Como você sabe, o país foi surpreendido em 1964 por um golpe militar que depôs o presidente João Goulart e suspendeu todas as garantias constitucionais, retirando do povo o mais sagrado dos seus direitos – o de eleger seus governantes.
Desde aquele primeiro de abril, um clima de arbitrariedades, terror e medo se instalou, agravando-se ano a ano, com perseguições políticas, prisões, torturas e assassinatos nos porões dos órgãos de segurança.
Todas as tentativas de restabelecer a democracia foram vãs, devido, principalmente, à política dos Estados Unidos para a América Latina. Além do Brasil, países como Chile, Argentina e Uruguai caíram em mãos de ditaduras violentas, todas instaladas sob o pretexto de evitar uma suposta ameaça comunista.
Como não havia lei, quem estava no poder fazia o que queria. A imprensa estava amordaçada, as universidades e escolas públicas, os sindicatos e outras entidades estavam sob intervenção ou controle dos órgãos de segurança.
Fora m dias trágicos, que duraram vinte anos. Quando, finalmente, o último dos ditadores passou a Presidência para um civil, o estrago já estava feito. Milhares de famílias haviam sido atingidas, com a perda dos seus filhos, o exílio, prisões, e, o que é mais grave, a interrupção das carreiras. Muitos cientistas brasileiros tiveram que atravessar a fronteira, ante o ambiente de suspeição que podia levar a todo tipo de perseguição.
A partir do meio da década de 70, foram ganhando corpo os movimentos pela anistia geral, ampla e irrestrita. Anistia quer dizer esquecimento e reparação dos danos causados pelas arbitrariedades da ditadura.
Na edição de ontem do nosso jornal POVO, inspirada pelo nosso presidente Alberto Ahmed, a editora Giselle Santana dedicou uma página ao assunto, numa matéria muito bem produzida pela repórter Renata Onaindia. Ela noticiou a audiência de hoje à tarde na Câmara Municipal, com a presença da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão Pires Junior.
E enfocou com destaque a situação do advogado Rodrigo Farias Lima, meu companheiro de prisão e uma das maiores vítimas do arbítrio, que até hoje espera a sua anistia reparadora. É um caso que serve de exemplo sobre a grande realidade: não se pode falar que no Brasil já vivemos um regime de direito, enquanto situações como a sua não tiveram um desfecho decente. Nossos últimos presidentes, FHC e Lula, sofreram muito menos e são hoje anistiados políticos. Quatro décadas depois da implantação daquele regime, é hora de remover as manchas que ainda persistem na vida pública brasileira.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
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