“O Brasil tem hoje 53 mil farmácias, uma para cada grupo de pouco mais de 3.200 habitantes. O número é superlativo também quanto ao faturamento, de R$ 16 bilhões por ano”.
Silvana Orsini - InvestNews
Silvana Orsini - InvestNews
O Brasil está doente. Doente da cabeça aos pés. Esse surto de dengue tem uma causa, a doença que é a mãe de todas as doenças. Essa doença se chama septicemia de Estado. Septicemia consensual. Septicemia inercial.
Essa infecção generalizada não afeta apenas um governo. É ampla geral e irrestrita. Seduz autoridades em todos os segmentos dos três poderes. O povo sabe disso. Sabe e, o que é pior, parece aceitar tal doença como orgânica, estrutural, atávica.
Todos os dias, em todos os lugares, a septicemia se manifesta, porque já foi inoculada em todo o organismo social. E, como é de sua natureza, essas manifestações expressam os mais terríveis sintomas da baixeza humana.
De um modo geral, essa infecção desafia qualquer tratamento. E, por estar ainda camuflada como uma leucemia rara, não há notícia de que exista alguém disposto a enfrentá-la. Até porque, como no “alienista” de Machado de Assis, não há ninguém com poderes reais disposto a atacá-la.
Dengue cultivada
Veja o caso da epidemia de dengue, uma doença decorrente muito mais da incúria dos governos e da desatenção dos cidadãos do que da capacidade letal do mosquito assassino.
Não estamos diante de um terrorista clandestino, mas de um inimigo de hábitos conhecidos, que só costuma atacar de dia na área próxima do seu criadouro. Não se trata, portanto, de uma ameaça misteriosa, que requeira uma montanha de dinheiro para ser extirpada preventivamente de nossas preocupações.
Eu disse preventivamente? Então disse um palavrão. Neste país de doutores que vivem da desgraça alheia – sejam médicos ou advogados – é expressamente proibido falar em providências que lhes retire o poder de barganha.
Doenças evitáveis como a dengue estão para certos médicos como as liminares absurdas estão para certos advogados e magistrados. Todo mundo sabe que não têm razão de ser, mas sabe, igualmente, que essa é, paradoxalmente, a razão de ser de muitos ambiciosos profissionais nos seus respectivos campos de trabalho.
E por que não se pode falar em ações preventivas? Por conta do ambiente infeccioso que envolve os organismos de decisão. Você pode dizer cobras e lagartos do governo revolucionário de Cuba, principalmente se você estiver programado pelo sistema, mas tem de se render ao sucesso do médico de família e da seriedade de suas autoridades, que não fogem á luta e respondem com coragem e abnegação a todo tipo de ataque, inclusive no campo da saúde.
Ou você não sabe que Cuba foi cenário de uma suspeitíssima invasão desses mosquitos? Lá o bicho pegou com tal violência em 1981, ao ponto de registrar os primeiros casos de febre hemorrágica fora do Sudeste Asiático e do Pacífico Ocidental. Lá, o “sorotipo 2” se manifestou pela primeira vez, com 159 vítimas fatais, número que só não foi maior devido ao envolvimento de todo mundo no combate à epidemia, que afetou 344 mil cubanos.
Hoje, esse mal teve o mesmo destino dos governantes norte-americanos que ao longo de quase meio século tentaram matar Fidel Castro voltar a dominar a ilha do Caribe – isto é entrou para os arquivos da derrota. Não se fala mais em dengue em Cuba, que recorreu a tudo, inclusive a uma fórmula preventiva desenvolvida pelo homeopata brasileiro Renan Marino, de São José de Rio Preto.
No reino das farmácias
Mas cá entre nós, é preciso ter onde gastar os bilhões de reais destinados às rubricas de saúde, hoje as mais gordas do orçamento federal.
Qualquer esforço para acabar com a festa dos grandes laboratórios, da rede privada e dos planos de saúde esbarra num lobbie poderoso, com mais de 150 deputados federais e muito dinheiro em caixa. Graças a essa inércia, a esse complô lucrativo, o Brasil tem hoje mais de 53 mil farmácias, contra 42 mil padarias, o que revela a quantas chegamos na selvageria da caça ao lucro fácil.
