domingo, 18 de maio de 2008

Lula, a aviação sem asas e a tragédia do Aerus

Lula falou em criar uma estatal aérea para salvar o setor e esqueceu que a solução está em resgatar a VARIG (CLIQUE NA FOTO E VEJA A MATÉRIA E VÍDEO DE LULA EM LIMA)

MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 19 DE MAIO DE 2008

Clique aqui e veja também a reportagem do Jornal Nacional sobre o Aerus (video enviado por Paulo Resende)

"Tudo o que eu não quero é que eles sejam tão inoperantes nessa área que comecem a fomentar na minha cabeça a idéia de que o Estado vai ter de criar uma nova empresa. Eu não quero fazer. Mas se os empresários não tiverem ousadia, a gente terá que ter ousadia".
Luiz Inácio Lula da Silva, Lima, Peru, 17 de maio de 2008.
Finalmente caiu a ficha. Em improviso numa reunião com governantes em empresários do Peru, o presidente Luiz Inácio admitiu que a aviação comercial brasileira vai mal das asas. Lá, em face de reclamações do seu colega peruano, com todas as letras que há possibilidade do Estado criar uma empresa aérea, em face da inoperância do “duopólio” TAM-Gol que controla não apenas os pousos e decolagens, mas também os próprios órgãos de fiscalização do país.
É possível que essa manifestação não passe de mais uma bravata do chefe de um governo que tem a maior responsabilidade pelo caos aéreo, ao abandonar à própria sorte a maior e mais séria empresa aérea brasileira, entregue a um grupo de aventureiros de mão beijada, enquanto seus empregados e aposentados eram jogados na rua da amargura sem nenhum direito, em nome da nova Lei de Recuperação das Empresas, gerada também no ventre desse governo.
O massacre do Aerus na TV
Essa fala coincidiu com uma reportagem exibida na noite de sábado pelo poderoso JORNAL NACIONAL, mostrando o desastre social a conseqüência mais perversa do trágico desfecho do caso: finalmente, a maior rede de tevê mostrou a seus milhares de telespectadores a situação de verdadeira miséria a que foram submetidos 17 mil profissionais da aviação, cuja contribuição, paga ao longo de décadas, evaporou-se no seu fundo de pensão, o Aerus, numa punga pela qual o governo é o principal responsável.
A matéria que chegou aos lares dos brasileiros na noite de sábado é o mesmo que venho dizendo aqui há quatro anos. Como foi transmitida por uma poderosa rede nacional de televisão, tenho a esperança de que o impacto causado possa abrir os olhos das autoridades e dos políticos, como o senador Paulo Paim, presidente da Comissão dos Direitos Humanos do Senado, que conseguiu reverter a anunciada falência do Fundo Portus com uma audiência pública e boas negociações junto ao governo. Essas articulações tiveram êxito porque ali os sindicatos estavam realmente do lado dos 13 mil portuários ameaçados.
A salvação do Portus
Na primeira quinzena de maio, eu mesmo avisei do risco que estavam correndo os beneficiários do fundo Portus. A posição técnica do secretário de Previdência Complementar do Ministério da Previdência, Ricardo Pena Pinheiro, era de que nada se poderia fazer, porque os “problemas que originaram o rombo no Portus continuarão” mesmo que o governo injete algum dinheiro.
Ao contrário de sua opinião “técnica” , o governo do presidente Luiz Inácio mandou jogar R$ 400 milhões no Portus, a fim de que o fundo possa iniciar sua recuperação. Essa decisão teve CARÁTER EMINENTEMENTE POLÍTICO e decorreu principalmente da firmeza como a Federação Nacional dos Portuários e os sindicatos da categoria se posicionaram, chegando a ameaçar com uma greve nos portos.
Essa, no entanto, não foi a postura do Sindicato Nacional dos Aeronautas, cujos dirigentes não foram nada solidários com o pessoal da Varig e ainda deram voto favorável na Assembléia dos acionistas que legitimou a entrega da VARIG ao fundo abutre dos Estados Unidos, representado pelo chinês Lap Chan.
Mistificação persiste
A decisão do governo em socorro dos portuários, que todos apoiamos, deixou os aeronautas e aeroviários na maior indignação, pois sentiram-se injustiçados como o que chamaram de dois pesos e duas medidas. Para o Portus, pelo qual se empenharam políticos como o senador Mercadante e três ministros de Estado, a resposta do governo veio na hora “h”, passando por cima da desastrada Secretaria de Previdência Privada do MTAS.
Para o Aerus, o governo virou as costas. Como entender isso?O Sindicato dos Aeronautas tratou de dar uma explicação. Os dois fundos são regidos por leis diferentes. O Portus tem estatais como patrocinadoras. O Aerus, não.
Será por isso? E o fato da as empresas aéreas serem concessionárias de serviços públicos, regulamentadas e controladas diretamente pelas autoridades aeronáuticas? E a dívida bilionária do governo com a VARIG, já confirmada em três instâncias, dependendo tão somente agora do STF?
Digam o que disserem, mas a decisão em relação ao Portus, que não podia ser diferente, foi POLÍTICA. No dia em que o Sindicato dos Aeronautas mudar de postura, esquecendo que seus dirigentes são do partido do governo, no dia que assumir frontalmente a causa da sua categoria, a posição do governo será outra.
Aviação sem asas
Voltamos à fala do presidente Lula. Se ele estiver sinceramente disposto a resgatar as asas da nossa aviação comercial, o caminho está em reconhecer o erro da omissão passada, que favoreceu a TAM e a Gol, e chamar de volta o pessoal da VARIG, cujas associações profissionais sempre tiveram soluções simples e viáveis para fazer a companhia voltar a voar com todas as turbinas.
Em maio do ano passado, numa audiência pública que promovi na Câmara Municipal, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, assumiu o compromisso de intermediar junto ao governo a recuperação das empresas e do fundo Aerus.
Posteriormente, em audiência com os representantes das associações de pilotos, comissários e mecânicos de vôo, Lupi ouviu do comandante Elnio Borges, na minha presença, a sugestão de uma fórmula prática e inteligente para que o governo pague a dívida com a VARIG sem precisar fazer nenhum sacrifício de caixa.
Lupi abraçou a idéia na hora. Procurou o advogado geral da União, mas este não foi autorizado a negociar um acordo. Ao contrário, a ordem do Planalto é de recorrer a todos os recursos para protelar a decisão num processo que se arrasta há mais de 15 anos.
Na matéria do JORNAL NACIONAL, o atual interventor do Aerus, Aubiergio Barros, disse que única solução para o sofrimento dos seus beneficiários está no pagamento da dívida do governo com a VARIG, que repassaria os R$ 3 bilhões devidos ao fundo.
Isso é evidente. Se Lula não ficou só no blefe, poderá matar vários coelhos de uma só cajadada. Basta chamar o pessoal da VARIG, reunido no TGV, que ainda poderá salvar a empresa e a própria aviação comercial brasileira.
coluna@pedroporfirio.com

