MINHA COLUNA NO POVO DO RIO DE 28 DE JULHO DE 2008
Essa história de combate às milícias é uma meia verdade. Por enquanto, pelo que pude ver, parece mais uma briga pessoal em relação ao vereador Jerominho e ao irmão, o deputado Natalino. Não que eles não tenham nada com o pato. Sem essa.
Mas, francamente, como dizia o mestre Brizola, e os outros? E os que fazem acordos com certas “milícias” menores? E os que fazem dobradinhas com os prefeitáveis da situação? Esses podem?
No meio dessa promiscuidade, tem um tira que recebeu apoio de “milicianos” em algumas favelas. Na eleição de deputado, ele já havia fechado dobradinha com o “Marcão”, misto de “miliciano” e vigarista tão cheio de si que passou meio mundo para trás no Canal do Anil, onde comandou uma invasão e vendeu o mesmo terreno a uma porção de brasileiros de boa fé.
O “Marcão”, que contava com o apoio da governadora Rosinha, foi em cana depois das eleições, conseguiu sair e tomou um chá de sumiço. Mas lá no Gardênia mesmo, o Girão abriu espaço para o policial candidato, embora fosse concorrente. Ali, aliás, só o ele tinha o consentimento explícito para subir suas placas com o “Marcão”.
Vou logo dizer mais, porque já estou cansado de farsas. Essa história de mandar polícia e fiscal do TRE acompanhar candidatos é uma maldade das brabas.
Aquela mocinha do PT apareceu bem na mídia com sua escolta dupla – da polícia e da televisão. Ela deu seus santinhos num lugar que mal conhecia e depois foi embora, como não podia deixar de ser.
Só que quem ficou lá depois teve de se explicar “porque aceitou o santinho da alemã”. O terror dos criminosos fatura porque, independente de ser obra de traficante, tem muito sentido o povo começar a dar um chega prá lá nesses candidatos endinheirados que só sobem o morro na época da campanha eleitoral.
Ganhando ou perdendo, viram as costas. Aliás, por ironia da história, até mesmo os emergentes dessas comunidades, das milícias ou de amizade com a “rapaziada”, uma vez mandatários acabam mandando os vizinhos às favas.
Eu disse vizinho? Exagerei. Os chefes das “milícias”, como os cabeças do tráfico e a maioria dos pastores, não moram nos barracos, não passam o sufoco do esgoto a céu aberto, essas situações todas que muitos dos meus leitores não têm a menor idéia.
Por isso, não foi difícil para certo vereador se tornar figura rara na comunidade que lhe deu a maior votação concentrada já obtida por um candidato. Deu, exagerei também. Até eu, que sou eu, achei melhor trocar meu título, porque votava exatamente num CIEP dentro da boca do lobo.
Honestamente, não é certo ficar passando a impressão de que o governo do Estado está firme e forte nas paradas contra a milícia e os currais eleitorais. Não é mesmo. Não vou dar nome aos bois, mais do que já dei, porque não sou leão. Mas ficar fustigando só um parece briga pessoal de colegas desafetos.
coluna@pedroporfirio.com
segunda-feira, 28 de julho de 2008
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Uma reflexão oportuna sobre a greve dos Correios
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 24 DE JULHO DE 2008
Agora que os trabalhadores dos Correios estão voltando ao trabalho, após uma greve de 21 dias que afetou a vida de todos os brasileiros (e até de quem mora em outros países) cabe uma avaliação de todos nós, que pagamos o pato sem ter nada com isso.
Em primeiro lugar, é preciso deixar claro: o trabalhador não paralisa suas atividades por mera disposição de criar embaraços. Antes, pelo contrário, os carteiros, em particular, eram os mais incomodados com o movimento que a que foram compelidos mais uma vez, devido a uma prática muito comum no governo do Sr. Luiz Inácio, ironicamente um político que emergiu fazendo greves.
Tem sido uma perniciosa prática rotineira, mais do que a intransigência, algo impensável num governo do Partido dos Trabalhadores, o não cumprimento de acordos firmados anteriormente. Ou, quando não, a assinatura de acordos que permitem dupla interpretação.
No caso dos Correios, trava-se uma antiga batalha de interpretação da Lei que garante adicional de periculosidade para algumas categorias. Num primeiro momento, a empresa estatal, considerada uma das mais eficientes do mundo no ramo exatamente pelo desempenho dos seus empregados, chegou a pagar essa gratificação.
Depois, numa interpretação unilateral, decidiu suspender e “pagar para ver”, com a contratação de funcionários terceirizados, sem nenhuma aptidão, o que acarretou prejuízos para a população e ainda vai dar muita dor de cabeça.
E por que a greve se prolongou por tanto tempo? O secretário geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares, José Gonçalves, pôs o dedo na ferida com muita propriedade:
“O governo demorou a entrar na negociação. Talvez não tivesse sido necessário tanto tempo” – disse com toda razão.
E por que o governo demorou a entrar na negociação? Parece claro que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, está sendo limitado em suas atribuições. É certo que se tratava de uma greve numa empresa subordinada ao Ministério das Comunicações. Mas este exerceria o papel patronal, com o dever de preservar o enfoque da empresa.
Já o Ministério do Trabalho, historicamente, desde os tempos gloriosos de João Goulart, que assumiu em meio a uma greve de portuários (de estatal) e conseguiu o entendimento, teria que ter bancado a intermediação do conflito desde o conhecimento da intenção dos funcionários.
Pelo que conheço do ministro Carlos Lupi, se entrasse em campo com sua reconhecida habilidade, talvez não tivéssemos chegado a esses transtornos, que custaram o atraso de 150 milhões de cartas, muitas com boletos de cobranças, que vão acabar acarretando problemas para os cidadãos.
