quinta-feira, 1 de maio de 2008

Os testículos da sociedade hipócrita na alcova do Papillon


Ronaldo foi chantageado pelo o travesti que participou de sua madrugada de prazer com parceiros do mesmo sexo em cenas jamais imaginadas. Andreia reteve o documento do carro do craque.
MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 2 DE MAIO DE 2008

“A grande sacada da Nike é tentar associar a marca ao estilo de vida do jogador, mais que a seu desempenho dentro de campo”
Tom Webb, diretor da Bell Pottinger, empresa britânica que coordena patrocínios esportivos (à revista ISTO É DINHEIR0 em 2006)

Devemos a Ronaldo Luiz Nazário de Lima, esse garotão de 31 anos, uma nova e insólita exposição dos testículos de uma sociedade assentada na hipocrisia, na covardia e no jogo de aparências.
Por conta de uma seqüência de atitudes imprudentes, que foram geradas a partir do seu inconsciente reprimido, ele deixou meio mundo em estado de choque ao romper a redoma sistêmica, que o credenciou como embaixador da ONU, pelo brilho nos gramados, para mergulhar no submundo dos instintos indomáveis, que falou mais alto e o transformou num homem-bomba apontado para o circo das aparências teatrais.
Por muito tempo, ele será o assunto predileto de todas as rodas, em todas as camadas sociais, aliviando-nos, ainda que parcialmente, da carga pesada imposta por uma mídia medíocre e sensacionalista, que nos serve à mesa, 24 horas por dia, a horripilante narrativa dos mínimos detalhes da tragédia de uma menina assassinada no âmago de uma classe social, para qual a monstruosidade é monopólio dos favelados e da ralé.
Nem essa mídia de fancaria, nem os doutores de ocasião, nem os pernósticos intelectuais terão competência e coragem para explicar a desapontadora ruptura que o milionário ex-pobre produziu como se estivesse demolindo seu mito e, com isso, agredindo a todos os que lhe negavam o dinheiro da passagem quando ele, meninote, tentava chegar à Gávea para conquistar a sua inclusão social pelas portas do clube dos seus sonhos, cuja camisa vestia na madruga de loucuras.
Os mais boçais fazem piadas e comentários típicos de sua imaginação beócia, de sua cultura de almanaque. Estão ainda paralisados pela afoiteza do homem que poderá perder uma bolada do seu faturamento anual de R$ 35 milhões, a maior parte em publicidade (R$ 23,8 milhões).
Nas altas horas
Ronaldo Nazário passou um perrengue nas mãos de um travesti interessado numa grana fácil para fazer sua sonhada operação de troca de sexos. E incorporou com ele toda a sociedade de falsos brilhantes dominada pela astúcia dos manipuladores da serotonina social.
Os cronistas da falsa racionalidade se perguntam por que ele não agiu como os milionários que saciam suas fantasias sexuais e cheiram sua cocaína sob a proteção de uma bem articulada rede de intermediários. Com um telefonema para essas cafetinas que costumam servir aos executivos e aos próceres dos três poderes, ele teria à mão o melhor do mercado do sexo, inclusive desse ascendente segmento de pansexuais, cada vez mais requisitados para fazer tudo o que o diabo gosta.
No entanto, o ídolo do futebol, embaixador da ONU, garoto-propaganda da maior empresa de material esportivo do mundo, surtou numa alucinação irrefreável.
É mentira das grandes dizer que ele comeu gato por lebre. Os espaços da prostituição são segmentados. Onde vicejam os travestis não há vagas para prostitutas. É cada macaco em seu galho. Isso, qualquer boca mole sabe.
E por que ele requisitou os serviços de bem dotados ambivalentes depois de horas em companhia da noivinha de sagrada família? Que fenômeno “pervertido” capturou seu cérebro programado para os dribles do futebol e manipulado pelo mundo dos negócios, em que personaliza a pacífica libertação dos escravos?
