sexta-feira, 30 de novembro de 2007

PALAVRAS PERDIDAS NO JOGO DA VIOLÊNCIA

"A polícia precisa ser dura com os traficantes para acabar com a violência. Sem rigor a polícia perde a guerra contra a violência" – quem disse em entrevista ao Jornal da Record foi o presidente Lula. Ora, ninguém espera que a polícia ofereça flores e jantares românticos aos marginais, mas isso não significa que nessa guerra diária os trabalhadores sejam as maiores vítimas de ações descontroladas e de balas perdidas que sempre encontram o endereço no corpo de um inocente, como tem acontecido corriqueiramente no desgovernado Rio.
Diz mais o sempre presidente, que, aliás, goza de toda segurança possível: "Tem algumas pessoas que pensam que é só polícia, e não é só polícia. É preciso ter polícia, mas é preciso que tenha o Estado cuidando da educação, da saúde e do lazer para que se possa cuidar com carinho do povo e reduzir a violência". É exatamente o que o povo espera há anos, especialmente nos últimos oito de muitas promessas, que aconteça, mas fica tudo perdido, como as balas, nos discursos que já conhecemos de cor e não aguentamos mais.
Quase na mesma hora em que o presidente falava o tiroteio comia solto na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha em mais uma violenta e nada produtiva ação policial: não houve uma única prisão e nem armas e drogas foram aprendidas. Pura perda de tempo e só mais uma desnecessária demonstração de força que, como sempre fez vítimas inocentes, duas fatais: um catador de papelão (traficante de lixo?) e um cabo da PM, além de quatro feridos, três por estilhaços de balas, o que prova que o tiroteio comeu solto.
Mais uma vez a população trabalhadora foi a mais prejudicada: pelo menos 4 mil alunos de seis escolas da comunidade ficaram sem aulas. O intenso e inútil tiroteio deixou novamente os moradores no meio do fogo cruzado e muito, que só querem e merecem levar a vida em paz, tiveram que refugiar-se em uma igreja. Pedir a proteção de Deus, já que a do Estado é o diabo. O saldo de mais uma invasão policial mal planejada com 120 homens, teve atiradas quatro granadas atiradas, um caveirão atingido e o Hospital Getúlio Vargas sobrecarregado com atendimento às vítimas. Estatística do HGV mostra que aumentou o número de atendimento aos feridos por balas: até agora são 689 (210 a mais do que 2006).Resta à população repetir: "esse filme eu já vi" e aguardar que autoridades escrevam novo roteiro permitindo que o povo tenha um final feliz no real filme da vida.

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