terça-feira, 11 de setembro de 2007

A BANALIZAÇÃO DA MORTE

Desculpe, mas este 11 de setembro me leva a uma reflexão sobre um dos faltos mais preocupantes de nossos dias – a banalização da morte entre nós.
Refiro-me ao 11 de setembro por conta de dois acontecimentos trágicos que causaram muitas mortes e tiveram grandes repercussões no mundo.
Em 1973, liderados pelo general Pinochet, militares golpistas derrubaram o governo constitucional do presidente Salvador Allende, provocando uma grande matança, que incluiu o bombardeio do palácio presidencial, onde o chefe do governo foi morto com vários de seus colaboradores.
Em 2001, dois grandes aviões comerciais seqüestrados por suicidas do grupo de Bin Laden derrubaram as chamadas torres gêmeas dos Estados Unidos, provocando um total de 3234 mortos, no mais audacioso ataque já realizado em território norte-americano, desde 1812.
Aqui, não há notícias de morticínios com tantas vítimas. No entanto, a crônica de todos os dias é pautada pela sucessão de assassinatos, numa espécie de sinfonia macabra cada vez mais aterrorizante.
Um carro que entra por engano numa favela é metralhado por bandidos; um líder comunitário é morto de forma perversa depois de denunciar PMs de uma “milícia”; jovens, traficantes ou não, são mortos em grupos pela polícia, em operações violentas. E você, cada vez que sai de casa, vive o medo da bala perdida, de um assalto seguido de morte.
Esses acontecimentos trágicos não são privilégios da cidade do Rio de Janeiro. É certo que os bandidos, cada vez mais jovens, cometem crimes revoltantes. Mas a polícia não fica atrás. Um relatório da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos revela que as polícias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais mataram quase cinco vezes mais civis do que todas as polícias de todos os estados norte-americanos juntas.
Os números são deprimentes: O Brasil possui um dos indicadores mais altos de violência letal do mundo, com 50 mil homicídios por ano e uma taxa de 28,5 homicídios por cada 100 mil habitantes. Para dar uma noção comparativa basta lembrar que países da Europa Ocidental têm taxas inferiores a 3 mortes intencionais por 100 mil habitantes e os Estados Unidos encontram-se na faixa de 5 a 6 mortes intencionais por 100 mil habitantes. O Brasil passou de 11,7 homicídios por 100 mil habitantes, em 1980, para 28,5 pelos mesmos 100 mil, em 2002, mais do que triplicando a taxa de violência letal e somando quase 700 mil pessoas mortas nesses 23 anos.
Voltarei ao assunto.

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