Resta saber o que está por trás desse contingenciamento da função do ministro do Trabalho, mas uma coisa é certa: os burocratas do PT nunca engoliram a perda desse Ministério para outro partido.
Em primeiro lugar, é preciso deixar claro: o trabalhador não paralisa suas atividades por mera disposição de criar embaraços. Antes, pelo contrário, os carteiros, em particular, eram os mais incomodados com o movimento que a que foram compelidos mais uma vez, devido a uma prática muito comum no governo do Sr. Luiz Inácio, ironicamente um político que emergiu fazendo greves.
Tem sido uma perniciosa prática rotineira, mais do que a intransigência, algo impensável num governo do Partido dos Trabalhadores, o não cumprimento de acordos firmados anteriormente. Ou, quando não, a assinatura de acordos que permitem dupla interpretação.
No caso dos Correios, trava-se uma antiga batalha de interpretação da Lei que garante adicional de periculosidade para algumas categorias. Num primeiro momento, a empresa estatal, considerada uma das mais eficientes do mundo no ramo exatamente pelo desempenho dos seus empregados, chegou a pagar essa gratificação.
Depois, numa interpretação unilateral, decidiu suspender e “pagar para ver”, com a contratação de funcionários terceirizados, sem nenhuma aptidão, o que acarretou prejuízos para a população e ainda vai dar muita dor de cabeça.
E por que a greve se prolongou por tanto tempo? O secretário geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares, José Gonçalves, pôs o dedo na ferida com muita propriedade:
“O governo demorou a entrar na negociação. Talvez não tivesse sido necessário tanto tempo” – disse com toda razão.
E por que o governo demorou a entrar na negociação? Parece claro que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, está sendo limitado em suas atribuições. É certo que se tratava de uma greve numa empresa subordinada ao Ministério das Comunicações. Mas este exerceria o papel patronal, com o dever de preservar o enfoque da empresa.
Já o Ministério do Trabalho, historicamente, desde os tempos gloriosos de João Goulart, que assumiu em meio a uma greve de portuários (de estatal) e conseguiu o entendimento, teria que ter bancado a intermediação do conflito desde o conhecimento da intenção dos funcionários.
Pelo que conheço do ministro Carlos Lupi, se entrasse em campo com sua reconhecida habilidade, talvez não tivéssemos chegado a esses transtornos, que custaram o atraso de 150 milhões de cartas, muitas com boletos de cobranças, que vão acabar acarretando problemas para os cidadãos.
Resta saber o que está por trás desse contingenciamento da função do ministro do Trabalho, mas uma coisa é certa: os burocratas do PT nunca engoliram a perda desse Ministério para outro partido.
Com a renacionalização da Aerolínas, Cristina dá uma lição em Lula
MINHA COLUNA DO JORNAL POVO DO RIO DE 23 DE JULHO DE 2008
A notícia de que a presidente Cristina Kirschner renacionalizou a Aerolíneas Argentinas é altamente significativa para todos os brasileiros. Mostra que lá o governo tem o mínimo de sensibilidade e patriotismo, ao contrário do que aconteceu por aqui, quando o Sr. Luiz Inácio abandonou a Varig à própria sorte, deixando submergir a mais importante companhia aérea da América Latina, que foi transferida através de “laranjas” para um fundo norte-americano de investimentos, graças à desenvoltura do advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente.
As primeiras informações de Buenos Aires indicam que Cristina, que teve peito para enfrentar os donos da terra que preferem plantar para exportar a fornecer alimentos baratos a seu povo, tomou essa atitude corajosa para preservar os 9 mil empregos da Aerolíneas, por coincidência, o mesmo plantel que fazia a Varig levar a bandeira do Brasil a quatro continentes.
Cristina Kirchner e o grupo Marsans designarão auditores que deverão, nos próximos dois meses, determinar o valor de compra da Aerolíneas Argentinas, cuja situação financeira e operacional é crítica.
A companhia, que tem 9 mil funcionários, está atrasando o pagamento de salários e acumula uma dívida de US$ 890 milhões. Mais da metade de sua frota também não está em condições de vôo.
Nos últimos meses, passageiros vinham se queixando de atraso nos vôos da companhia. Os sindicatos pediram uma intervenção nas Aerolíneas Argentinas.
Há dez dias, o Estado argentino anunciou que desembolsaria US$ 50 milhões não apenas para o pagamento de salários, mas também para comprar peças para alguns aviões avariados.
A crise na empresa, que estava em mãos estrangeiras desde 1990 e chegou a ser administrada pela American Airlines, serve também para desmascarar a falácia das privatizações.
Como aconteceu aqui com a VASP, que saiu das mãos do governo de São Paulo para o grupo Canhedo a preço de banana, a transferência da companhia aérea para os sabichões do capitalismo foi um tremendo fiasco. A VASP, como você sabe, fechou as portas.
Em geral, quando o governo passa suas empresas para o setor privado, a conversa é sempre a de que nas mãos deste elas vão decolar. No Brasil mesmo, essa conversa tem sido desmentida todos os dias, embora a boca pequena, porque o governo, através do BNDES, socorre as privatizadas em crise, o que também não aconteceu no caso da Varig.
Espero que você entenda que esse assunto interessa a todos os brasileiros, inclusive aos que não usam aviões por falta de grana. Aliás, por falar nisso, com essa crise em nosso país ainda como conseqüência do sucateamento da Varig, as empresas estão tornando as passagens mais salgadas e afastando milhares de brasileiros desse meio de transporte tão importante.
Fica o registro como homenagem aos bravos aeronautas e aeroviários das companhias brasileiras, vítimas dos compromissos entreguistas do governo Lula.
coluna@pedroporfirio.com
As primeiras informações de Buenos Aires indicam que Cristina, que teve peito para enfrentar os donos da terra que preferem plantar para exportar a fornecer alimentos baratos a seu povo, tomou essa atitude corajosa para preservar os 9 mil empregos da Aerolíneas, por coincidência, o mesmo plantel que fazia a Varig levar a bandeira do Brasil a quatro continentes.
