sexta-feira, 24 de agosto de 2007

CRIVELA NO BLOCO DE ESQUERDA

No ato público que lançou no Rio de Janeiro o “Bloco de Esquerda”, a grande novidade foi a presença do senador Marcelo Crivela, bispo da Igreja Universal do Reio de Deus.
Integrante do Partido Republicano Brasileiro – PRB – cuja base social é essa Igreja que tem estado presente na vida política através de vários parlamentares eleitos em todos os níveis, ninguém poderia imaginá-lo no mesmo bloco de Jandira Feghali, do PC do B, até porque ambos são pré-candidatos a prefeitos do Rio de Janeiro em 2008.
Para quem tem uma história na esquerda - como é meu caso - a participação desse partido numa frente de nítido perfil ideológico, tanto como o PMN e o PHS, soava meio fora do tom.
Os parlamentares evangélicos, em geral, têm adotado posições conservadoras em confronto direto com as forças do chamado campo progressista.
O senador Marcelo Crivela seria recebido nesse evento como um peixe fora d’água. Dadas as circunstâncias da aliança, integrada por partidos da base de apoio do governo Lula, mas insatisfeitos com a hegemonia do PT, ele seria ouvido com toda a atenção, mas, mesmo com a presença maciça de seus adeptos, não encontraria qualquer traço político de aproximação com os outros partidos do bloco, entre os quais o PDT.
O senador Crivela surpreende, no entanto. Fez um discurso com uma bem encadeada retrospectiva da história do Brasil, falou dos grupos revolucionários do passado, dos movimentos sociais mais polêmicos e chegou até o ponto em que expunha sua própria lógica – a razão do seu PRB está nessa frente.
Foi assim que recordou todo o processo de formação e crescimento de sua igreja, muitas vezes perseguida e quase sempre discriminada. Ele não tratou da questão do ponto de vista religioso, até porque não era o caso.
Mas fez toda a esquerda refletir sobre uma possível semelhança entre ambos os segmentos no processo de afirmação do pensamento. Eu próprio não havia pensado nisso. Apenas entendia que as igrejas evangélicas crescem exatamente porque se instalam junto às camadas mais pobres da população, oferecendo algum conforto, numa época em que a descrença é geral, ampla e irrestrita.
O fato de uma denominação religiosa se envolver diretamente no processo eleitoral ainda é discutível, na medida em que o voto que captura para seus candidatos sai do seu trabalho evangelizador e de sua obra social.
Mas o senador Marcelo Crivela ofereceu uma outra per perspectiva. Que cabe avaliar.

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