quinta-feira, 19 de julho de 2007

SÓ FALTA CULPAR AS RÁDIOS “PIRATAS”

É sempre assim: depois da tragédia aparecem os “especialistas” para apontar suas causas. Se elas pareciam tão óbvias, por que nada se fez preventivamente e, o que é pior, nada se cobrou?
A um pai, a alguém próximo das vítimas do acidente com o avião da TAM não há explicação que lhe poupe da dor e do sofrimento.
O que aconteceu com o vôo 3054 poderia ter ocorrido a outros, conforme opinião unânime, especialmente devido às condições de pouso no Aeroporto de Congonhas, o mais movimentado do país. Essa teoria ganha substância a partir do “ensaio” de véspera, quando um avião da Pantanal também derrapou e saiu da pista, parando a tempo no gramado.
Essa pista em que o jato da TAM não conseguiu frear havia sido “reformada” e devolvida ao tráfego no dia 30 de junho. O governo gastou mais de R$ 20 milhões nessa obra, que só ocorreu depois que o Ministério Público obteve sua interdição judicial, considerando laudos técnicos disponíveis.
Há um outro lamento unânime: o governo federal tem investido maciçamente nos terminais de passageiros, transformando-os em verdadeiros shoppings. A última coisa que entra na planilha é a segurança das pistas.
Não é de hoje que o Ministério Público considera Congonhas impraticável para o volume de pousos e decolagens – um a cada minuto e meio – e para os tipos de aeronaves, cada vez mais pesadas e mais velozes.
A Infraero, estatal que administra os aeroportos, está sendo acusada de superfaturamentos em obras e outros desvios, muitos comuns na gestão da coisa pública.
A Anac – Agência Nacional de Aviação Civil – completou um ano como substituta do DAC – em meio a críticas e suspeições sobre seus posicionamentos.
Há quase um ano, o país sofre os prejuízos do “apagão aéreo”, que transforma uma viagem em uma aventura.
Há dez meses, um avião da Gol caiu num estranho choque com outro, pilotado por dois norte-americanos, que desligaram o aparelho que poderia impedir o acidente e saíram ilesos.
Em suma: não é muito mistério a ser decifrado? Quando você estiver lendo esta coluna, estarei viajando a bordo de um aparelho igual ao que causou o maior acidente do Brasil. Como você acha que estarei fazendo esse vôo inadiável?
Bem, só falta agora culparem as rádios “piratas” pela tragédia.
Voltarei ao assunto, com certeza.

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