quinta-feira, 6 de março de 2008

Os interesses da droga à sombra da ação no Equador


Eleito deputado por Medelin em 1982, com o apoio de Uribe e muito dinheiro usado na construção de casas para vítimas de uma enchente, o megatraficante PABLO ESCOBAR posa com seu filho Juan Pablo diante da Casa Branca, em 1982

Em 1991, graças ao empenho do então senador Álvaro uribe, a nova Constituição foi promulgada com o artigo que proíbe a extradição de colombianos, conforme acordo com o narconatráfico.


Documento do Serviço de Inteligência do Ministério da Defesa dos EUA, de 1991, aponta ligações íntimas de Álvaro Uribe com o Cartel de Medelin, comandado pelo megatraficante Pablo Escobar
MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 7.03.2008
“Álvaro Uribe Vélez - um político e senador colombiano se dedicou à colaboração com o cartel de Medellin em níveis elevados de governo. Ele foi ligado a um negócio envolvido em atividades do narcotráfico nos Estados Unidos, trabalhou para o cartel de Medellin e é um amigo pessoal próximo de Pablo Escobar Gaviria”.
Relatório da U.S. Defense Intelligence Agency, de 1991 (Página 82 ), transcrito por Joseph Contreras e Steven Ambrus na edição de 9 de agosto de 2004 da revista norte-americana Newsweek .
Permita que eu meta minha colher nessa sopa de letrinhas que envolve meio mundo na fronteira colombiana. Espero que possa oferecer algumas informações colhidas nas mais diversas fontes, inclusive o intelligence report from U.S. Defense Intelligence Agency (DIA) officials in Colombia, de 1991, cujo teor é hoje conhecido e, por sinal, muito atual.
E se passei noites inteiras na busca de explicações mais plausíveis para a crise que levou o Exército colombiano a invadir território do Equador, é porque, infelizmente, estamos nos habituando cada vez mais às informações empacotadas por fontes que têm interesses nos eventos.
Por que o presidente Álvaro Uribe Velez, outrora tido como uma peça da máquina de Pablo Emílio Escobar Gavíria, o temido chefe do Cartel de Medelín, resolveu chutar o pau da barraca e criar um fato novo, capaz de baixar a bola do presidente Chávez e até do confuso presidente francês, Nicolas Sarkozi, que, envolto em mal entendidos amorosos, se disse disposto a ir buscar na selva a senadora franco-colombiana Ingrid Bettancourt, refém das FARC há seis anos?
Por que correu atrás logo do guerrilheiro que bancava a possibilidade de um acordo de paz entre os seus 20 mil companheiros de luta armada? Por que suas tropas foram pegar os inimigos em outro país, executando-os dormindo, numa operação que só não pegou mal para o amigo George W. Bush?
Não precisa ser partidário disso, nem daquilo. Não precisa ver os fatos com olhares de paixão. Qualquer meninote sabe que estava aberto um caminho para ações humanitárias, capaz de salvar dezenas de vidas entre mais de 700 reféns que o super armado Exército colombiano não consegue resgatar.
Desespero de causa
O problema não é só a obsessão do terceiro mandato presidencial que esse ex-vereador e ex-prefeito de Medelín viu ameaçada, ao perder inteiramente o controle das iniciativas e, pior, ao ver frustradas suas tentativas de “melar” os resgates de 6 compatriotas através da Venezuela.
Se você está ligado nos fatos e tem uma razoável memória há de lembrar que Chávez começou suas articulações de comum acordo com Uribe, com quem se reuniu mais de uma vez. Deve lembrar que, num determinado momento, o enigmático governante colombiano dispensou os serviços do colega, alegando que ele estabelecera uma linha direta com seus chefes militares.
Deve lembrar que a opinião pública internacional, motivada pela mãe da senadora, estava na torcida organizada pela libertação desses reféns, independente do que isso pudesse representar em algum tipo de concessão. Afinal, quem mantém cativa tanta gente, apesar de todos os bombardeios com os nossos xavantes vendidos como ajuda do presidente Lula ao governo de Uribe, da militarização da área, da abundância de dólares “made in USA” não iria abrir mão de reféns só pelos belos olhos do mulato venezuelano.
Goste ou não da guerrilha colombiana, haverá de entender que ela não se mantém ativa por 43 anos só porque tem drogas para trocar por armas. Ela sobrevive e sobrevirá sempre com 20 mil homens em armas porque, no fundo, compõe um manipulado mosaico do interesse daqueles que, em outras partes desse país de 40 milhões de habitantes, precisam ficar à vontade para continuar movimentando um negócio internacion al de U$ 500 nilhões, graças às transações com maior mercado consumidor do mundo, a terra de Malboro.
Ou você não sabe que, embora tenha apenas pouco mais de 4% da população mundial , os Estados Unidos respondem pelo consumo de 25% do consumo de drogas, conforme disse um dia, num lamento deprimente, o ex-presidente Bill Clinton?
Sociedade anônima

