quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A GENTE TEM FOME DE LER

É costume dizer, até com certo tom de deboche, que o povão só gosta de futebol e carnaval. Gosta, sim: são as duas únicas e maravilhosas manifestações culturais capazes de reunir e entusiasmar a massa. Mas não é só: quando que lhe é dada oportunidade, a população de todas as classes sociais nos surpreende com seu quase sempre esquecido interesse. Como surpreendeu agora durante a 11ª Bienal do Livro, no Riocentro. Exatas 560 mil pessoas passearam entre os estandes que ofereciam a possibilidade de ”viajar” pela obras de diversos autores.
Como afirmou Paulo Rocco, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livro, “um grande espetáculo” com um aumento de 70% também na venda de livros. Entre o mais de meio milhão de visitantes lá estavam 200 mil estudantes, 35 mil professores e 30 mil pessoas acima de 60 anos, entre muitas outras. Editores e escritores estão otimistas e não é para menos: 77% das pessoas que compareceram à Bienal compraram livros, o que representa um aumento de 11% em relação ao ano passado, mostrando que a população também tem fome de cultura.
Os números são significativos. Mais do que o sucesso de um evento mostra a necessidade de oferecer ao povo maiores oportunidades de leitura. Recente pesquisa revelou que as livrarias estão saindo do mercado e muitas pequenas cidades possuem apenas uma (ou nenhuma) biblioteca. Sou autor de sete livros (os mais recentes podem ser adquiridos através do site www.palanquelivre.com) e sei não só do prazer e da importância de escrever e ler. Ler muito e cada vez mais.
Há ainda os que defendem a absurda tese de que “o Brasil é um país de analfabetos” e por isso que a literatura não faz tanto sucesso. Faz, sim, e a Bienal mostrou isso e sinalizou que é hora de ampliar o número de bibliotecas e dar ao povão acesso aos livros, inclusive os escolares. Não seria inviável organizar uma biblioteca (pequena que seja) em cada comunidade carente. Essa é uma maneira de orientar os jovens, alegrar os idosos e oferecer a possibilidade de aprender para depois, quem sabe, ensinar.
O povo quer ler o que ficou claro também no exemplo de um pedreiro que foi reunindo velhos livros em sua modesta moradia, transformada rapidamente em uma “casa de consultas frequentada por jovens estudantes que buscam, com apetite, nos livros ensinamentos de vida, sonhos e possibilidade de viajar no tempo e na imaginação. A Bienal mostrou uma tendência de crescimento no mercado literário. Portanto, nunca é tarde de matar a fome de leitura do povo. Essa é uma maneira de ajudar a matar todos os tipos de fome. Com urgência.

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