Hoje, estou convencido de que há uma aliança virtual entre as corporações e os interesses privados, em função desse negócio da China que é transformar o Ministério da Saúde e as respectivas secretarias no Ministério das Doenças e Secretarias das Doenças.
Se há uma coisa que assusta o ser humano é o medo de ficar doente. Logo, o que se fizer nesse ramo dá samba. A paranóia e a desinformação são tão fortes que os cidadãos desesperados batem em qualquer porta à cata de uma cura de qualquer coisa que lhe pareça doença. Foi o que aconteceu com as tendas do governo do Estado, destinadas a quem já tinha dengue. As pessoas correram para lá achando que podiam ser medicadas.
Se há um setor totalmente viciado pela infecção política, esse é o da saúde. Compram veículos inadequados para o transporte de equipes e repassam para as Prefeituras como se tivessem ajudando. Estas emburram e não são criativas o suficiente para usar esses veículos em tarefas para as quais servem, como o “fumacê”.
Todos se esmeram em cumprir uma certa agenda para que todos os anos seja possível fazer gastos de emergência, com dispensa de licitação e preços superfaturados. É da natureza da septicemia a que me refiro. O Estado corrupto é gerado por essa doença própria de um sistema em que ri melhor quem ri com grana.
Se não for a dengue, tem de aparecer outra doença apetitosa. Você já ouviu falar na gripe aviária, que virou epidemia pela mídia entre manipulada e despreparada? Sabe quanto o governo brasileiro gastou em 2007 só na compra do Tamiflu, o remédio contra a gripe que não piou por aqui? Nada menos de R$ 180 milhões, sem falar nos gastos passados.
E sabe quem é o grande interessado na venda desse produto? Nada menos do que o ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfield, o homem que ganhou fortunas com a invasão do Iraque.
Como eu disse no começo da nossa conversa, essa infecção se manifesta em todos os poderes – no Executivo, Legislativo e Judiciário. Como estou com algum tempo, tenho pesquisado sobre os desvios de conduta em todas as áreas e começo a perder a esperança. Quanto mais blindado é o poder, mais forte é a contaminação dessa infecção moral.
Matéria que ainda dará muitos panos para as mangas neste espaço.
coluna@pedroporfirio.com
Essa infecção generalizada não afeta apenas um governo. É ampla geral e irrestrita. Seduz autoridades em todos os segmentos dos três poderes. O povo sabe disso. Sabe e, o que é pior, parece aceitar tal doença como orgânica, estrutural, atávica.
Todos os dias, em todos os lugares, a septicemia se manifesta, porque já foi inoculada em todo o organismo social. E, como é de sua natureza, essas manifestações expressam os mais terríveis sintomas da baixeza humana.
De um modo geral, essa infecção desafia qualquer tratamento. E, por estar ainda camuflada como uma leucemia rara, não há notícia de que exista alguém disposto a enfrentá-la. Até porque, como no “alienista” de Machado de Assis, não há ninguém com poderes reais disposto a atacá-la.
Dengue cultivada
Veja o caso da epidemia de dengue, uma doença decorrente muito mais da incúria dos governos e da desatenção dos cidadãos do que da capacidade letal do mosquito assassino.
Não estamos diante de um terrorista clandestino, mas de um inimigo de hábitos conhecidos, que só costuma atacar de dia na área próxima do seu criadouro. Não se trata, portanto, de uma ameaça misteriosa, que requeira uma montanha de dinheiro para ser extirpada preventivamente de nossas preocupações.
Eu disse preventivamente? Então disse um palavrão. Neste país de doutores que vivem da desgraça alheia – sejam médicos ou advogados – é expressamente proibido falar em providências que lhes retire o poder de barganha.
Doenças evitáveis como a dengue estão para certos médicos como as liminares absurdas estão para certos advogados e magistrados. Todo mundo sabe que não têm razão de ser, mas sabe, igualmente, que essa é, paradoxalmente, a razão de ser de muitos ambiciosos profissionais nos seus respectivos campos de trabalho.
