quinta-feira, 22 de maio de 2008

Náuseas que os nostálgicos da ditadura provocam


Na noite de 30 de abril de 1981, durante um show de música popular para 20 mil jovens, uma bomba explode dentro de um automóvel que manobrava no estacionamento do Riocentro, na Barra da Tijuca. Morto no seu interior o Sargento Guilherme Pereira do Rosário; gravemente ferido abandona o veículo semidestruído o Capitão Wilson Luís Chaves Machado, ambos do Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército sediado no Rio de Janeiro. Foi quando a ditadura começou a cair, em meio a indignação de todo o país.
MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 23 DE MAIO DE 2008
“Quando todos os países que passaram por uma ditadura militar já abriram seus arquivos relacionados a este período, o Brasil é o único que se recusa a mexer em tais documentos e, por isso, é acusado de obstruir essa apuração”.
Jair Krischke, ativista dos direitos humanos no Rio Grande do Sul.
Hoje, bem que ia voltar a falar da Varig e do Aerus, para cobrar o desdobramento da promessa do presidente Luiz Inácio, no Peru, de chamar à responsabilidade os donos do duopólio aéreo e periféricos.
Cheguei a enviar mensagem a respeito para o bravo comandante Marcelo Duarte, que está agora (eu não sabia) tentando sobreviver em Luanda, capital da africana Angola castigada por uma guerra civil fomentada pelo sistema internacional.
Mas um e-mail boçal que foi repassado por quem não parece como tal me deu ânsia de vômito. Era uma “ficha” do período em que o ministro Carlos Minc, na plenitude da sua juventude, dignidade, inconformismo e despojamento, entregou-se à luta armada contra a ditadura.
Nessa correspondência, fazem referência à sua participação na ação de 13 jovens, na casa do “Dr. Rui”, ou seja, da amante do governador Adhemar de Barros, tido, havido e assumido como o maior ladrão dos dinheiros públicos do país.
A primeira reação que tive foi estranhar a falta de qualquer comentário, em tudo que todos falaram sobre os “subversivos” daqueles idos, a respeito da origem do dinheiro, que era apenas parte da famosa “caixinha do Adhemar”.
Não falam porque não querem cuspir no prato que comeram. Aqueles 2,4 milhões de dólares eram café pequeno diante da soma que o mesmo corrupto de carteirinha disponibilizou para comprar muitos dos que aderiram ao golpe militar de 1964.
Ódio aos sobreviventes
Mas não é só isso. Toda hora, como que querendo justificar os assassinatos de torturadores pervertidos – como o que contava os pedacinhos de suas vítimas – alguns nostálgicos daquele regime ilegítimo e ilegal mandam e-mails em que destilam todo o ódio pelos sobreviventes da sanha ditatorial.
Ficam especulando se os jovens entraram na liça antes ou depois do AI-5, como se o regime de 64, que cassou, perseguiu e matou desde aquele trágico 1 de abril, tivesse alguma legitimidade.
Vamos ser claros e paremos com meias verdades: o país vivia a plenitude do regime de direito quando, com a ajuda ostensiva do governo norte-americano, que mandou uma frota de guerra para o nosso litoral na “Operação Brother Sam”, um grupo de militares derrubou o presidente constitucional, cuja posse não conseguiram impedir em 1961, devido à coragem do então jovem governador Leonel Brizola.
O lamentável é que o golpe, com os requintes de surpresa e traição, tenha triunfado em menos de 24 horas sem que, como aconteceu em outros países, os legalistas de então tenham resistido, como queria Brizola, razão pela qual se tornou o homem marcado para morrer pelos golpistas mais descontrolados.
Vamos ser mais claros ainda: desde o momento em que rasgaram a Constituição, os usurpadores do poder assumiram o caminho da ilegalidade e do arbítrio, única forma de se sustentarem no poder. Lutar contra a ditadura, desde o seu primeiro dia, era obrigação de todos os brasileiros.
A juventude por um sonho
Infelizmente, esse tarefa acabou sobrando para um punhado de bravos, jovens que abriam mão de sua vida “burguesa”, do seu futuro promissor, na esperança de que, com um 38 na mão, pudessem enfrentar 150 mil militares das três armas, muitos deles treinados na Escola das Américas do Pentágono e doutorados em tortura pela CIA. Enquanto muitos se acovardavam e até ajudavam (e se ajudavam) o regime, eles partiram para o confronto, como modernos quixotes.
