domingo, 24 de junho de 2007

RENAN CALHEIROS EM MAUS LENÇÓIS (I)

Coluna no jornal POVO DO RIO do dia 23.6.07

De alguma forma, você deve estar sabendo do tititi no Senado da República. Naquela outrora respeitável casa do Poder Legislativo, o seu presidente, senador Renan Calheiros, está em maus lençóis.
Tudo por causa dos lençóis de sua atração fatal, a jornalista Mônica Veloso, um avião que já foi sonho de consumo de 9 em cada 10 figurões da Praça dos Três Poderes.
É que, esquecendo os preceitos da prudência e dos costumes modernos, o senhor presidente do Senado não soube brincar com fogo. Naquele clima quente de prazer que o poder oferece, o alagoano deu mole: não usou camisinha e ganhou uma filha para além de suas porteiras.
Até aí morreu Neves. Os brasileiros não são metidos a falsos puritanos com os americanos. Nem a sua esposa se deu por traída. Tanto que está lá, firme e forte, a seu lado, como se nada demais tivesse acontecido.
O problema é quem pagava a conta dessa relação digamos pecaminosa era um sujeito especialista em "convencer" os donos dos poderes a darem preferência à construtora para a qual trabalhava. Cláudio Gontijo não nega que é lobista da Mendes Junior. E também não esconde que era o portador da grana para o sustento da nova brasiliense, em valores tão generosos que hoje há uma fila de belas mulheres à espera de um olhar do fértil alagoano.
Por causa dessa pensão terceirizada, o presidente do Senado pode perder até o emprego. Aliás, não só por causa disso, mas, principalmente por sua arte de vender a boiada a preço de ouro a empresas inexistentes e a um modesto açougue da esquina, na Maceió das mil e uma noites.
Com todo o poder de que dispõe e até com a solidariedade de 9 em cada 10 senadores, Renan pode saber o que dizer em casa, mas não está conseguindo convencer a ninguém de que era seu, dos seus bois, o dinheiro usado para sustentar a filhinha, uma conta que passa dos 300 mil reais.
Por causa disso, a Casa de Leis quase vira uma casa de tolerância. Os pares e os ímpares de Renan tentaram abafar, com a história de que tudo se resumia a um caso de amor com final infeliz.
Isso não deu. Pior: deu zebra. Há dezenas de câmeras e microfones nos calos dos senadores. E aí, pronto. Sujou geral.
Leia o segundo capítulo amanhã.

EM MAUS LENÇÓIS (II)

Coluna no jornal POVO DO RIO do dia 24.6.07
Como contei ontem, o presidente do Senado está em maus lençóis. E isso está tirando audiência das novelas de televisão. Todo mundo quer saber como acabará o senador Renan Calheiros, já que nenhuma de suas desculpas convenceu a ninguém.
Lembrando: ele arranjou uma namorada fora de casa, fez uma filha, mas quem paga a conta é um preposto de uma grande construtora que tem as melhores obras das áreas onde o presidente do Senado tem apadrinhados.
A primeira parte não interessa. É assunto particular. Sua esposa já o perdoou. Além disso, com a divulgação dos valores repassados à namorada, ele passou a ser o grande sonho das mulheres de Brasília, todas querendo ter um filho com seu DNA.
Mas essa ajuda do sr. Cláudio Gontijo, da Mendes Junior, não pegou bem. E pode pegar para seu próprio mandato, isto é, o mandato do senador que um dia foi o líder do presidente Collor, cassado por exagerar na dose da corrupção.
Só que o senador Calheiros, que deu mole para a moça, não está a fim fazer o mesmo com seus pares. Vai usar de todas as suas armas, não importa quais, para dar um chega pra lá nos que desejam vê-lo pelas costas.
Primeiro, lembrou que o Senado está anos-luz longe de ser uma casa de freiras. Ao contrário. Lembrou ele muito bem que o melhor para todos é não mexer no vespeiro das empreiteiras e seus amáveis lobistas.
Todos, ou quase todos, como deixou claro, de alguma forma, têm sido merecedores das gentilezas dessas construtoras e de outras fornecedoras para os governos. Afinal, não é qualquer um que se torna senador, que dispõe de acesso direto, amplo e irrestrito, aos centros de decisão do país.
Foi só ele falar que promiscuidade com empreiteiras não é exclusividade sua para que entrasse em campo a turma do deixa - disso, provocando algumas baixas inesperadas.
O senador Romeu Tuma, policial experiente dos tempos da ditadura, teve uma indisposição e pediu licença médica. Ele é o corregedor da casa a quem coube fazer a primeira investigação para provar a inocência do Presidente.
Depois, foi o folclórico senador Epitácio Cafeteira que passou mal e renunciou, porque assinou um relatório de amigo que foi desautorizado por uma reportagem do Jornal Nacional, mostrando que Renan não poderia ter ganho tanto dinheiro vendendo boi por lebre.