Cristina Kirchner e o grupo Marsans designarão auditores que deverão, nos próximos dois meses, determinar o valor de compra da Aerolíneas Argentinas, cuja situação financeira e operacional é crítica.
A companhia, que tem 9 mil funcionários, está atrasando o pagamento de salários e acumula uma dívida de US$ 890 milhões. Mais da metade de sua frota também não está em condições de vôo.
Nos últimos meses, passageiros vinham se queixando de atraso nos vôos da companhia. Os sindicatos pediram uma intervenção nas Aerolíneas Argentinas.
Há dez dias, o Estado argentino anunciou que desembolsaria US$ 50 milhões não apenas para o pagamento de salários, mas também para comprar peças para alguns aviões avariados.
A crise na empresa, que estava em mãos estrangeiras desde 1990 e chegou a ser administrada pela American Airlines, serve também para desmascarar a falácia das privatizações.
Como aconteceu aqui com a VASP, que saiu das mãos do governo de São Paulo para o grupo Canhedo a preço de banana, a transferência da companhia aérea para os sabichões do capitalismo foi um tremendo fiasco. A VASP, como você sabe, fechou as portas.
Em geral, quando o governo passa suas empresas para o setor privado, a conversa é sempre a de que nas mãos deste elas vão decolar. No Brasil mesmo, essa conversa tem sido desmentida todos os dias, embora a boca pequena, porque o governo, através do BNDES, socorre as privatizadas em crise, o que também não aconteceu no caso da Varig.
Espero que você entenda que esse assunto interessa a todos os brasileiros, inclusive aos que não usam aviões por falta de grana. Aliás, por falar nisso, com essa crise em nosso país ainda como conseqüência do sucateamento da Varig, as empresas estão tornando as passagens mais salgadas e afastando milhares de brasileiros desse meio de transporte tão importante.
Fica o registro como homenagem aos bravos aeronautas e aeroviários das companhias brasileiras, vítimas dos compromissos entreguistas do governo Lula.
coluna@pedroporfirio.com
Duas ou três palavras sobre os cidadãos e as eleições
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 22 DE JULHO DE 2008
Parece claro que as eleições municipais deste ano terão como principal novidade a rejeição de velhos referenciais políticos e a emergência de outros, independente de destes serem consistentes ou não.
E m geral, os pleitos nas cidades são marcados por um baixo índice de politização e exigências pontuais, que realçam relacionamentos pessoais em prejuízo do talento e da vocação dos candidatos.
Num ambiente cada vez mais despolitizado, com a influência de um baixíssimo nível de informação, os eleitores tendem a virar as costas para os problemas centrais e a nivelarem os políticos num mesmo patamar degradado.
A idéia de que todos os candidatos aparecem com o único objetivo de tirarem proveito dos seus mandatos leva os cidadãos a uma postura nada seletiva. Na verdade, o que se vê é isso mesmo, porque a mídia só salienta o lado negativo da vida pública, lado, aliás, cada vez mais dominante.
O voto deixa de ser uma escolha criteriosa, com base em avaliações distanciadas para se tornar expressão de pequenos interesses locais e até pessoais.
É possível que a grande massa de eleitores continue subestimando a força do seu voto como ferramenta de grande alcance político e social.
Isto porque o processo de alienação vem sendo construído através dos anos, com o agravante de que na própria batalha da sobrevivência as pessoas estão cada vez mais descrentes das ações coletivas.
A idéia generalizada é de que cada um tem de resolver seus problemas e conquistar individualmente seus direitos e seus espaços, sob o domínio de uma ideologia que fomenta a competição entre todos e cada um. Nessa busca pessoal, vale tudo, inclusive recorrer a pequenos desvios de conduta, numa de que, como é inútil brigar pelo certo, trata-se de recorrer à esperteza e à astúcia.
A manipulação da sociedade é hoje tão brutal que já não se fala em diferenças de classe. Antes, até na mesma família, entre colegas de trabalho e parceiros há uma guerra surda alimentada por uma convivência de desconfianças e de hipocrisias.
Essa mentalidade repercute na intervenção das pessoas nos processos políticos. Como a população pouca espera dos seus candidatos, também amesquinha suas querências e chega ao ponto de reclamar do voto obrigatório, de onde o transforma numa peça de troca de retorno baixo e imediato.
No entanto, a exacerbação dos sentimentos menores pode produzir efeitos contrários novos, segundo a fórmula aritmética de que menos com menos dá mais.
É sobre essas complexas possibilidades que pretendo me referir nesses dias.
coluna@pedroporfirio.com
Parece claro que as eleições municipais deste ano terão como principal novidade a rejeição de velhos referenciais políticos e a emergência de outros, independente de destes serem consistentes ou não.
E m geral, os pleitos nas cidades são marcados por um baixo índice de politização e exigências pontuais, que realçam relacionamentos pessoais em prejuízo do talento e da vocação dos candidatos.
Num ambiente cada vez mais despolitizado, com a influência de um baixíssimo nível de informação, os eleitores tendem a virar as costas para os problemas centrais e a nivelarem os políticos num mesmo patamar degradado.
A idéia de que todos os candidatos aparecem com o único objetivo de tirarem proveito dos seus mandatos leva os cidadãos a uma postura nada seletiva. Na verdade, o que se vê é isso mesmo, porque a mídia só salienta o lado negativo da vida pública, lado, aliás, cada vez mais dominante.
O voto deixa de ser uma escolha criteriosa, com base em avaliações distanciadas para se tornar expressão de pequenos interesses locais e até pessoais.
É possível que a grande massa de eleitores continue subestimando a força do seu voto como ferramenta de grande alcance político e social.
