quinta-feira, 24 de abril de 2008

Cardoso Fontes: uma omissão inexplicável

MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 25 DE ABRIL DE 2008
Médicos e outros profissionais de saúde se revezaram na porta do ambulatório, assegurando o atendimento aos pacientes de dengue, às emergências, aos de programas especiais e aos agendados, apesar da greve contra os métodos arbitrários do diretor imposto, que ainda mandou fotografar a manifestação, como nos tempos do regime de arbítrio.
O que está acontecendo com os nossos homens públicos? Qual a matéria prima do caráter de alguém que esquece sua própria biografia por conta dos penduricalhos do poder?
Essa é uma pergunta genérica que me vem à cabeça toda vez que me deparo com as atitudes de nossos governantes. Pode até ser que certas vacilações não contem para a avaliação de muitas pessoas. E que, em função disso, os titulares de fatias do poder não se sintam obrigados à coerência.
Mas essa é uma avaliação perigosa. Por mais que a tendência do povo seja “ir levando”, chegará um dia em que o bicho vai pegar. Já vi antes filmes dessa natureza.
A pessoa se apega a um cargo, crente que está abafando, e, de repente, quando menos espera, é surpreendida por um bilhete azul sem saber por quê.
Particularmente, estou perplexo com a omissão do ministro José Gomes Temporão em face dos acontecimentos do Hospital Cardoso Fontes, atropelado pela imposição de um diretor sem qualquer vivência daquele que é o maior hospital geral de Jacarepaguá.
Essa omissão pode significar aprovação, pois quem cala consente – todo mundo sabe disso. E se agindo assim o ministro atende a conveniências na área do PMDB, partido que, no Rio de Janeiro, não tem nenhuma inserção natural na área da saúde, acaba criando um tremendo desconforto para outros partidos da base do governo Lula, em especial, para o PC do B, com quadros excelentes entre os médicos e enfermeiros.
Imagino como deve estar a cabeça da prefeitável Jandira Feghali, que fez sua carreira a partir da sua categoria. Ontem, quando fui conferir a paralisação doas profissionais do Cardoso Fontes, vi chegar uma comissão do Conselho Regional de Medicina, encabeçada por seu primeiro secretário, o médico Pablo Vasquez Queimados.
Essa comissão ia notificar o diretor Raymond Jacoud da abertura de um procedimento no CREMERJ em função da humilhação imposta ao presidente do corpo clínico do hospital, José Geraldo Menezes, levado a uma delegacia, irresponsavelmente, sob a acusação de que os medicamentos em seu poder teriam sido roubados.
No HGJ há 32 anos, todos os seus colegas sabem de sua lisura e de sua integridade. Ele jamais poderia ser sido tratado como um delinqüente, sem o menor respeito.
Esse fato não é o único gesto arbitrário do diretor imposto. Mas é emblemático. E, no entanto, apesar de já ser do seu conhecimento, o ministro Temporão nada fez. Pelo menos que eu saiba.
Eu pergunto ao ministro: se tentassem impor à Fundação Oswaldo Cruz um diretor de fora, sem uma credencial que não fosse o apadrinhamento político, como se sentiria o sanitarista? E se para manter-se praticamente à força no comando da Fiocruz, sua casa, esse diretor fizesse com um colega o que fizeram com o dr. Menezes, qual seria sua reação?
O ministro perdeu o nexo com sua biografia? É o que parece.
coluna@pedroporfirio.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Meus parabens pela coluna e pela extrema obediência à linha com quê os fatos acontecem. Médico no Rio de Janeiro há alguns anos, observo que não é feita saúde com a política, mas sim, política com a saúde. O Hospital Cardoso Fontes (Geral de Jacarepagua)fez história no meio pela complexidade de seus pacientes e capacidade de resolução, apresenta serviços de diversas especialidades clínicas e cirúrgicas cujos profissionais, de moral elevada, acostumaram-se a fazer greve pelo doente, pela melhoria de condições de trabalho, pela melhoria de instalações e, fundamentalmente, abnegando o direito a salários dignos e/ou melhores. Não estão em greve por dinheiro mas, sim, por respeito, pela ética, pela preocupação fundamentalmente com o paciente que obteve melhorias de atendimento e recursos incomensuráveis no retorno administrativo ao Ministério associado ao empenho, transparência e lisura da direção deposta. É com tristeza e dor que interrogo: Onde está a democracia para o povo?! Os funcionários são ameaçados e coagidos no dia-a-dia, as chefias demitiram-se voluntáriamente e sob protesto de seus cargos, estamos em greve, e mesmo assim, onde está a democracia para lavar a nossa alma, para acariciar nossa moral?! Termino essas humildes palavras interrogando os motivos ??? Observemos as condições anteriores do hospital, a transparÊncia anterior e, as condições atuais. Saímos de um estado catastrófico de atendimento em trabalho conjunto de todos os profissionais do Hospital associado às melhorias administrativas nos últimos dois anos e, repentinamente, politicamente, tirão o nosso chão. Quem mais perde, com isso ?! Sempre os pacientes, os mais fracos, aqueles para os quais deveria ser feita a política.
Sem mais no momento,

Sinceramente, um médico indignado do Cardoso Fontes.