Continuemos procurando aclarar ainda mais: anistia jamais poderá se aplicar a quem, na condição de servidor público, civil ou militar, tenha ultrapassado os limites de seus deveres e se dedicado a práticas de torturas dentro de instalações policiais e castrenses.
A propósito, transcrevo aqui trecho de uma entrevista de Jair Krischke, ativista dos direitos humanos no Rio Grande do Sul, comentando uma ordem de prisão da Justiça italiana contra alguns militares brasileiros.
“No Uruguai, neste exato momento em que nós estamos conversando, temos na prisão um ex-presidente da democracia, um ex-presidente da ditadura, um ex-ministro de Relações Exteriores, junto com vários oficiais do exército. Na Argentina, outros generais e coronéis estão presos. No Chile, é a mesma coisa. No Brasil, até agora, nem o Cabo da Guarda foi molestado pela Justiça brasileira”.
Terrorismo da repressão
Além disso, pouco se fala dos atos de terrorismo explícito promovido por militares e grupos da comunidade de informação. Ou você não ouviu falar da bomba do Riocentro e do acobertamento do Capitão Wilson Luís Chaves Machado, do DOI do 1º Exército, que a transportava juntamente com o sargento Guilherme Pereira do Rosário, morto com a explosão e enterrado com honras militares? Por pouco esses celerados não causaram milhares de mortes num show para comemorar o dia do trabalho em 1981, com a presença de 20 mil pessoas.
E a bomba que destruiu as oficinas a redação desta TRIBUNA DA IMPRENSA em 26 de março de 1981? Até hoje, este jornal sobrevive heroicamente sem que tenha sido ressarcido pelos prejuízos sofridos. E não me consta que esses “defensores da ordem” tenham se pronunciado pelo menos em defesa do direito à indenização. Não há notícias de que as grandes redes de televisão, que a qualquer constrangimento brandem o direito à informação, estejam empenhadas nessa reparação, devida há 27 anos.
E a cartas-bombas que no mesmo dia 27 de agosto de 1980 explodiram na OAB (matando a secretária Lyda Monteiro), no gabinete do vereador oposicionista Antônio Carlos de Carvalho, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, e na redação do jornal “Tribuna Operária”.
Você sabe o que os grupos ligados à repressão fizeram com o bispo de Nova Iguaçu, no dia 2 de setembro de 1976? Incomodados com sua postura, no mesmo mês em que o general Geisel cassou o mandato do deputado Lysâneas Maciel, dom Adriano Hipólito foi seqüestrado, despido, pintado de vermelho e abandonado nu, à noite, numa estrada deserta de Jacarepaguá. O carro que dirigia foi explodido por uma bomba na porta da CNBB, no largo da Glória.
A violência da ditadura não teve limites. Criminosos visíveis e invisíveis não tiveram dó, nem piedade. Seus excessos revestiram-se de requintes de sadismo e perversão. Tratar de inventariar essa página suja da história não é nenhum revanchismo. Buscar a punição de verdadeiros monstros é o mínimo que devemos às vítimas de suas torpezas e às gerações criadas sob o medo e o silêncio sepulcral. É uma providência saneadora que o mundo civilizado espera.
coluna@pedroporfirio.com

3 comentários:

Ninja disse...

Que se façaa abertura dos arquivos da chamada ditadura, porém dos dois lados.

E por falar em bomba gostaria de ver fotos da bomba detonada no aeroporto de guararapes em recife.

Foram militares também que explodiram a bomba?

Ninja disse...

Gostaria de ver também outra bomba, aquela que foi jogada contra o quartel do exército em SP, onde morreu um jovem soldado inocente.

Ninja disse...

querem falar de tortura? Infelizmente ela ocorreu, e ocorreu dos dois lados, como por exemplo o tenente do exército que era prisioneiro da guerrilha e foi barbaramente torturado e morto covardemente sem chances de defesa e seus tésticulos foram encontrados no seu estomago, então porque esse revanchismo todo contra os militares, se eles nos livraram da ditadura comunista que queriam (ou querem) instalar no Brasil? Nós temos que agradecer ao Exército por ter nos livrado disso.