domingo, 2 de março de 2008

Holocausto dos palestinos: uma “vingança” inacreditável




Em 2002, eu e o vereador Rubens Andrade conhecemos o ministro Erekat, um fervoroso defensor de um acordo na Palestina

"Quanto mais os ataques com foguetes se intensificarem, maior será o holocausto, porque usaremos o que for necessário para nos defendermos".
Matan Vilnai, vice-ministro da Defesa de Israel


Quem diria? “HOLOCAUSTO”, uma palavra que traz as mais dramáticas lembranças para os judeus, entra no dicionário do governo de Israel para identificar um sentimento de vingança inaudito, inacreditável, impensável.
O “holocausto” dos palestinos de Gaza aconteceu a uma temperatura de 13 graus, neste sábado frio, primeiro de março de 2008. E ainda vai continuar, em desenfreados bombardeios sobre uma das regiões mais densamente povoadas do mundo -1 milhão 428 mil 757 habitantes para 360 Km2.
Não foi uma vingança só contra os palestinos. Foi um disparo sobre o coração de todo o mundo e, o que é mais patético, sobre a própria tradição judaica.
Os kosher (ortodoxos) não admitem sequer acender uma luz no sábado, dia sagrado, no qual o mínimo esforço deve ser evitado, até mesmo chamar o elevador.
Campo de concentração
E, no entanto, foi esse sábado passado que os sionistas de Israel escolheram para reencenar o holocausto, invertendo o papel dos judeus e usando como alvo um povo que vive hoje, por obra e graça de Israel, com o apoio dos belicistas ocidentais, num autêntico campo de concentração.
A violência das expedições punitivas, segundo os mesmos figurinos nazistas, foi tal que o moderado presidente da fictícia Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, se viu na contingência de suspender as negociações com o governo israelense.
“As negociações com Tel Aviv estão enterradas sob os escombros das casas destruídas em Gaza" – desabafou Saeb Erekat, um dos principais negociadores palestinos, que conheci pessoalmente quando, em julho de 2002, em companhia do vereador Rubens Andrade, ousei atravessar o mar morto sob fogo de artilharia , e chegar até a milenar Jericó, no sistema nervoso daquele mundo em guerra, para levar uma palavra de conforto a Yasser Arafat, o líder palestino que estava preso em seu “gabinete” de Ramalah, cercado por tanques israelenses.
A bem da verdade, a barbárie sionista não começou e nem parou no sábado, fazendo mais de 100 vítimas fatais. No domingo, a matança continuou: entre os mortos, um garoto de 14 anos, vítima de um tiro durante o enterro das vítimas de véspera.
E não é por acaso que tantos meninos são sacrificados pelos ataques israelenses. A Faixa de Gaza tem uma das populações mais jovens do planeta, com 48,1% dos seus moradores com menos de 14 anos de idade.
Naquele inferno que não conseguimos acessar, embora tivéssemos ido de Tel Aviv a Nazareh e de lá a Jerusalém, depois a Jericó, num esforço para burlar os blindados e ver o drama de um povo milenar com os próprios olhos, concentra-se hoje uma população tão humilhada que até a fronteira com o Egito árabe é regularmente fechado por uma grande muralha.
A faixa de Gaza não é reconhecida internacionalmente como pertencente a nenhum país soberano. O espaço aéreo e o acesso marítimo são controlados por Israel, que ocupou militarmente o território entre Junho de 1967 e Agosto de 2005. A jurisdição é por sua vez exercida pela Autoridade Nacional Palestina.
Segundo dados de 2006, da população de 1,4 milhão de habitantes , cerca de 40% são refugiados chegados nas duas vagas geradas pelas guerras de 1948-1949 e de 1967; os restantes são populações nativas, que tentam sobreviver nas cidades, entre as quais se destacam Gaza, Khan Yunis, Rafah e e Dayr al Balah.
O “holocausto” teve como pretexto as ações isoladas de alguns militantes do grupo Hamas, que lançaram alguns foguetes sobre cidades israelenses vizinhas, o que causou a morte de uma pessoa em Sderot, no sul.
No bombardeio de sábado, as balas israelenses tiraram as vidas de 71 pessoas, das quais 9 mulheres e 6 crianças. Jacqueline Abu Chbak, de 12 anos, e seu irmão, Iyad, 11 anos, morreram enquanto dormiam, vítimas da queda de um foguete na casa deles, de acordo com moradores. Uma mulher foi atingida no peito enquanto preparava o café-da-manhã para seus filhos.
6.245 vítimas fatais
Este sábado foi um dos dias mais violentos desde que o Hamas tomou o controle, em junho de 2007, da faixa de Gaza. As últimas mortes elevam para 6.245 o número de mortos nos confrontos entre Israel e Palestina desde 2000, em sua quase totalidade palestinos, de acordo com um resumo elaborado pela France Presse.
Embora o governo de Tel Aviv esteja pouco ligando para a repercussão internacional negativa de seus atos brutais, o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou os ataques israelenses e os considerou "desproporcionais e excessivos".
Pelo que se viu, esta poderá ser mais uma semana do genocídio programado com o nome de “holocausto dos palestinos da faixa de Gaza”. O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, afirmou neste domingo que a ofensiva militar ali não será interrompida "nem por um segundo". As operações israelenses na região fizeram deste sábado o dia mais sangrento para os palestinos, desde a última intifada contra a ocupação israelense, no início de 2000.
A ofensiva, que continuou neste domingo, deixou mais de 70 palestinos mortos no sábado. O Egito decidiu abrir a fronteira com Gaza para permitir a entrada de feridos em seu território e o envio de medicamentos à região. Dezenas de feridos se agrupavam na fronteira esperando que as autoridades egípcias permitissem o acesso.
Faço esse relato com uma boa dose de sofrimento. Desde 1967, tenho acompanhado o dia a dia da construção de um Estado racial sobre milhares de cadáveres de Palestinos. Para conferir, fui lá. Vi que entre os israelenses há um sentimento de paz.
Testemunhei o crescimento do “Movimento Paz Agora”, surgido a partir de uma carta enviada em 1978 ao premier Menachem Begin por 348 oficiais e soldados da reserva. Naquele 2002 em que estivemos na terra santa já se falava em 500 mil israelenses que exigiam uma solução de paz, com o reconhecimento dos territórios palestinos árabes antes da guerra dos 6 dias, em 1967, inclusive as colinas de Golã, tomadas da Síria.
Hoje, sinto-me no dever de voltar a denunciar a covardia contra populações civis, que não têm nada com atos isolados de grupos radicais. Israel tem o mais sofisticado serviço secreto do mundo. Não precisa matar crianças para se vingar de alguns terroristas.
coluna@pedroporfirio.com

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