quinta-feira, 22 de maio de 2008

Haja feriado: no dia santo, os cristão preferem os bares e a praia


MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 23 DE MAIO DE 2008

O que vou escrever talvez lhe choque, talvez desperte a fúria clerical, mas alguém precisa pôr o dedo na ferida, pagar o preço da honestidade e da coerência.
É o seguinte: acho que não é certo paralisar a vida econômica do país com certos feriados, como o de ontem. E duvido que você mesmo saiba da verdadeira razão desse “dia santo”, que só pode acontecer numa quinta-feira, garantia do enforcamento na sexta e de uma desfiguração da vida das cidades.
Você viu como ficam nos bares na véspera do feriado? Acha que alguém vai se ligar no rito da Eucaristia? Sem essa, cara pálida. Ontem deu praia no Rio e na maioria das cidades brasileiras. Era nessas areias paradisíacas, contemplando as imagens mundanas de corpos esculturais, que estavam os filhos de Deus.
Hoje, não vai ser diferente. Depois que inventaram o “direito ao feriadão”, aí liberou geral. Por trás da idéia do feriado prolongado, coisa dos últimos 30 anos, está o investimento da especulação imobiliária nas praias do interior.
Só no ano passado, tivemos 9 feriadões. Este ano, 6. Para você ter uma idéia: além de nossas próprias e sagradas férias trabalhistas (que querem tirar), em 2007, tivemos 115 dias no bem bom. Em 2008, a previsão é de 115 dias em casa.
Sabe o que significa isso? Em primeiro lugar, menos emprego num país em que os desempregados estão saindo pelo “ladrão”, com índices recordes, como 44% de jovens atrás de qualquer coisa para levar algum para casa.
Mês que tem feriado causa uma perda de 8 a 10% no faturamento das empresas, com maior prejuízo para a indústria e o comércio fora dos shoppings. Em cada feriado só o comércio perde em torno de R$ 180 milhões no Estado do Rio. Até as lojas dos shoppings também perdem, embora abram em meio expediente.
Em 2007, de quinta (Dia da Proclamação da República a terça-feira (Dia da Consciência Negra), somente os comerciários perderam de R$ 7,5 milhões a R$ 15 milhões em comissões, na cidade do Rio, responsável por 57% das vendas do Estado. A Associação dos Lojistas de Shoppings calcula que a redução nas compras chegue a 50% nos quatro dias imprensados pelos feriados. “Ou seja menos 20% de receita”, segundo Arthur Fraga, economista da Aloserj.
O Brasil tem feriado para dar e vender. Ao todo 14, entre nacionais e religiosos, isso sem contar com os estaduais e municipais, 4 para cada um. Eu disse religiosos? Não podia. Sério. O Brasil é um país laico, conforme o artigo 19, incisivo I da Constituição. No entanto, a Igreja católica pára o país cinco vezes por ano. Deus sabe disso? O que eu sei é que “Deus ajuda a quem cedo madruga”.
Estou muito à vontade para denunciar a hipocrisia e a demagogia desse monte de dias parados. Como vereador, votei contra os feriados de Zumbi e de São Jorge.
Curioso, um vereador não pode dar nome de rua, que não dói. Mas o feriado de São Jorge foi aprovado no sapatinho, em menos de 2 minutos, antes que eu pudesse impedir tal lei demagógica.
Voltarei oportunamente ao assunto.
coluna@pedroporfirio.com

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