quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O TIRO NO ESCURO DA VIOLÊNCIA POLICIAL

Não se pode permitir que qualquer “cara pálida” venha ao Brasil ditar regras de comportamento, mas admito que devemos levar em conta as conclusões de Phillip Alston, relator da Organização das Nações Unidas depois de estudar ações policiais bancadas pelo governo do estado.
Aliás, o governador Sergio Cabral nem recebeu o representante da ONU. Não quis conversa porque sabe que o trabalho desordenado da polícia não tem resultado na diminuição da violência e combate ao tráfico.
O relator da ONU não poupou críticas às práticas policiais, especialmente ”assassinatos cometidos sob o argumento de resistência à prisão”. Sobre a invasão que deixou, no dia 27 de junho. 19 mortos no Complexo do Alemão, o relator concluiu que “a operação foi conduzida por razões políticas, para mostrar que o governo é duro com o crime, mas na realidade o Alemão deveria ter um programa social comunitário”.
Não só o Alemão: programas comunitários em todas as favelas são ações que podem levar a uma solução definitiva para que inocentes moradores das comunidades não sejam vítimas, como aconteceu no Alemão, de uma polícia que “atirou em tudo em volta e depois saiu. Isso não aumenta a segurança”. O relator sugere investigação rigorosa das mortes causadas por policiais: “os autos de resistência são eufemismo para casos de execuções cometidas por policiais”.
A prepotência (ou seria o medo da verdade?) não permitiu o que o governador ouvisse as críticas e não desse ouvido para sugestões como, por exemplo, melhoria nos salários dos policiais (“a baixa remuneração favorece a corrupção”); mais recursos e independência para policias técnicas; garantia de segurança de testemunhas de execuções; garantia de acompanhamento das investigações de mortes causadas por policiais e garantia da segurança dos presos (“o governo deve controlar as cadeias e encerrar práticas onde novos presos que não pertencem a nenhuma facção precisam escolher uma”).
É exagero afirmar que conselhos resolvam um problema que aumenta com a violenta ação policial, gerando represálias. Também é exagero não ouvir o que um estudioso tem a dizer. É pretensão de quem posa de salvador da pátria e nada resolve porque não ouve ninguém, especialmente as comunidades carentes.

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