terça-feira, 4 de março de 2008

Um drama social que vi com meus próprios olhos



Na noite da sexta-feira passada atravessei a ponte e subi a serra para descer em Araruama,onde fui assistir à formação da primeira turma do Sudeste de alunos da Escola de Líderes da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura.
Eram 30 alunos, que passaram por três módulos. Num deles, em Vila Velha, no Espírito Santo, fui um dos expositores falando da história do movimento camponês, ao qual estive ligado nos meus vinte anos.
Havia entre os formandos, desde jovens imberbes até homens de cabelos brancos, como eu. Eram pessoas cuja preocupação central passava pela inexistência de uma política consistente de reforma agrária.
De um modo geral, os últimos governos têm administrado pressões. Mas em nenhum momento, ao contrário do que aconteceu no governo João Goulart e no regime militar, que criou o Estatuto da Terra, os governos neoliberais, inclusive o do Partido dos Trabalhadores, adotaram uma estratégia de reforma agrária. Estão mais voltados para o agro-negócio, de olho nas exportações de soja e outros produtos que pesam na balança comercial.
É isso que qualquer cidadão da classe média precisa considerar, antes de criminalizar os movimentos sociais. Eles recorrem a todo tipo de ação para forçar o governo a reverter esse quadro perigoso, que concentra hoje 92% da população brasileira nas cidades, com os problemas que isso acarreta.
Vê se você está entendendo: o cidadão só deixa sua terra na aventura do desconhecido por falta de estímulo e meios de sobrevivência na lavoura. A atividade rural está cada vez mais concentrada em grandes fazendas mecanizadas e na criação de gado de corte.
Estou muito à vontade para falar, porque meu pai, que perdi aos 7 anos de idade, era fazendeiro. No Ceará, com todos as adversidades conhecidas, é verdade. Mas era dono de muitas terras. Pelo que me contam, era um homem muito rude, mas justo e humano. Pode ser que isto esteja no meu DNA.
Foi exatamente pela diferença de futuros que me vi tocado pelo sofrimento dos camponeses. Meus irmãos mais velhos se formaram na década de 30, em faculdades fora do Estado, porque nessa época ainda não se ensinava Medicina e Engenharia no Ceará.
Nós, do segundo casamento, tivemos oportunidades. E aqueles filhos de Deus com quem eu ia caçar passarinho e pescar no açude? Estavam condenados ao analfabetismo e a um tipo de vida escrava. Lembro bem que os camponeses, durante a semana, almoçavam apenas feijão, farinha e uma rapadura.
É certo isso? O que eu vi no curso, que foi organizado por uma confederação “moderada”, me fez remontar minha infância. Falei aos formandos e insisti: é preciso que o conhecimento chegue aos mais distantes rincões. É preciso que a gente das cidades, e não só os governos, olhe com carinho os nossos homens do campo. São eles que, bem ou mal, produzem os nossos alimentos.
coluna@pedroporfirio.com




















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