quarta-feira, 5 de setembro de 2007

É ISSO QUE O FAVELADO PRECISA?

Ainda no antigo Distrito Federal, o então secretário de Turismo, Mário Saladini, teve uma idéia no mínimo extravagante: pintar os barracos dos morros para que, mudando sua aparência externa, esconder a miséria e a pobreza dos seus moradores. Á época, gravaram uma marchinha que foi muito cantada – a favela colorida, ironia da vida.
Hoje, parece que o espírito daquela época reencarnou sobre algumas autoridades. Enquanto o Jacarezinho espera há anos pela conclusão do novo sistema de abastecimento de água – o castelo com capacidade para 200 mil litros já está pronto – os jornais estampam os mais irônicos projetos, que custarão os olhos da cara, para embelezar nossos morros.
Anunciam com estardalhaço tais novidades sem perguntar aos moradores se é isso que eles querem. No projeto para o Morro do Alemão, proclamam como a grande novidade um tipo de casa que impede a “puxadinha”, isto é, a construção de cômodos para cima, onde, em geral, vão morar os filhos que se casam. No de Manguinhos, uma avenida arborizada, de fazer inveja à Barra da Tijuca. Na Rocinha, um parque e uma travessia decorativas, da lavra do maior arquiteto do mundo, Oscar Niemeyer. Isso, sem falar nos teleféricos que copiariam soluções adotadas em Medelin, na Colômbia.
Eu não acho que isso é luxo mais da conta para os moradores de nossas chamadas áreas carentes. Na minha visão, todos têm direito à beleza e aos avanços do progresso. Mas, como pau-de-arara que chegou muito cedo ao Rio de Janeiro, ex-secretário de Desenvolvimento Social, afirmo com todas as letras: se tivesse mesmo propósito de melhorar a qualidade de vida de nossas comunidades, as autoridades fariam o mesmo que adotamos quando implantamos na década de oitenta o “Projeto Mutirão”: cada obra era discutida em assembléia com os moradores interessados e, como aconteceu no Jacarezinho, nada se fazia PARA e sim COM os moradores.
Hoje, os moradores do Jacarezinho reclamam com justiça a conclusão do Favela-Bairro, que deveria incluir a Vila Olímpica no campo da GE e uma revisão completa da rede de esgotos. No entanto, nem o início do novo sistema de água está acontecendo, embora sua inauguração estivesse prevista desde fevereiro.
Enquanto isso, a única presença do poder público visível são as desastradas incursões da polícia, com seus “caveirões” , em horários que quase sempre fazem vítimas inteiramente inocentes.

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