Realmente, não dá para entender: o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, esteve durante três horas deste sábado na favela do Jacarezinho, em minha companhia, e praticamente toda a mídia desconheceu, com exceção da Redetv, do nosso "Povo do Rio" da "Folha" e do "Estado de São Paulo". Só o fato de ter estado lá sem qualquer segurança policial, contando apenas com a acolhida da Associação dos Moradores seria motivo de uma cobertura. Afinal, era a primeira vez em quase 80 anos que um ministro do Trabalho ia visitar uma comunidade proletária, que fica no centro do outrora segundo maior parque industrial da cidade, hoje em ruínas.
Para os 70 mil moradores, não houve fato tão significativo como a visita, numa hora em que do só têm tido conhecimento do poder público através da presença constante da polícia, como se todo o Jacarezinho, procurado sempre em épocas de eleição, só merecesse esse tipo de atenção oficial. A visita do ministro estava relacionada também com o anúncio do fechamento da fábrica da GE, última grande reserva de mão de obra do Jacaré. E serviu para mostrar o abandono da Casa da Paz, um projeto de grande alcance social, que está praticamente desativado em meio a brigas políticas e ao próprio esvaziamento da secretária de Ação Social, Benedita da Silva.
No entanto, toda a mídia, inclusive televisão, deu ampla cobertura a uma ação da PM, realizada na véspera lá mesmo, com a apreensão de alguns tabletes de maconha e seis armas de fogo, sem nenhuma prisão, embora tivesse havido troca de tiros com traficantes. No mesmo fim de semana, a mídia se ocupou da polêmica entre a OAB e o governador Sérgio Cabral, a partir da execução de suspeitos em fuga na favela da Coréia, na Zona Oeste do Rio. Numa operação que culminou com a morte de 10 suspeitos, um policial e um menino de 4 anos atingido por balas perdidas, imagens de tv mostraram a execução de dois negros sem camisas e aparentemente desarmados por atiradores que dispararam de um helicóptero da polícia.
Assim, vai ser muito difícil alguém falar de honestidade no combate à violência. Como o próprio ministro lembrou, o Jacarezinho é um tradicional parque proletário, que serviu de suporte habitacional para o crescimento de todo um centro fabril. Seus moradores, na quase totalidade, são cidadãos trabalhadores e pessoas pacíficas, que têm todo o direito ao respeito dos poderes públicos, como apontarei nas próximas colunas.
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
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