Isto porque o processo de alienação vem sendo construído através dos anos, com o agravante de que na própria batalha da sobrevivência as pessoas estão cada vez mais descrentes das ações coletivas.
A idéia generalizada é de que cada um tem de resolver seus problemas e conquistar individualmente seus direitos e seus espaços, sob o domínio de uma ideologia que fomenta a competição entre todos e cada um. Nessa busca pessoal, vale tudo, inclusive recorrer a pequenos desvios de conduta, numa de que, como é inútil brigar pelo certo, trata-se de recorrer à esperteza e à astúcia.
A manipulação da sociedade é hoje tão brutal que já não se fala em diferenças de classe. Antes, até na mesma família, entre colegas de trabalho e parceiros há uma guerra surda alimentada por uma convivência de desconfianças e de hipocrisias.
Essa mentalidade repercute na intervenção das pessoas nos processos políticos. Como a população pouca espera dos seus candidatos, também amesquinha suas querências e chega ao ponto de reclamar do voto obrigatório, de onde o transforma numa peça de troca de retorno baixo e imediato.
No entanto, a exacerbação dos sentimentos menores pode produzir efeitos contrários novos, segundo a fórmula aritmética de que menos com menos dá mais.
É sobre essas complexas possibilidades que pretendo me referir nesses dias.
coluna@pedroporfirio.com
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Complô contra aposentados e pensionistas
COLUNA DO JORNAL POVO DO RIO DE 15 DE JULHO DE 2008
Aposentados na pior (I)
Se os aposentados não abrirem o olho, se não se mexerem, se não puserem a boca no trombone e, sobretudo, se não descobrirem a força do seu voto nessas eleições, não tardará o dia em que serão tragados pelo sistema que nivelará todos por baixo e servirá aposentadorias e pensões como verdadeiras migalhas.O alvo agora são as pensionistas pagas pelo INSS. Há estudos do governo sobre a possibilidade de reduzir as pensões e até extingui-las em várias situações: desde quando elas já tiverem acesso à própria aposentadoria até quando não tiverem filhos dependentes. Fala-se também em criar uma idade mínima para a viúva (ou viúvo) ter direito à pensão.O sistema adotado atualmente de reajustes dos aposentados é marcado pela injustiça. Aumenta-se quem ganha o mínimo num percentual e quem ganha mais, noutro. Com isso, quem se aposentou com 5 salários mínimos em 2000 já está ganhando menos de dois.Além disso, quem ganha mais de R$ 1900,00 ainda é obrigado a descontar 11%, algo absolutamente injusto, porque a filosofia dos descontos previdenciários é a de suprir um fundo com retorno futuro. No caso, o aposentado nunca mais verá a cor desse dinheiro descontado.O senador Paulo Paim conseguiu aprovar um projeto no Senado com dois pontos básicos. Equiparou os reajustes e acabou com o chamado fator previdenciário, um cálculo que já nos deixa no prejuízo na hora da aposentadoria. No entanto, por pressão do governo e com o apoio da mídia, o projeto foi engavetado na Câmara e só será votado depois das eleições. Aí, você já viu: será inevitavelmente derrubado.O que agrava ainda mais essa situação é o aumento dos gastos dos mais velhos, que é maior do que a média.Aqui vale a pena observar os números: O Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i), que mede a inflação entre a população idosa, subiu 2,65% no segundo trimestre deste ano, uma aceleração em relação à alta de 1,37% apurada no primeiro trimestre de 2008, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com a instituição, esta foi a maior taxa trimestral desde março de 2003, quando o índice teve alta de 5,28%.A inflação do segundo trimestre sentida pelos idosos também foi superior à apresentada pelo Índice de Preços ao Consumidor - Brasil (IPC-BR), que mede a inflação no varejo em todas as faixas etárias, e ficou em 2,38% no mesmo período.O IPC-3i representa o cenário de preços em famílias com pelo menos 50% dos indivíduos com 60 anos ou mais de idade, e renda mensal entre 1 e 33 salários mínimos (de R$ 415 a R$ 13.695).Segundo a FGV, nos últimos 12 meses até o segundo trimestre de 2008, o índice da terceira idade registrou alta de 6,36%, enquanto a taxa do IPC-BR apresentou elevação de 5,96%. No ano até junho, o IPC-3i acumula alta de 4,05%, resultado superior ao apurado em igual período pelo IPC-BR, de 3,84%.Voltarei ao assunto.