Qualquer que seja a crônica do vexame que o craque protagonizou, ela terá de vasculhar o mundo eufemístico e bárbaro que o possui como um fantoche sem direito à personalidade própria, com todos os passos ditados por uma "central de bons modos" desalmada e condicionamentos desumanos.
Em 2006, durante a Copa do fiasco brasileiro, o artilheiro passou maus momentos por causa da bolha no pé, causada pela chuteira da Nike, empresa que até agora vendia a mentira de um contrato vitalício inexistente e não questionado pelos jornalistas do ramo, também aquinhoados com discretas gentilezas de um universo milionário da corrupta indústria do entretenimento.
Primeiro, foram as bolhas
Foi um “Deus nos acuda”. Poucas vezes bolhas nos pés de um jogador de futebol causaram tanto furor. Mas não se tratava de pés quaisquer. Eram os pés de Ronaldo, o Fenômeno. Nem de um momento qualquer. As tais bolhas apareceram às vésperas de uma Copa do Mundo. E, para piorar, foi a própria vítima das feridas tão incômodas que apontou sua galinha dos ovos de ouro como a vilã daquele transtorno.
Os jogadores de futebol hoje são escravos de luxo, que abriram mão do velho elam em troca dos euros que garantem transpor a barriga da miséria para a meteórica fartura das bolas de ouro.
Em alguns casos, qualquer resvalo é inadministrável. Os mais sensíveis, que rompem a couraça, perdem o rumo do script e esperneiam, contestam, afrontando as regras do jogo, como aconteceu, em cenários e situações diferentes, com Maradona, Edmundo e Romário.
Ronaldo assumiu o personagem do fenômeno e já não sabe o que quer da vida. Dinheiro não será problema, nem que as fontes sequem a partir de agora: seu patrimônio hoje é calculada em R$ 270 milhões. Já o confronto interior - a descoberta da própria natureza - pode gerar um tipo de fúria silenciosa, materializada na caça ao absurdo, na ruptura existencial inconsciente.
A sociedade sofre com seu perrengue muito mais do que ele. Porque precisa dele dentro da cerca, aos beijos com odaliscas de família e de passarelas, como astro dos banquetes. Nunca de estigmatizadas “bichas” de rua, violadoras de todos os códigos da puritana simulação.
Um mito não pode correr atrás de um parceiro do mesmo sexo no meio da rua. Muito menos passar perto da cocaína da Cidade de Deus. O que ele fez põe por terra anos de bons serviços prestados inconscientemente ao sistema.
Como ainda precisam dos seus pés, vão vigiar mais a sua cabeça e armar uma blindagem para salvar sua imagem de pobre vitorioso, de negro bem sucedido (condição que desconhece porque não precisa recorrer a cotas raciais na universidade pública).
Os marqueteiros da Nike, da AmBev, os cartolas da CBF, o endiabrado Berlusconi, presidente do Milan, os diplomatas das Nações Unidas, todos esses que tiraram casquinhas nos gols do fenômeno farão o diabo para provar que aquele que não resistiu aos encantos de travestis de rua era um sósia do verdadeiro Ronaldo. Era apenas o Nazário de Bento Ribeiro, que não podia ter renascido assim, aos beijos com travestis no motel Papillon, que lembra Henri Charrière, o autor do livro que, depois de uma vida de aventuras e a prisão na Ilha do Diabo, ganhou uma baba com o filme de sua obra, mas acabou morrendo pobre e dominado pela bebida nos arrabaldes de Paris.
coluna@pedroporfirio.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Pedro,


Sua análise do episódio está magnífica, penso que não haverá mais espaço pra nada depois de sua brilhante intervenção.

Parabéns!

José Rubens.

Pedro Porfírio disse...

José Rubens
Seria bom que todos fizessem seus comentários através do blog. Assim, eles abririam caminho a um debate produtivido entre nós.
Abraços
Porfírio