E por que não se pode falar em ações preventivas? Por conta do ambiente infeccioso que envolve os organismos de decisão. Você pode dizer cobras e lagartos do governo revolucionário de Cuba, principalmente se você estiver programado pelo sistema, mas tem de se render ao sucesso do médico de família e da seriedade de suas autoridades, que não fogem á luta e respondem com coragem e abnegação a todo tipo de ataque, inclusive no campo da saúde.
Ou você não sabe que Cuba foi cenário de uma suspeitíssima invasão desses mosquitos? Lá o bicho pegou com tal violência em 1981, ao ponto de registrar os primeiros casos de febre hemorrágica fora do Sudeste Asiático e do Pacífico Ocidental. Lá, o “sorotipo 2” se manifestou pela primeira vez, com 159 vítimas fatais, número que só não foi maior devido ao envolvimento de todo mundo no combate à epidemia, que afetou 344 mil cubanos.
Hoje, esse mal teve o mesmo destino dos governantes norte-americanos que ao longo de quase meio século tentaram matar Fidel Castro voltar a dominar a ilha do Caribe – isto é entrou para os arquivos da derrota. Não se fala mais em dengue em Cuba, que recorreu a tudo, inclusive a uma fórmula preventiva desenvolvida pelo homeopata brasileiro Renan Marino, de São José de Rio Preto.
No reino das farmácias
Mas cá entre nós, é preciso ter onde gastar os bilhões de reais destinados às rubricas de saúde, hoje as mais gordas do orçamento federal.
Qualquer esforço para acabar com a festa dos grandes laboratórios, da rede privada e dos planos de saúde esbarra num lobbie poderoso, com mais de 150 deputados federais e muito dinheiro em caixa. Graças a essa inércia, a esse complô lucrativo, o Brasil tem hoje mais de 53 mil farmácias, contra 42 mil padarias, o que revela a quantas chegamos na selvageria da caça ao lucro fácil.
Hoje, estou convencido de que há uma aliança virtual entre as corporações e os interesses privados, em função desse negócio da China que é transformar o Ministério da Saúde e as respectivas secretarias no Ministério das Doenças e Secretarias das Doenças.
Se há uma coisa que assusta o ser humano é o medo de ficar doente. Logo, o que se fizer nesse ramo dá samba. A paranóia e a desinformação são tão fortes que os cidadãos desesperados batem em qualquer porta à cata de uma cura de qualquer coisa que lhe pareça doença. Foi o que aconteceu com as tendas do governo do Estado, destinadas a quem já tinha dengue. As pessoas correram para lá achando que podiam ser medicadas.
Se há um setor totalmente viciado pela infecção política, esse é o da saúde. Compram veículos inadequados para o transporte de equipes e repassam para as Prefeituras como se tivessem ajudando. Estas emburram e não são criativas o suficiente para usar esses veículos em tarefas para as quais servem, como o “fumacê”.
Todos se esmeram em cumprir uma certa agenda para que todos os anos seja possível fazer gastos de emergência, com dispensa de licitação e preços superfaturados. É da natureza da septicemia a que me refiro. O Estado corrupto é gerado por essa doença própria de um sistema em que ri melhor quem ri com grana.
Se não for a dengue, tem de aparecer outra doença apetitosa. Você já ouviu falar na gripe aviária, que virou epidemia pela mídia entre manipulada e despreparada? Sabe quanto o governo brasileiro gastou em 2007 só na compra do Tamiflu, o remédio contra a gripe que não piou por aqui? Nada menos de R$ 180 milhões, sem falar nos gastos passados.
E sabe quem é o grande interessado na venda desse produto? Nada menos do que o ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfield, o homem que ganhou fortunas com a invasão do Iraque.
Como eu disse no começo da nossa conversa, essa infecção se manifesta em todos os poderes – no Executivo, Legislativo e Judiciário. Como estou com algum tempo, tenho pesquisado sobre os desvios de conduta em todas as áreas e começo a perder a esperança. Quanto mais blindado é o poder, mais forte é a contaminação dessa infecção moral.
Matéria que ainda dará muitos panos para as mangas neste espaço.
coluna@pedroporfirio.com
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