COLUNA DO POVO DO RIO DE 16 DE JULHO DE 2008
Aposentados na pior (II)
Como observei ontem, a política do governo está nivelando os aposentados e pensionistas por baixo.Os que percebem mais do que o salário mínimo tiveram, nos últimos 10 anos, reajustes inferiores à metade do que foi concedido a quem ganha um salário mínimo, segundo a reportagem de Rodrigo Gallo, do Jornal da Tarde de São Paulo. (Os números mostram que está havendo um acelerado processo de pauperização da faixa intermediária de aposentados e pensionistas.Não se trata, a rigor, de situação nova - mas os prejuízos aumentaram no governo Lula. Até a estabilidade monetária, em 1994, os benefícios do INSS eram achatados pelo mecanismo de correção: as aposentadorias eram corrigidas uma vez por ano, e o reajuste não acompanhava a inflação.Nos seis anos compreendidos entre 1997 e 2002, os reajustes dos que percebiam um salário mínimo foram iguais aos dos que percebiam mais do que isso em três anos (1997, 1999 e 2002) e diferentes nos outros três anos (1998, 2000 e 2001). Naqueles seis anos, a diferença entre o aumento do salário mínimo (corrigido em 78,5%) e das aposentadorias de valor superior ao mínimo (46,9%) foi de 31,6%. A situação se agravou entre 2003 e 2007: nesses cinco anos, os porcentuais foram, respectivamente, de 90% e de 44,3%, com uma diferença de 45,6%.Acumuladas por longo período, essas distorções provocaram um achatamento do poder de compra nas faixas média e superior dos beneficiários do INSS. O exemplo da dona de casa Vera Cardoso Coimbra, 86 anos, pensionista do INSS, mostra bem essa situação: “Quando meu marido morreu, em 1985, eu ganhava oito salários mínimos de pensão. Com o tempo o valor foi caindo e, hoje, ganho cerca de dois salários (menos de R$ 800,00). Nós, aposentados e pensionistas, temos muitos gastos com medicamento e saúde, e o benefício quase nunca é suficiente para pagar todos esses custos”.O governo tenta justificar esta situação com argumentos duvidosos. Um deles é o de que o salário mínimo é baixo em comparação ao de outros países. Isso não é novidade, principalmente para mais os mais velhos, que viveram no período Juscelino/Jango, quando o mínimno chegou a 600 dólares. Em compensação, a classe média também ganhava bem e podia contribuir para receber até 20 salários mínimos na aposentadoria.Um segundo argumento é que os gastos previdenciários no País são muito elevados e o INSS não suportaria o ônus da equiparação dos reajustes dos benefícios de quem ganha um salário mínimo aos de quem ganha mais que isso.Mas o fato é que se governo age melhora a vida do pessoal de menor renda, pune aqueles que mais contribuições fizeram ao INSS. E, em muitos casos, recolheram contribuições destinadas a financiar uma aposentadoria correspondente a 20 salários mínimos. O teto do benefício foi depois reduzido a 10 salários mínimos e hoje está limitado a R$ 2.801,82 (apenas 7,3 salários mínimos).Voltarei ao assunto
Aposentados na pior (I)
Se os aposentados não abrirem o olho, se não se mexerem, se não puserem a boca no trombone e, sobretudo, se não descobrirem a força do seu voto nessas eleições, não tardará o dia em que serão tragados pelo sistema que nivelará todos por baixo e servirá aposentadorias e pensões como verdadeiras migalhas.O alvo agora são as pensionistas pagas pelo INSS. Há estudos do governo sobre a possibilidade de reduzir as pensões e até extingui-las em várias situações: desde quando elas já tiverem acesso à própria aposentadoria até quando não tiverem filhos dependentes. Fala-se também em criar uma idade mínima para a viúva (ou viúvo) ter direito à pensão.O sistema adotado atualmente de reajustes dos aposentados é marcado pela injustiça. Aumenta-se quem ganha o mínimo num percentual e quem ganha mais, noutro. Com isso, quem se aposentou com 5 salários mínimos em 2000 já está ganhando menos de dois.Além disso, quem ganha mais de R$ 1900,00 ainda é obrigado a descontar 11%, algo absolutamente injusto, porque a filosofia dos descontos previdenciários é a de suprir um fundo com retorno futuro. No caso, o aposentado nunca mais verá a cor desse dinheiro descontado.O senador Paulo Paim conseguiu aprovar um projeto no Senado com dois pontos básicos. Equiparou os reajustes e acabou com o chamado fator previdenciário, um cálculo que já nos deixa no prejuízo na hora da aposentadoria. No entanto, por pressão do governo e com o apoio da mídia, o projeto foi engavetado na Câmara e só será votado depois das eleições. Aí, você já viu: será inevitavelmente derrubado.O que agrava ainda mais essa situação é o aumento dos gastos dos mais velhos, que é maior do que a média.Aqui vale a pena observar os números: O Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i), que mede a inflação entre a população idosa, subiu 2,65% no segundo trimestre deste ano, uma aceleração em relação à alta de 1,37% apurada no primeiro trimestre de 2008, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com a instituição, esta foi a maior taxa trimestral desde março de 2003, quando o índice teve alta de 5,28%.A inflação do segundo trimestre sentida pelos idosos também foi superior à apresentada pelo Índice de Preços ao Consumidor - Brasil (IPC-BR), que mede a inflação no varejo em todas as faixas etárias, e ficou em 2,38% no mesmo período.O IPC-3i representa o cenário de preços em famílias com pelo menos 50% dos indivíduos com 60 anos ou mais de idade, e renda mensal entre 1 e 33 salários mínimos (de R$ 415 a R$ 13.695).Segundo a FGV, nos últimos 12 meses até o segundo trimestre de 2008, o índice da terceira idade registrou alta de 6,36%, enquanto a taxa do IPC-BR apresentou elevação de 5,96%. No ano até junho, o IPC-3i acumula alta de 4,05%, resultado superior ao apurado em igual período pelo IPC-BR, de 3,84%.Voltarei ao assunto.