7 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Pedro Porfírio,
Tenho a mais profunda admiração por você e sua hstória mas permita-me lembrar que o pessoal TÉCNICO, pilotos , mecânicos, comissáriado, e terra da Varig, eram e os que ainda militam são, da mais alta competência e isso é inegável MAS, o pessoal do "tapetão", destruiu a empresa. A tornou viciada por práticas administrativas e financeiras corporativistas e desonestas e acho, irrecuperável.
Não sei qual a saída mas certamente não seria a simples entrega de dinheiro.
Eduardo Horcades

Anônimo disse...

Mais uma vez, obrigado caro jornalista. Faço minhas, suas palavras. Essa situação não pode continuar a se arrastar. A falta de tato do Presidente é incrível, está ajudando a afundar o maior patrimônio em aviação no país e vem falar em criar uma estatal, que, com toda certeza vai dar com os burros n'água. Rezo todos os dias para que colegas como o Zoroastro, que apareceu no JN, recebam o que tem direito e que voltemos a viver sem medo.
Um abraço
Celso H. B. Macedo
Cmt aposentado Aerus

Anônimo disse...

Infelismente caro Jornalista, muita gente neste pais ainda não sabe o que realmente aconteceu com a VARIG, e o que o atual governo fez para impedir qualquer possibilidade de recuperação. Muita gente que tem como verdade o que se publica em jornais, eque na maioria foram matérias pagas. Quanto a falar, criticar e fazer manifestações de repúdio eu sou a favor, mas que os amigos não se iludão, pois este tipo de gente que estão no poder à começar pelo presidente não estão nem ai para isso. Grande abraço!

Anônimo disse...