EM MAUS LENÇÓIS (III)

Coluna no jornal POVO DO RIO do dia 25.6.07
Como eu disse nas duas últimas colunas, o presidente do Senado ficou em maus lençóis por ter tido a pensão de uma filha fora de casa paga por um lobista de uma empreiteira.
Ele tentou provar que o rapaz era apenas um menino de recado. Que o dinheiro vinha da sua boiada, vendida a peso de ouro, coisa que ninguém acreditou, até porque onde passa um boi passa uma boiada.
Mas ele já deu a entender que não vai entregar o ouro aos colegas sem mais, nem menos. Se cair, não cai sozinho. E é isso que está causando o maior tititi na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Depois de falar que boas relações com empreiteiras não é exclusividade dele, o que levou muitos colegas a um silencioso pânico, seus amigos passaram a espalhar fofocas sobre os colegas que estão querendo sua cabeça.
A mais comprometedora delas foi sobre o senador Demóstenes Torres, de Goiás. Segundo disseram, ele gosta de ir à reunião da ONU, em Nova York, todos os anos, acompanhado de uma bela assessora, que seria completa. Tudo por conta do contribuinte, isto é, por nossa conta, minha sua e de todos os brasileiros.
O senador não negou. Diz que requisita a moça porque não sabe falar inglês. E ela talvez seja a única que saiba usar bem a língua nos contatos de primeiro grau na cidade norte-americana.
De outro senador, José Agripino, do Rio Grande do Norte, disseram que ele está dando calote no Banco do Nordeste, que é do governo, numa dívida de 50 milhões de reais.
Este senador esclareceu que deve e não nega. Mas não é tanto. Sua pendência seria de 2 milhões, que ele não paga por estar contestando a cobrança na Justiça.
Não há nenhuma queixa do Banco oficial no Serasa ou em qualquer desses serviços que nos põe no cadastro negativo se deixarmos de pagar qualquer ninharia.
De onde chegamos á conclusão de que a coisa naquela Casa de Leis não anda nada legal. Pelo que é igualmente difícil antecipar o que será decidido sobre os maus lençóis do sr. Renan Calheiros.
O que se sabe, porém, é que o estrago já foi feito. Da próxima vez, ele precisa ser mais prudente em seus atos. Poderia fazer uma vasectomia, que aí não há como deixar furos.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

