quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O PALPITE INFELIZ DO GOVERNADOR SOBRE ABORTO

Repúdio e indignação é a reação de qualquer pessoa normal diante das declarações do governador Sergio Cabral que numa suposta defesa da legalização do aborto. Nela, ele deixa claro seu verdadeiro pensamento ao declarar que “a interrupção da gravidez tem tudo a ver com a violência porque as mães pobres têm dificuldades para criar os filhos e muitos deles acabam caindo na criminalidade”.
A infeliz argumentação daquele que governa (deveria governar) um dos mais importantes estados do País faz até supor que para ele talvez o ideal fosse acabar com as mães, os pais e os filhos pobres para terminar com a violência e “limpar” a cidade, o que nos remete ao lamentável episódio da história quando foram assassinados 6 milhões de judeus considerados nocivos à sociedade.
Antes de falar na necessária legalização do aborto o governador carioca precisa informar-se melhor sobre a questão até porque, embora proibido, o aborto é praticado quase que abertamente e representa um grave problema de saúde e de justiça social no Brasil, como mostra estudo realizado pela UERJ. Os pobres que o governador não quer que nasçam são e serão os trabalhadores que ajudam o estado a viver e a crescer. No dia em que esses pobres não saírem de suas casas nos morros e subúrbios para trabalhar os ônibus não circularão e quase todos os serviços considerados menores, mas que são essenciais, deixarão de ser realizados.
Há muito estou envolvido na luta pela descriminalização do aborto (escrevi o livro “Sem Medo de Falar do Aborto” que, aliás, pode ser adquirido no site
www.palanquelivre.com.)
É a mulher – e só ela – que e deve decidir sobre ter ou não um filho. A legalização do aborto será o ponto final da hipocrisia: todo mundo sabe que abortos são realizados diariamente em locais sem a menor segurança, causando danos e provocando a morte de muitas mulheres. Em 2005 foram realizados 1.054.243 abortos induzidos. Em seu palpite infeliz o governador diz que a gravidez em comunidades carentes “é uma fábrica de produzir marginal”. Defender a legalização do aborto é uma questão de bom senso e de justiça, mas não com argumentos absurdos que parecem defender um novo genocídio. Quem encarar o problema da superpopulação por esse lado estará dando razão aos que consideram o planejamento familiar um atentado contra a vida.

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