MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 16 DE ABRIL DE 2008
O que estão fazendo com Ziraldo e Jaguar, dois profissionais que pagaram um preço caro pelo singelo “crime” de usarem seus talentos contra a ditadura, é uma INDIGNIDADE sem tamanho.
Por serem mais conhecidos e admirados, eles foram pinçados de uma lista de beneficiados pelas indenizações devidas pelo Estado às vítimas da perseguição da ditadura, num verdadeiro linchamento “compensatório”.
Os que procuram lançar a opinião pública contra eles sequer tiveram a lisura de observar a relação dos beneficiados. Não estou aqui para apontar esse ou aquele, mas, seguramente, se alguém tiver de ser questionado quanto a prejuízos impostos por aquele poder imposto ao povo, esse alguém não seria nenhum dos dois.
Muitos dos que se mostram incomodados com as indenizações anunciadas querem é vomitar sua própria cumplicidade com aqueles atos de arbitrariedade. Alguns chegaram a virar a casaca enquanto éramos torturados, perseguidos, discriminados, expostos à execração dos oportunistas da mesma mídia que hoje, na maior cara de pau, renega os aplausos ao grupo que empalmou o poder com seu apoio incondicional.
Nessa campanha há uma boa dose de hipocrisia. Negar o direito à reparação de danos causados pelo Estado a um cidadão é o mesmo que negar o regime de direito.
Quando a Comissão de Anistia quis aproveitar o centenário da ABI para fazer um ato simbólico em referência a todos os jornalistas perseguidos, não tinha idéia de que, com isso, iria despertar a ira dos colaboracionistas de então, que hoje se exibem como se nada de perverso tivesse acontecido no país naqueles anos em que nem o vice-presidente civil escolhido pelos militares pôde tomar posse com a morte de um general.
Ainda por cima, a solenidade acabou gerando descontentamento também entre os milhares de perseguidos menos importantes e mais atingidos, cujos processos se arrastam sem solução ou tem respostas frustrantes.
Mas nada disso justifica a transformação de Jaguar e Ziraldo em bodes expiatórios da intolerância e do ressentimento. A maior exploração ficou por conta do cálculo dos atrasados que, conforme lei negociada, serão pagos em dez anos e não numa bolada, como saiu na mídia, até por falta de esclarecimentos da Comissão.
Toda essa celeuma me traz de volta as responsabilidades do Estado e a questão de anistia, que só pode ser criticada pela sua tolerância com os que praticaram crimes hediondos dentro de instalações militares e policiais. Esses estão ganhando muito bem no gozo de uma impunidade blindada, ao contrário do que aconteceu em países como a Argentina e o Chile.
Voltarei ao assunto com mais profundidade.
coluna@pedroporfirio.com
O que estão fazendo com Ziraldo e Jaguar, dois profissionais que pagaram um preço caro pelo singelo “crime” de usarem seus talentos contra a ditadura, é uma INDIGNIDADE sem tamanho.
Por serem mais conhecidos e admirados, eles foram pinçados de uma lista de beneficiados pelas indenizações devidas pelo Estado às vítimas da perseguição da ditadura, num verdadeiro linchamento “compensatório”.
Os que procuram lançar a opinião pública contra eles sequer tiveram a lisura de observar a relação dos beneficiados. Não estou aqui para apontar esse ou aquele, mas, seguramente, se alguém tiver de ser questionado quanto a prejuízos impostos por aquele poder imposto ao povo, esse alguém não seria nenhum dos dois.
Muitos dos que se mostram incomodados com as indenizações anunciadas querem é vomitar sua própria cumplicidade com aqueles atos de arbitrariedade. Alguns chegaram a virar a casaca enquanto éramos torturados, perseguidos, discriminados, expostos à execração dos oportunistas da mesma mídia que hoje, na maior cara de pau, renega os aplausos ao grupo que empalmou o poder com seu apoio incondicional.
Nessa campanha há uma boa dose de hipocrisia. Negar o direito à reparação de danos causados pelo Estado a um cidadão é o mesmo que negar o regime de direito.
Quando a Comissão de Anistia quis aproveitar o centenário da ABI para fazer um ato simbólico em referência a todos os jornalistas perseguidos, não tinha idéia de que, com isso, iria despertar a ira dos colaboracionistas de então, que hoje se exibem como se nada de perverso tivesse acontecido no país naqueles anos em que nem o vice-presidente civil escolhido pelos militares pôde tomar posse com a morte de um general.
Ainda por cima, a solenidade acabou gerando descontentamento também entre os milhares de perseguidos menos importantes e mais atingidos, cujos processos se arrastam sem solução ou tem respostas frustrantes.
Mas nada disso justifica a transformação de Jaguar e Ziraldo em bodes expiatórios da intolerância e do ressentimento. A maior exploração ficou por conta do cálculo dos atrasados que, conforme lei negociada, serão pagos em dez anos e não numa bolada, como saiu na mídia, até por falta de esclarecimentos da Comissão.
Toda essa celeuma me traz de volta as responsabilidades do Estado e a questão de anistia, que só pode ser criticada pela sua tolerância com os que praticaram crimes hediondos dentro de instalações militares e policiais. Esses estão ganhando muito bem no gozo de uma impunidade blindada, ao contrário do que aconteceu em países como a Argentina e o Chile.
Voltarei ao assunto com mais profundidade.
coluna@pedroporfirio.com
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