Duvido que você saiba do que vou lhe dizer agora: a produção da cocaína é resultado de um acordo envolvendo “empresários” da Colômbia e dos Estados Unidos. Sabe por que eu digo isso?
Anota aí u ma aula de química da pesada: como lembrou um dia o ex-presidente Andrés Pastrana Arango, para produzir a cocaína, não bastam as folhas de coca. "É preciso fazer a pasta com a adição de permanganato de potássio, um produto importado diretamente dos EUA e da Europa", usando muitas vezes documentação esquentada e destinatários laranjas, preferindo para tais cargas, distribuídas em pacotes de menos de 5 quilos, navios de bandeira chinesa.
O permanganato de potássio representa 10% da droga. Para cada quilo desse produto importado, tem-se dez de cloridato de cocaína. E sabe quem foi seu o maior importador desde o tempo em que Uribe ainda era o prefeito abençoado por Pablo Escobar? Segundo Donnie R. Marshall, chefe DEA – a agência anti-drogas dos EUA, os navios apreendidos pela Aduana da Califórnia em 2001,eram destinados a uma empresa chamada GMP Productos Quimicos, SA (BPF Produtos Químicos), de Medelín, cujo titular atende pelo nome de Pedro Juan Moreno Villa, o gerente de campanha presidencial e ex-secretário de Uribe, quando ele era governador do Estado de Antióquia entre 1995 e 1997.
Bem, para saber de tudo nos mínimos detalhes, entre outras fontes, dê uma passada no blog da combativa paranaense Nédier Brusamolin Müller (http://meunomeenedier.blogspot.com/2008/03/entenda-o-que-est-por-trs-de-colmbia-x.html).
Será que você captou minha mensagem? Ao governo de Uribe não interessa a paz. As FARC serão sempre as forças do mal que alimentam o esquemão montado com os empresários e milicianos de lá.
Enquanto elas existirem, os contribuintes norte-americanos estarão mandando dólares em bilhões para o “combate ao narco-tráfico” na Colômbia, país que recebe uma polpuda “ajuda dos EUA” ( algo em torno de 8 bilhões,segundo Argemiro Ferreira) e onde a grana rola de bolso em bolso de um grupo da pesada.
Numa crise social como jamais viveu, a Colômbia de Uribe cumpre muito bem o papel de cabeça de ponte dos interesses norte-americanos, bastante isolados no Continente: Uribe foi o único presidente sul-americano que apoiou a invasão do Iraque.
Como conseguiu em 1994 induzir o seu Congresso a mudar a Constituição de 1991 para ser reeleito (usando os mesmos expedientes de FHC), ele já trabalha pelo terceiro mandato, sem pensar em referendo: basta a mão amiga dos EUA, a desinformação e a manipulação da informação por uma mídia que vai de mal a pior.
O verdadeiro alvo
Como escreveu Cláudio Tognolli, um dos mais respeitados jornalistas investigativos do país, nessa sopa de letrinhas colombiana, há também uma outra batata assando.
Em sua análise dos acontecimentos, ele dá uma boa dica para um melhor entendimento dessa operação desastrado por ordem do ex-pupilo de Pablo Escobar:
“Os EUA têm na Colômbia de Uribe seu único porto seguro na América do Sul. Ver o aliado enfraquecido não é bom. Um acordo de paz com as Farc também não é bom. Retira dos EUA sua desculpa para permanecer na Colômbia...
A crise política entre as nações é uma mão na roda para os EUA. Provoca instabilidade, torna Uribe ainda mais dependente dos americanos e é desculpa para reforçar sua presença no continente.
O alvo principal dos americanos é a Venezuela. Os americanos não dão a mínima para a coca da Colômbia. Dependendo do desenrolar da crise, os americanos podem achar o que procuravam há muito para eliminar Chávez”.
Para mim, no entanto, não foi essa a razão que levou o ambicioso presidente colombiano a chutar o pau da barraca. Há mais de quatro séculos, os negócios das exportações de cocaína, que somam anualmente mais de 10% do PIB colombiano e envolvem como sócios, como demonstrei, “empresários” do principal país consumidor, se desenvolvem por entre meandros sinuosos e envoltos em uma cartola mágica que transforma bandidos em mocinhos.
Num estudo profundo a respeito da apreensão de cargas do produto em portos norte-americanos, o especialista Al Giordano, do “Narco News”, enfatizou:“quem controla o permanganato de potássio no mercado colombiano - um produto que deve ser importado a partir de continentes distantes - verdadeiramente controla o tráfego mundial de cocaína processada”.
Insisto, portanto, na minha própria conclusão sobre a sopa de letrinhas colombiana. É preciso manter o ambiente de "entrega do ouro ao bandido" , o que não é nada original.
Assim como no Brasil se descobriu ligações entre contraventores e o narcotráfico, na Colômbia as milícias – ou paramilitares que corporificam os grupos de extermínio da “direita” - não passam de exércitos auxiliares do narcotráfico e são sabidamente mantidos com a exportação da cocaína colombiana.
Não foi por acaso que Álvaro Uribe Vélez bancou o artigo 35 da nova Constituição colombiana. Promulgada em 1991, a Constituição estabeleceu claramente: “não procederá a extradição quando se trate de fatos cometidos com anterioridade à promulgação da presente norma”.
Dois anos depois, numa autêntica queima de arquivo, o policiais colombianos executaram Pablo Escobar, o traficante que se fez deputado em 1982 pelo Estado de Antioquia na legenda do Partido Liberal de Uribe, com a fama de benfeitor de Medelim, onde o então prefeito deu seu nome à vila de 500 casas que o traficante construiu para vítimas de uma enchente e para catadores de papel.
Para entender os últimos acontecimentos que provocaram a justa indignação do presidente do Equador é preciso, portanto, acessar os subterrâneos de um mundo que continua dando as cartas, enquanto seus amigos no poder concentram suas ações num confronto com as FARC de que, paradoxalmente, também não podem prescindir.
coluna@pedroporfirio.com
EM TEMPO: Este texto é bem maior do que a coluna da TRIBUNA devido ao limite de espaço no jornal (6 mil caracteres).

Um comentário:

Anônimo disse...

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