COLUNA DO POVO DO RIO DE 16 DE JULHO DE 2008
Aposentados na pior (II)
Como observei ontem, a política do governo está nivelando os aposentados e pensionistas por baixo.Os que percebem mais do que o salário mínimo tiveram, nos últimos 10 anos, reajustes inferiores à metade do que foi concedido a quem ganha um salário mínimo, segundo a reportagem de Rodrigo Gallo, do Jornal da Tarde de São Paulo. (Os números mostram que está havendo um acelerado processo de pauperização da faixa intermediária de aposentados e pensionistas.Não se trata, a rigor, de situação nova - mas os prejuízos aumentaram no governo Lula. Até a estabilidade monetária, em 1994, os benefícios do INSS eram achatados pelo mecanismo de correção: as aposentadorias eram corrigidas uma vez por ano, e o reajuste não acompanhava a inflação.Nos seis anos compreendidos entre 1997 e 2002, os reajustes dos que percebiam um salário mínimo foram iguais aos dos que percebiam mais do que isso em três anos (1997, 1999 e 2002) e diferentes nos outros três anos (1998, 2000 e 2001). Naqueles seis anos, a diferença entre o aumento do salário mínimo (corrigido em 78,5%) e das aposentadorias de valor superior ao mínimo (46,9%) foi de 31,6%. A situação se agravou entre 2003 e 2007: nesses cinco anos, os porcentuais foram, respectivamente, de 90% e de 44,3%, com uma diferença de 45,6%.Acumuladas por longo período, essas distorções provocaram um achatamento do poder de compra nas faixas média e superior dos beneficiários do INSS. O exemplo da dona de casa Vera Cardoso Coimbra, 86 anos, pensionista do INSS, mostra bem essa situação: “Quando meu marido morreu, em 1985, eu ganhava oito salários mínimos de pensão. Com o tempo o valor foi caindo e, hoje, ganho cerca de dois salários (menos de R$ 800,00). Nós, aposentados e pensionistas, temos muitos gastos com medicamento e saúde, e o benefício quase nunca é suficiente para pagar todos esses custos”.O governo tenta justificar esta situação com argumentos duvidosos. Um deles é o de que o salário mínimo é baixo em comparação ao de outros países. Isso não é novidade, principalmente para mais os mais velhos, que viveram no período Juscelino/Jango, quando o mínimno chegou a 600 dólares. Em compensação, a classe média também ganhava bem e podia contribuir para receber até 20 salários mínimos na aposentadoria.Um segundo argumento é que os gastos previdenciários no País são muito elevados e o INSS não suportaria o ônus da equiparação dos reajustes dos benefícios de quem ganha um salário mínimo aos de quem ganha mais que isso.Mas o fato é que se governo age melhora a vida do pessoal de menor renda, pune aqueles que mais contribuições fizeram ao INSS. E, em muitos casos, recolheram contribuições destinadas a financiar uma aposentadoria correspondente a 20 salários mínimos. O teto do benefício foi depois reduzido a 10 salários mínimos e hoje está limitado a R$ 2.801,82 (apenas 7,3 salários mínimos).Voltarei ao assunto
terça-feira, 8 de julho de 2008
Justiça? Onde? Com a palavra um homem de bem
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 9 DE JULHO DE 2008
Transcrevo hoje uma reflexão assinada pelo médico Leví Inimá de Miranda, coronel da reserva e perito legista aposentado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Homem de bem, militar íntegro e corajoso, suas palavras refletem um sentimento que está cada vez mais enraizado em nosso povo:
“O que dá pra rir dá pra chorar
Questão só de peso e medida
Problema de hora e lugar
Mas tudo são coisas da vida”
(“Canto Chorado” - Billy Blanco)
O sábado, 28.06.2008, foi tristemente marcante para duas famílias. De um lado, a morte de um jovem de 18 anos de idade; do outro, a morte de um menino de 6 anos de idade. Duas vidas interrompidas à bala.
O que há em comum entre as duas famílias? A dor sentida pelas mães é a mesma e ambos foram assassinados por Agentes do Estado; e nos dois casos sequer foi realizada Perícia de Local de Crime. Num, o Agente do Estado desempenhava função de “segurança” do filho “VIP” de uma promotora de justiça, que curtia a noite por boates da zona sul; no outro, o Agente do Estado participava de uma incursão policial numa favela do subúrbio carioca, ao tempo em que a criança encontrava-se sentada à porta de casa.
E o que há de incomum? Apenas a condição social, a qual não se cogita nas duas famílias, em meio suas dores, mas que é determinante para a sociedade, em geral, e para o Estado, em particular. Todavia, há um importante detalhe: o crime que enredou a morte de Daniel Duque foi protagonizado por um policial militar, à disposição do Ministério Público, pela Coordenadoria de Segurança e Inteligência, prestando segurança à promotora e ao filho desta, que, em meio aos seus despreparo e inconseqüência, atirou à curta distância, numa área letal do corpo da vítima, por motivação fútil, de forma insidiosa e não lhe permitindo defesa.
Revoltam-nos, a todos que nos sentimos justos, as mortes de Daniel Duque Pittiman e de Rafael Fernandes. Mas a visibilidade dada aos dois casos difere substancialmente, porquanto um morava em Ipanema e o outro morava na favela do Muquiço, em Guadalupe. Não sejamos hipócritas, pois bem sabemos que numa sociedade desigual, desumana e estratificada socialmente, é assim que as coisas caminham. Mas não deveria sê-lo, com relação à Justiça; e ai também se inclui a polícia judiciária. Ora, os delegados de polícias das duas circunscrições onde se deram os crimes não compareceram aos Locais de Crime, deixando de cumprir o que bem prescreve o Art. 6° do Código de Processo Penal, e tampouco deram providências às realizações de Reprodução Simulada de Local de Morte, em cumprimento ao estabelecido no Art. 7° do mesmo diploma legal. O delegado Rafael Menezes – o mesmo que, segundo depoimento do soldado PM Marcos Parreira do Carmo, telefonou para este, no dia do crime, avisando-o de que o jovem havia morrido – ainda foi mais além em sua desídia, quando textualmente sentenciou: “(..)Não cabe à polícia saber se o tiro foi em legítima defesa ou não. A Justiça é que pode dizer isso(..)”. Necessário se faz saber que tipo de formações esse delegado recebeu na Faculdade de Direito, onde se bacharelou, e na ACADEPOL, onde foi aluno do Curso de Formação de Delegados de Polícia. E mesmo diante desse aviltamento à Lei Processual Penal, a Corregedoria de Polícia Civil, a Corregedoria Unificada, o Chefe de Polícia Civil e o Secretário de Estado de Segurança Pública sequer se manifestaram, ou qualquer providência tomaram, diante de tamanhos absurdos. E o que é inacreditável ao tempo que inominável: nem o Ministério Público o fez, como representante do povo, como fiscal da Lei, como fiscal do inquérito e como fiscal das ações de polícia. As autoridades públicas constituídas sequer “lavaram as mãos”; apenas deram de ombros e viraram as costas!
