos do Alemão e da Penha, essas incursões atabalhoadas fizeram mais de 50 mortos, a maioria pessoas que não tinham nada a ver com o tráfico de drogas. No início da semana, a Polícia matou pelo menos cinco na favela de Vigário Geral.
Com a declaração de guerra feita formalmente pelo governador, cada segmento da polícia quer mostrar mais serviços. Há um clima de estímulo a essa filosofia, que já deu com os burros n’água em outras épocas, como no tempo em que o general Cerqueira estabeleceu a “gratificação faroeste” para quem fosse mais rápido no gatilho.
Isso acontece, por outro lado, num momento de insatisfação generalizada no aparelho policial – civil e militar. E não é para menos. O governo gastou uma baba com a Força Nacional de Segurança, que, por sua vez, ficou alojada em condições precárias.
Mas não tem ouvidos para as reivindicações salariais dos nossos policiais, que ganham três vezes menos do que seus colegas de Brasília.
Isto quer dizer, em outras palavras: toda essa brutalidade que penaliza as comunidades pobres, em nome do combate à violência urbana, resulta de uma política errada de governo, que só servirá para agravar ainda mais a situação.

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