terça-feira, 9 de outubro de 2007

NINGUÉM VIVE NA RUA PORQUE QUER

Repare só como a pressa com que andamos pelas ruas não nos deixa perceber muitas coisas. Uma delas é o cada vez maior número de moradores de rua nas esquinas de todos os bairros. Moradores de rua não são preguiçosos que querem “sombra e água fresca”. São vitimas do desemprego, pessoas expulsas do mercado de trabalho que não encontram alternativa a não ser a de transformar qualquer calçada esburacada em cama e moradia.
Não há números precisos, pela própria natureza móvel dessa população, mas estatísticas revelam que existem atualmente cerca de dez mil pessoas vivendo nas ruas do Rio. Durante a realização do Pan os moradores de rua foram recolhidos: era preciso limpar a cidade diante dos olhos do mundo, mas até agora nada foi feito para melhorar a vida dessa infeliz parcela da população, que, em sua maioria, não tem documentos e acesso a serviços públicos básicos. Às vezes nem a um prato de comida. Pior: moradores de rua são vistos pela população como marginais dos quais se deve fugir.
Estudos mostram que moradores de rua são ex-trabalhadores formais, da construção civil ou de serviços domésticos, que não conseguem inclusão no mercado de trabalho. Pessoas que romperam o vínculo com o estado e o país e não têm comunicação com as instituições porque ainda não existem políticas públicas específicas de inclusão social. O tão auto elogiado Bolsa-Família não resolve: grande parte da população de rua não o recebe simplesmente porque não sabe ou não o conhece. Muitas vezes são pessoas que vieram para as ruas, tiveram filhos e seus filhos tiveram precocemente filhos formando três gerações de pessoas nunca registradas e que não têm sobrenome.
Não é suficiente “recolher” só por “recolher” os moradores de rua. É preciso mais, muito mais. Quando fui secretário de Desenvolvimento Social, criei o programa “De volta à terra natal”, para aqueles cujas famílias estavam em outra cidade. Teve grande sucesso na época, porque a Prefeitura custeava seis meses de seu reassentamento. Como diz Aparecida Magali, psicóloga e pesquisadora de saúde pública da Universidade de São Paulo “não se pode violentar os moradores de rua arrancando-os dessa condição”. É necessário orientá-los até que encontrem um motivo para deixar a rua e, desta forma, conseguir superar a situação em que se encontram. Há muita coisa urgente para resolver. Essa é uma. Antes que seja muito tarde.

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