quinta-feira, 8 de maio de 2008

Aposentadoria de cartas marcadas


Um protesto diferente

No início de dezembro do ano passado, seis aposentados da Petrobras tiraram a roupa na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto, para exigir isonomia salarial em relação ao pessoal da ativa. Um grupo total de 50 pessoas, a maioria do Rio, foi a Brasília mostrar que a situação dos cerca de 60 mil aposentados e pensionistas do setor só piorou nos últimos anos.

MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 9 DE MAIO DE 2008

Não tenho a menor dúvida: a espoliação dos aposentados e pensionistas ainda vai explodir. Pode até ser que a mobilização em si tenha poucas chances de influir, porque quem está à margem do trabalho não tem poder de fogo em relação de algumas categorias pequenas, porém estratégicas e aguerridas.
Mas é tal a calamidade que se abate sobre milhões de brasileiros, é tão nebulosa e expectativa de outros milhões, é tão flagrante a injustiça, a consagração de privilégios, a ostentação de mordomias de uma minoria, que começo a acreditar na capacidade de indignação dos que estão sendo tratados como seres descartáveis.
Como disse antes, o projeto do senador Paulo Paim que acaba com a aritmética perversa do “fator previdenciário” e assegura aumentos iguais para todos dependentes da Previdência ainda é muito pouco.
Primeiro, porque não há maior crime do que condenar aposentados e pensionistas a receberem menos do que teriam direito em função do que contribuíram.
Segundo porque é uma mentira das grossas dizer que não há dinheiro para pagá-los, mentira que só vira “verdade” porque ninguém na mídia ou nas áreas de formação de opinião quer ter o trabalho de fazer as contas.
Isso sem falar de um lobby da pesada, que já teve prepostos dentro do próprio Palácio do Planalto, para favorecer aos planos privados de saúde. Graças à pressão que atinge principalmente a classe média, esses planos devem faturar este ano mais de R$ 32 bilhões, o dobro de 2005.
Para isso, eles contam com o desvio de dinheiro público: quando você declara o imposto de renda e tem a pagar, pode abater até 12% dessa dívida, desde que faça aplicações no sistema de aposentadoria privada.
Isso está criando uma situação insustentável. Tenho recebido relatos contundentes de aposentados, alguns, como no caso dos que contribuíram também para o fundo de pensão Aerus, da Varig e Transbrasil, estão sendo duplamente atingidos.
Já em 2003, eu escrevia a respeito da articulação patrocinada pelo governo Lula, que deu na segunda “reforma da previdência”:
“Gostaria de fazer uma pergunta inocente: se a previdência é tão onerosa, por que os bancos estão trabalhando para tomá-la do Poder Público? Por que os planos privados tiveram um crescimento de 1 para 8 bilhões de faturamento em 2002?” (Coluna da TRIBUNA de 24.02.03).
No final de 2003, o JORNAL DO BRASIL noticiava: “O medo dos efeitos da reforma previdenciária fez o segmento de aposentadoria complementar obter, em 2003, o melhor desempenho dos últimos oito anos. As entidades de previdência privada venderam mais de 1 milhão de planos no ano passado, ampliando seu faturamento em 53,56%, para R$ 14,869 bilhões, segundo dados da Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp)".
uma idéia, só em 2003, a captação foi 60% maior do que em 2002 - comemora Osvaldo Nascimento, presidente da Anapp e diretor-executivo da Itaú Vida e Previdência”.
Essa é a verdadeira razão do esmagamento dos aposentados e pensionistas. Voltarei ao assunto.
coluna@pedroporfirio.com

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