terça-feira, 14 de agosto de 2007

CORRUPTOS, MAS ELEITOS PELO POVO

A prisão em Brasília de um ex-deputado da “Máfia dos Sanguessugas” remete para uma reflexão sobre o exercício do mandato parlamentar.
Contra Lino Rossi, que foi deputado até o ano passado pelo PP do Mato Grosso, pesam 108 acusações. Isso mesmo: ele foi acusado 108 vezes por crimes no exercício do mandato parlamentar. Entre os crimes, estão formação de quadrilha, corrupção passiva, fraude, lavagem de dinheiro e ocultação de bens. Por tais expedientes, ele papou mais de 3 milhões de reais.
Por não ter sido reeleito, sua prisão preventiva foi decretada por um juiz de primeira instância. Há tempos, ele vinha sendo intimado para prestar depoimento, mas, certo da impunidade, não dava bola para os chamados da Justiça. Afinal, seus parceiros no escandaloso golpe das ambulâncias superfaturadas, compradas através da Planam, uma intermediária, estão por aí, como se nada tivesse acontecido.
Ontem mesmo, ele foi transferido para a Cuiabá, onde presta depoimento no processo envolvendo o empresário Darci Vedoin, dono da Planam - empresa que intermediava as vendas - e 26 prefeituras. Deflagrada no ano passado, a Operação Sanguessuga resultou na abertura de 84 inquéritos contra deputados federais, a grande maioria tramitando atualmente no Supremo Tribunal Federal (STF) por causa do foro especial. No Congresso, o escândalo gerou a abertura de 72 processos de cassação de mandato (69 deputados e três senadores). No final, 18 deputados e os três senadores foram absolvidos, e o restante nem chegou a ser julgado porque muitos não se reelegeram ano passado e a legislatura se encerrou.
Durante esses últimos anos, mais de 150 deputados federais apareceram nas páginas policiais por desvios de conduta. Poucos, porém, tiveram algum tipo de punição. E nenhum deles está na cadeia, apesar das evidências de que meteram a mão no dinheiro que falta para a educação e para a saúde da população.
Esse é o “X” da questão. Quem gasta uma baba em campanhas eleitorais não vai ter como rever esse dinheiro a não ser a custa de trapaças, propinas e outras espertezas. O mandato deixa de ser uma arma para a defesa do povo e se converte numa grande picareta para enriquecer políticos, com o que isso representa de nocivo para o regime democrático.
É uma pena. Mesmo pegos com a mão na massa, muitos deles recebem o voto popular na eleição seguinte. Isso deixa claro que o povo tem uma boa dose de responsabilidade na proliferação de corruptos em nossa vida pública.

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