Em sua coluna de ontem no jornal O GLOBO, Élio Gásperi pega pesado contra os médicos e o pessoal da saúde que estão ou fazem greves. Já o título é uma condenação implacável: “As greves de médicos beiram o crime”.
O jornalista, uma das mais brilhantes penas do Brasil, reflete, de certa forma, um sentimento de rejeição da população, principalmente dos que mais precisam do atendimento médico, diante da paralisação das atividades desses profissionais.
“Em todos os casos, os grevistas são capazes de provar que ganham pouco e que o sistema público de saúde precisa de mais dinheiro. Da mesma forma, todos os grevistas são obrigados a reconhecer que, ao paralisarem seus serviços, prejudicam deliberadamente os cidadãos mais pobres das cidades onde trabalham. Quanto mais pobre o cidadão, maior é o dano imposto pela greve. Quanto mais abonado, menos se importa com ela”.
Com o noticiário dramático sobre as conseqüências fatais das paralisações em estados como Alagoas e Paraíba, que já registraram mortes por falta de atendimento, parece claro que a opinião pública está contra o protesto dos profissionais da saúde. É sabido e notório que quem recorre ao sistema público de saúde é quem não tem mesmo como participar de um plano ou de pagar pelo atendimento particular. Em suma, é o povão.
Essa é uma das faces da greve.
Mas também não é justo desconhecer o descaso cada vez maior das autoridades públicas com a saúde. Nesse caso, como eu mesmo afirmei na homenagem que fiz ao ministro José Gomes Temporão, o problema está na própria natureza da atenção do Estado, que transforma o Ministério da Saúde em Ministério das Doenças.
Ninguém contestou a informação de que no SUS o governo paga R$ 76,00 por uma cirurgia e uma migalha de R$ 3,00 por uma consulta. Como alguém pode imaginar que esses profissionais têm condições de trabalharem a pão e água?
Agora mesmo, o governo está conseguindo aprovar a prorrogação da CPMF – R$ 40 bilhões anuais. Esse imposto foi criado originalmente para a saúde. Mas vai para onde? Todo mundo sabe que fica pelo caminho.
Será que a gente ficaria sabendo de toda essa exploração dos profissionais da saúde se não acontecesse uma greve, mesmo que isso recaia principalmente sobre os mais pobres?
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
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