terça-feira, 23 de outubro de 2007

QUANDO O TIRO SAI PELA CULATRA

Virou rotina: dia sim, outro também, assistimos a ações policiais que colocam em risco a já tão ausente segurança da população de um Rio transformado em cenário de filme de guerra. Não demora muito aprenderemos a conviver com “caveirões” circulando ao lado em meio aos carros e ônibus que conduzem inocentes trabalhadores.
Ninguém é contra a ação policial quando se trata de prender bandidos. O que se pergunta é se esse tipo de ação precisa mesmo assustar ainda mais o já tão amedrontado cidadão das comunidades pobres. A televisão e os jornais, que muitas vezes deixam de lado coberturas pacíficas, estão sempre presentes a nos mostrar além do tiroteio o pavor de gente inocente que vê sua vida ficar cada dia mais atrapalhada.
Foi assim, há dois dias, nos movimentados bairros do Catumbi e Rio Comprido, aonde pessoas que exerciam apenas o direito de ir e vir, foram obrigadas a sair de ônibus e carros para escapar de tiros, como se bandidos fossem. Prender bandidos é dever da polícia, mas não é exatamente o que acontece nesse tipo de ação policial cinematográfica (parece quer se quer aparecer mais do que realmente trabalhar). Balanço do Instituto de Segurança Pública mostra que o número de mortos em confronto com a polícia subiu 21,3% em setembro: já são 961 mortos, ou seja, 154 a mais do se registrou entre janeiro e setembro do ano passado. Esses números foram divulgados com detalhes aqui mesmo no POVO, na edição de ontem. Eles revelam que, enquanto mata mais, a polícia prende menos. Com certeza não é o que se espera de um aparato de segurança pública.
Pior: estes números não refletem o alcance negativo de tais operações. Em primeiro lugar, mesmo que os mortos fossem traficantes, não há pena de morte no Brasil, muito menos sem julgamento. Depois, muitas das vítimas não tinham nada a ver com o crime.
Há quem diga que a violência provém principalmente da luta entre grupos rivais para controlar áreas de distribuição de drogas. Não é o que se tem visto. Argumenta-se também que a violência dos confrontos se torna mais visível e faz mais vítimas inocentes porque a favela está no meio da cidade, no meio dos bairros de classe média alta, no meio do povo trabalhador. Mais um motivo para que se organizem com mais cuidado as ações policiais. Na hora de prender bandidos não é necessário mirar na população que paga caro, às vezes com a própria vida, por ações policiais que não resolvem o problema.

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