“A polícia do Rio de Janeiro, por exemplo, recebe de volta do Judiciário 92% dos inquéritos de homicídio por estarem malfeitos” (Zaluar, 2004). E é justamente por isso que só 2% dos homicídios têm autoria definida.
Consultando artigo escrito pela jornalista Fátima Souza, autora do livro “PCC – A Facção”, pela Editora Record, vemos que ela esclarece que tal discriminação social não é atinente só à polícia, mas também se estende à mídia. E cita (palavras textuais): “Um dia, fui fazer uma matéria sobre um menino assassinado. Meu chefe perguntou: ‘é filho de quem?’. De um pedreiro e de uma doméstica. Não saiu. Outro dia, o filho de um médico foi seqüestrado – aí teve helicóptero de todas as emissoras”. E prossegue: “As matérias privilegiam o rico – e não estou dizendo que não tem que noticiar o filho do rico. Estou dizendo que não se deve diferenciar”.
Têmis, a deusa grega da Justiça, era representada como uma divindade de olhar austero, seus olhos ainda não eram vendados e segurava uma balança em uma das mãos, o que, até hoje simboliza o equilíbrio entre as partes envolvidas em uma relação de Direito; e, na outra mão, uma espada, que caracteriza o poder exercido pela Justiça. A imagem da Têmis, como conhecemos hoje, passou a ter a venda nos olhos por criação de artistas alemães do século XVI, simbolizando, desta forma, a imparcialidade. Isso significa dizer que a Têmis, por ser a própria exteriorização da Justiça, não vê diferenças entre as partes em litígio, sejam ricos ou pobres, poderosos ou humildes, grandes ou pequenos. Suas decisões, justas e prudentes, não são fundamentadas na personalidade, nas qualidades das pessoas ou, ainda, no seu poder, mas apenas, na sabedoria das leis. A estátua de Themis, à frente do prédio do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, ainda tem a venda nos olhos, mas está sentada e não mais empunha a espada, que se encontra repousada “nas coxas”.
No Brasil há crimes, criminosos e vítimas diferenciados, em razão da condição sócio-econômica. Porém, nossa polícia é sempre a mesma: desinteressada, falha e omissa, independente de qualquer consideração outra.
Bem disse o senhor Paulo Roberto, pai do menino Rafael Fernandes: “(..)às vezes, Deus se esquece de gente pobre(..)”.
De tristeza em tristeza e de sofreguidão em sofreguidão, a população, em geral, vê-se desprezada e tangida para o mar de incompetência de nossa política de segurança pública.
Dr. Leví Inimá de Miranda – CEL MED REF (EB)
Perito Legista aposentado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro
Transcrevo hoje uma reflexão assinada pelo médico Leví Inimá de Miranda, coronel da reserva e perito legista aposentado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Homem de bem, militar íntegro e corajoso, suas palavras refletem um sentimento que está cada vez mais enraizado em nosso povo:
“O que dá pra rir dá pra chorar
Questão só de peso e medida
Problema de hora e lugar
Mas tudo são coisas da vida”
(“Canto Chorado” - Billy Blanco)
O sábado, 28.06.2008, foi tristemente marcante para duas famílias. De um lado, a morte de um jovem de 18 anos de idade; do outro, a morte de um menino de 6 anos de idade. Duas vidas interrompidas à bala.
O que há em comum entre as duas famílias? A dor sentida pelas mães é a mesma e ambos foram assassinados por Agentes do Estado; e nos dois casos sequer foi realizada Perícia de Local de Crime. Num, o Agente do Estado desempenhava função de “segurança” do filho “VIP” de uma promotora de justiça, que curtia a noite por boates da zona sul; no outro, o Agente do Estado participava de uma incursão policial numa favela do subúrbio carioca, ao tempo em que a criança encontrava-se sentada à porta de casa.
E o que há de incomum? Apenas a condição social, a qual não se cogita nas duas famílias, em meio suas dores, mas que é determinante para a sociedade, em geral, e para o Estado, em particular. Todavia, há um importante detalhe: o crime que enredou a morte de Daniel Duque foi protagonizado por um policial militar, à disposição do Ministério Público, pela Coordenadoria de Segurança e Inteligência, prestando segurança à promotora e ao filho desta, que, em meio aos seus despreparo e inconseqüência, atirou à curta distância, numa área letal do corpo da vítima, por motivação fútil, de forma insidiosa e não lhe permitindo defesa.
Revoltam-nos, a todos que nos sentimos justos, as mortes de Daniel Duque Pittiman e de Rafael Fernandes. Mas a visibilidade dada aos dois casos difere substancialmente, porquanto um morava em Ipanema e o outro morava na favela do Muquiço, em Guadalupe. Não sejamos hipócritas, pois bem sabemos que numa sociedade desigual, desumana e estratificada socialmente, é assim que as coisas caminham. Mas não deveria sê-lo, com relação à Justiça; e ai também se inclui a polícia judiciária. Ora, os delegados de polícias das duas circunscrições onde se deram os crimes não compareceram aos Locais de Crime, deixando de cumprir o que bem prescreve o Art. 6° do Código de Processo Penal, e tampouco deram providências às realizações de Reprodução Simulada de Local de Morte, em cumprimento ao estabelecido no Art. 7° do mesmo diploma legal. O delegado Rafael Menezes – o mesmo que, segundo depoimento do soldado PM Marcos Parreira do Carmo, telefonou para este, no dia do crime, avisando-o de que o jovem havia morrido – ainda foi mais além em sua desídia, quando textualmente sentenciou: “(..)Não cabe à polícia saber se o tiro foi em legítima defesa ou não. A Justiça é que pode dizer isso(..)”. Necessário se faz saber que tipo de formações esse delegado recebeu na Faculdade de Direito, onde se bacharelou, e na ACADEPOL, onde foi aluno do Curso de Formação de Delegados de Polícia. E mesmo diante desse aviltamento à Lei Processual Penal, a Corregedoria de Polícia Civil, a Corregedoria Unificada, o Chefe de Polícia Civil e o Secretário de Estado de Segurança Pública sequer se manifestaram, ou qualquer providência tomaram, diante de tamanhos absurdos. E o que é inacreditável ao tempo que inominável: nem o Ministério Público o fez, como representante do povo, como fiscal da Lei, como fiscal do inquérito e como fiscal das ações de polícia. As autoridades públicas constituídas sequer “lavaram as mãos”; apenas deram de ombros e viraram as costas!