Recordar o inicio da biografia que temos do nosso presidente da republica, é recordar que como sindicalista ele tratou de colocar os proprios interesses à frente de tudo. Dizem que promovia incitamentos dos metalurgicos à greves para obter vantagens através de negocioações dúbias. Quer queira quer não sua origem humilde e operária deveria estar sempre à frente para se obter vantagens e mais vantagens para todas as classes operárias e por conseguinte para êle. Não é isto que acontece como nos casos dos aposentados, e principalmente neste dos funcionarios da Varig onde os mesmos foram deixados a pão e banana, segundo relato de P.Porfirio que muito admiro pelo se comportamente exemplar como jornalista e político. Sem contar com a delapidação do patrimonio nacional. Se muitos levavam vantagem como se leva em todos os cargos políticos de chefia por que não colocá-los na rua e recomeçar tudo dando nova chance a quem merece. Infelizmente na luta pelo poder aprendi bem cedo, que aqueles que fazem partes dos ps....não sei de que???? Ahhh... sim os ps... que só sabem levar vantagem e roubar nosso povo e nosso país não fazendo nada absoltutamente nada para resolver os problemas dos que os elegem. A par de tudo isso é estarrecedor como aceitamos tudo de bom grado e sempre com tamanha obediencia. Como já dizia no passado o famoso ativista e premio Nobel da Paz, Martin Luther King, "O que me assusta não são os bandidos, mas a passividade da sociedade". A essencia é essa e é verdadeira, somos indolentes, submissos, não reinvidicamos e aceitamos tudo de bom grado, como se estivesse tudo muito correto. Não seria o caso das classes reinvidicarem, nós o povo, exigirmos mais, nós os aposentados pleitearmos mais, nós os funcionarios da varig fazer uma greve em frente da casa do "Lula", até ser resolvida alguma coisa de concreto. O cara que chegou ao poder através de bravatas. Vamos tirar o traseiro da cadeira como o mesmo falou um dia, pois foi assim que chegou ao poder, através de greves, e incitamentos à greve nem sempre claros, que o digam funcionarios e empresários contemporaneos do ABC.

Maria Helena disse...

Quando vi essa reportagem, no sábado à noite, tive uma surpresa, afinal de contas era a Rede Globo e isso não é pouca coisa. Mas, como é de seu costume, não houve nenhum comentário além das imagens humilhantes de um ex-piloto mostrando que ao contrário dos 6 mil reais que deveria ganhar, e que para tanto contribuíra a vida inteira, ganhava apenas 800. Lamentável.
Não consigo ver com bons olhos essa mais recente bravata do Presidente. Ele não pode estar falando sério ao dizer que criará uma estatal, havendo essa história mal resolvida com a Varig.
Se ele fosse uma pessoa séria e bem intencionada, não falaria tamanha barbaridade; isso soa como deboche para com o pessoal da Varig.
Já disse ao Porfírio uma vez que tenho me solidarizo aos ex-funcionários da Varig, pois meu pai foi comissário e meu tio, piloto da Cruzeiro e da Pan Air.
Torço para que haja uma luz no fim do túnel nessa história triste na nossa aviação.

Anônimo disse...

O quarto comentário acima que cita Martin Luther King é assinado por
joão lourenço finolio

Anônimo disse...

Caro Jornalista, as coisas não são bem assim. Ocorre, simplesmente, que a Varig era um monopólio privado, até meados da década de 80; após o fim de tal monopólio, mostrou sua incapacidade para concorrer numa economia de mercado; empresas mais jovens e mais ágeis surgiram, mudando o perfil da aviação civil e a Varig não aguentou o tranco (se tivesse aguentado, não teria quebrado). E não se esqueçam de uma coisa: o capitalismo é a coisa mais democrática que existe: quem não pode, não se estabelece. Em relação ao AERUS, era apenas mais um jeitinho de arrancar dinheiro de TODOS os empregados da Varig (se vc não entresse no AERUS, não entrava na Varig) para financiar meia dúzia de polpudas aposentadorias de comandantes. Jogar dinheiro público no AERUS (ou em qualquer outro fundo) não só é uma piada: também é crime. Sinto muito por quem confiou cegamente no AERUS; eu fiquei 14 anos na Varig, e parecia ser o único revoltado por ter que entregar 11% do salário bruto, obrigatoriamente. Os colegas chegavam ao cúmulo de dizer que o AERUS administraria melhor o futuro delas do que elas próprias. Bom, primeira lição: ninguém administra seu dinheiro do que vc mesmo. Quando eu saí, em 1999, levei todo o meu FGTS, 40% de multa, todo o dinheiro do AERUS (com uma correção ridícula, mas enfim, recuperei alguma coisa). Todos me chamaram de louco. QUEM É O LOUCO, AGORA?

Abraços a todos os ex-colegas Varig e aqui vai uma sugestão: PAREM DE ACREDITAR EM COELHINHO DA PÁSCOA!

MAX FABIAN NUNES RIBAS