INTROMISSÃO INDEVIDA NA EDUCAÇÃO

Colna no POVO DO RIO DE 7.6.07
Eu bem que avisei: A Câmara Municipal não pode legislar nessa polêmica sobre a introdução do sistema que procura dar um jeito na exclusão a cada ano de milhares de alunos pobres da rede de ensino do município do Rio de Janeiro.
Essa matéria está definida numa Lei Federal - a 9394/06, sobre Diretrizes e Bases da Educação. É, portanto, matéria do legislador federal.
Intrometer-se nisso, só para querer desmerecer uma medida oportuna do Prefeito César Maia e de sua Secretária de Educação, Sônia Mograbi, uma das mais competentes que já conheci, é expor o Poder Legislativo mais da conta.
Logo, os educadores mais preparados, que não estão querendo preservar um sistema que faliu, reagiram com indignação e de forma didática:
— Esse assunto tem que ser discutido por educadores, não pelos vereadores. É como se eles quisessem resolver, por decreto, que remédio um médico deveria receitar para seus pacientes – declarou a professora Berta Valle, coordenadora do curso de pedagogia da Uerj. E foi mais além:
- O que os vereadores querem é ganhar voto, não discutir o que é melhor para a educação — criticou Berta.
Segundo a professora, o sistema de ciclos já está implantado em vários municípios e capitais brasileiros com sucesso:
— A escola seriada, que reprova, está preparando bem os seus alunos? Certamente não. Então, vamos implantar um novo esquema para ver — propõe a professora.
Ganhar votos? O vereador Jairinho, do PSC, é muito jovem e, apesar da experiência do pai, o deputado Cel. Jairo, devia saber que os 200 professores que foram impor uma decisão inconstitucional da Câmara, assinada por ele, já são militantes orgânicos ou influenciados pelos seus representantes na casa, entre os quais Eliomar Coelho, do PSOL, e Rubens Andrade, do PSB.
Claro que essa proposta foi mais um duelo na oposição eventual que um grupo está fazendo ao prefeito. No entanto, foi um tiro no pé. Para aprovar um Decreto Legislativo inconstitucional que interfere no currículo escolar, tiveram apenas 25 dos 50 votos da Casa. Não foi, portanto, sequer uma vitória política.
E como o Prefeito poderá derrubar na Justiça tal intromissão, fica a casa com a sobra por ter “vendido ilusões” e perturbado a atividade mais sensível deste país – a Educação.
coluna@pedroporfirio.com

O DIREITO DE CUIDAR DOS PÉS


COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 5.6.07
Num país em que o desemprego e o subemprego são responsáveis por uma grande tragédia social, não há maior absurdo do que criar dificuldade a quem quer trabalhar honestamente.
Eu não estou falando dos camelôs, dos vendedores de sinal de trânsito. Esses se defendem como podem porque, além de não conseguirem empregos de carteira assinada, ainda têm a possibilidade de, numa boa maré, ganhar bem mais do que o salário mínimo.
Refiro-me hoje a um grupo de três mil profissionais que enfrentam o casuísmo de um decreto em que foram incluídos, tanto como Pilatos entrou no credo.
Esses profissionais são os podólogos – um nome que nem todos conhecem. Podólogo é o profissional que cuida dos nossos pés. Não é apenas um pedicure, que se limita a fazer as unhas. É um profissional preparado para tratar de calos, calosidades, fissuras, unhas cravadas e também manicure e pedicure.
Embora um decreto do Estado reconheça a sua atividade e permita que trabalhem sem constrangimento, aqui, no Rio de Janeiro, a fiscalização sanitária do município exige que esses profissionais paguem uma anuidade de R$ 400,00 ao Conselho Regional de Medicina e trabalhem sob a direção de um médico, a quem têm de pagar só para fazerem uma supervisão à distância.
Certamente, você deve estar surpreso. Primeiro, porque existe a profissão de podólogo. Segundo porque, apesar de fazerem cursos profissionalizantes e terem uma boa dose de conhecimento sobre o tratamento dos pés, esses profissionais estão sendo impedidos de trabalhar pela fiscalização sanitária, com base em um decreto de 2004.
Como sou vereador e tenho um bom trânsito com o prefeito César Maia, vou procurá-lo para expor as razões desse pessoal que só quer ganhar a vida honestamente, com suas habilidades e seu domínio de tudo que diz respeito aos nossos pés. Vou conversar também com o secretário municipal de Saúde.
Com certeza, não há necessidade de tanta exigência para quem se limita a tarefas de conhecimento específico. Se fossem apenas manicures e pedicures, não estariam enfrentando dificuldades.
Mas como evoluíram para tratamentos de tudo que diz respeito aos pés, podem ser reprimidos numa atividade que, francamente, dispensa uma faculdade de Medicina. O que é que você acha?