MINHA COLUNA NO POVO DO RIO DE 2 DE MAIO DE 2008
Depois de promulgada a “Constituição Cidadã”, como todo perseguido e excluído do período ditatorial, requeri o meu “habeas data”, o documento previsto no seu Art. 5º, alínea LXXII, que permite conhecer o nível de bisbilhotice de sua vida pelos órgãos de segurança.
Fiquei surpreso ao ver que uma palestra minha em Nova Iguaçu, sobre associação de moradores, movimento do qual fui pioneiro com a ALMA, na Rua Lauro Muller, havia sido acompanhada e fotografada por agentes do DOPS fluminense.
Quem foi lá eu jamais poderia identificar. Era um evento absolutamente inocente, dentro dos limites das leis de então. Nada de subversivo, nada que pusesse em risco o regime. Mas eu era um homem marcado, cadastrado como suspeito e subversivo, e meus passos eram vigiados na medida do possível.
Lembrei desse fato primeiro quando soube da morte do jornalista Arthur Cantalice, em plena reunião da ABI. Foi ele quem me convidou para falar da experiência que mereceu uma belíssima crônica de Carlos Drumond de Andrade, um estudo incluído num livro do professor Lauro de Oliveira Lima e minha obra “O Poder da Rua”, editado pela Vozes, por indicação da Rose Marie Muraro.
Mas lembrei também na terça-feira, dia 29 de abril de 2008, quando fui assistir num corredor improvisado a uma assembléia de servidores do Hospital Cardoso Fontes, convertido no mais ostensivo bastião da ditadura de nossos dias.
Lá, no entanto, o uso da máquina fotográfica digital parece ter dupla finalidade. Além de servir para dedurar os servidores que se reuniam nos termos do mesmo Artigo 5º da Constituição – Alínea XVI – o medíocre “paparazzi” do dono da “clínica ginecológica” de Nilópolis, que assumiu o Hospital Cardoso Fontes com a chancela do ministro Temporão e a ajuda de policiais armados até os dentes, também fotografa para intimidar.
Com tal demonstração de autoritarismo, os estudiosos do acontecido no passado não precisam mais recorrer a pesquisas de biblioteca e ao “Google”. Basta dar um pulinho ali, no sopé da Serra do Três Rios, onde nasce Jacarepaguá, e juntar-se aos 2 mil atendidos diariamente por uma equipe apaixonada, apesar de tudo.
Lá verá, como eu, como era a coisa naquele tempo. Há caras novas no hospital, que não são nem pacientes, nem servidores. Fazem parte de uma equipe especial, igualzinha a que fuçava e intimidava naquele tempo que imaginávamos pretérito, mas que foi ressuscitado pela bastardia patrocinada pelo Ministério da Saúde.
Como o ministro Temporão não tem cacife para encarar as costas quentes do diretor imposto e como os parlamentares estão com o rabo preso, e a mídia está mais preocupada com o caso da menina paulista e as estripulias do “fenômemo”, não precisa correr: o altar da repressão insana parece que terá muitos dias de sobrevida.
coluna@pedroporfirio.com
Fiquei surpreso ao ver que uma palestra minha em Nova Iguaçu, sobre associação de moradores, movimento do qual fui pioneiro com a ALMA, na Rua Lauro Muller, havia sido acompanhada e fotografada por agentes do DOPS fluminense.
Quem foi lá eu jamais poderia identificar. Era um evento absolutamente inocente, dentro dos limites das leis de então. Nada de subversivo, nada que pusesse em risco o regime. Mas eu era um homem marcado, cadastrado como suspeito e subversivo, e meus passos eram vigiados na medida do possível.
Lembrei desse fato primeiro quando soube da morte do jornalista Arthur Cantalice, em plena reunião da ABI. Foi ele quem me convidou para falar da experiência que mereceu uma belíssima crônica de Carlos Drumond de Andrade, um estudo incluído num livro do professor Lauro de Oliveira Lima e minha obra “O Poder da Rua”, editado pela Vozes, por indicação da Rose Marie Muraro.
Mas lembrei também na terça-feira, dia 29 de abril de 2008, quando fui assistir num corredor improvisado a uma assembléia de servidores do Hospital Cardoso Fontes, convertido no mais ostensivo bastião da ditadura de nossos dias.
Lá, no entanto, o uso da máquina fotográfica digital parece ter dupla finalidade. Além de servir para dedurar os servidores que se reuniam nos termos do mesmo Artigo 5º da Constituição – Alínea XVI – o medíocre “paparazzi” do dono da “clínica ginecológica” de Nilópolis, que assumiu o Hospital Cardoso Fontes com a chancela do ministro Temporão e a ajuda de policiais armados até os dentes, também fotografa para intimidar.
Com tal demonstração de autoritarismo, os estudiosos do acontecido no passado não precisam mais recorrer a pesquisas de biblioteca e ao “Google”. Basta dar um pulinho ali, no sopé da Serra do Três Rios, onde nasce Jacarepaguá, e juntar-se aos 2 mil atendidos diariamente por uma equipe apaixonada, apesar de tudo.
Lá verá, como eu, como era a coisa naquele tempo. Há caras novas no hospital, que não são nem pacientes, nem servidores. Fazem parte de uma equipe especial, igualzinha a que fuçava e intimidava naquele tempo que imaginávamos pretérito, mas que foi ressuscitado pela bastardia patrocinada pelo Ministério da Saúde.
Como o ministro Temporão não tem cacife para encarar as costas quentes do diretor imposto e como os parlamentares estão com o rabo preso, e a mídia está mais preocupada com o caso da menina paulista e as estripulias do “fenômemo”, não precisa correr: o altar da repressão insana parece que terá muitos dias de sobrevida.
coluna@pedroporfirio.com
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