“A polícia do Rio de Janeiro, por exemplo, recebe de volta do Judiciário 92% dos inquéritos de homicídio por estarem malfeitos” (Zaluar, 2004). E é justamente por isso que só 2% dos homicídios têm autoria definida.
Consultando artigo escrito pela jornalista Fátima Souza, autora do livro “PCC – A Facção”, pela Editora Record, vemos que ela esclarece que tal discriminação social não é atinente só à polícia, mas também se estende à mídia. E cita (palavras textuais): “Um dia, fui fazer uma matéria sobre um menino assassinado. Meu chefe perguntou: ‘é filho de quem?’. De um pedreiro e de uma doméstica. Não saiu. Outro dia, o filho de um médico foi seqüestrado – aí teve helicóptero de todas as emissoras”. E prossegue: “As matérias privilegiam o rico – e não estou dizendo que não tem que noticiar o filho do rico. Estou dizendo que não se deve diferenciar”.
Têmis, a deusa grega da Justiça, era representada como uma divindade de olhar austero, seus olhos ainda não eram vendados e segurava uma balança em uma das mãos, o que, até hoje simboliza o equilíbrio entre as partes envolvidas em uma relação de Direito; e, na outra mão, uma espada, que caracteriza o poder exercido pela Justiça. A imagem da Têmis, como conhecemos hoje, passou a ter a venda nos olhos por criação de artistas alemães do século XVI, simbolizando, desta forma, a imparcialidade. Isso significa dizer que a Têmis, por ser a própria exteriorização da Justiça, não vê diferenças entre as partes em litígio, sejam ricos ou pobres, poderosos ou humildes, grandes ou pequenos. Suas decisões, justas e prudentes, não são fundamentadas na personalidade, nas qualidades das pessoas ou, ainda, no seu poder, mas apenas, na sabedoria das leis. A estátua de Themis, à frente do prédio do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, ainda tem a venda nos olhos, mas está sentada e não mais empunha a espada, que se encontra repousada “nas coxas”.
No Brasil há crimes, criminosos e vítimas diferenciados, em razão da condição sócio-econômica. Porém, nossa polícia é sempre a mesma: desinteressada, falha e omissa, independente de qualquer consideração outra.
Bem disse o senhor Paulo Roberto, pai do menino Rafael Fernandes: “(..)às vezes, Deus se esquece de gente pobre(..)”.
De tristeza em tristeza e de sofreguidão em sofreguidão, a população, em geral, vê-se desprezada e tangida para o mar de incompetência de nossa política de segurança pública.
Dr. Leví Inimá de Miranda – CEL MED REF (EB)
Perito Legista aposentado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Varig nas portas da Justiça: A hora é essa!
As manifestações de rua, com grande apoio da população, têm sido importantíssimas para a reabertura das discussões da situação da Varig e de seus funcionários e aposentados. São as armas mais eficazes na cobrança do respeito aos direitos de cada um.
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 8 DE JULHO DE 2007
Nesta quarta-feira, todos assaltados no processo da Varig/Aerus têm um encontro ao meio dia para ir bater às portas da Justiça e lembrar que estão vivos. Que querem o respeito a seus direitos, dos quais jamais abrirão mão.
Não me surpreenderá se nesta quarta-feira o azul e branco do mais admirado plantel de nossa aviação comercial vier a colorir todos os acessos do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
As associações de profissionais da Varig estão convocando uma manifestação para fazer chegar aos magistrados seu descontentamento, cada dia mais dramático, sobre os rumos do de uma novela que jamais poderia encenado capítulos tão perversos.
O encontro está marcado para o meio dia no prédio das associações de comissários e pilotos, na Avenida Franklin Roosevelt, 84. De lá, os profissionais demitidos e aposentados seguirão até o Fórum, percorrendo cinco quadras em pleno horário de almoço.
O grupo realizou duas comoventes caminhadas em junho pela orla da Zona Sul, ganhando aplausos dos cidadãos por onde passava. Essa repercussão trouxe o caso de volta para a imprensa, agora com maior espaço nos grandes jornais e na própria televisão.
Houve uma lúcida compreensão por parte das vítimas do mais horripilante processo de desrespeito aos direitos trabalhistas e dos aposentados de que ainda há amplas condições para reverter as medidas adotadas conjuntamente pelo governo, sob influência do advogado Roberto Teixeira, insólito compadre do presidente, e pelo juiz Ayub, da 1ª Vara Empresarial, que lidava pela primeira vez com a nova lei de “recuperação das empresas”, um monstro que solapa os direitos dos trabalhadores.
Com a aplicação dessa lei, aconteceu um grande paradoxo: a empresa não teve sua falência decretada, mas, para isso, ganhou o aval da Justiça para abandonar à própria sorte todos os demitidos, que não receberam um centavo de indenização, nem mesmo os meses trabalhados em atraso, com reflexos fatais sobre o fundo de pensão, que, sob intervenção, esgotou suas obrigações, sem que nada se fizesse para garantir o retorno de quem contribuiu ao longo da vida para ter uma complementação em sua aposentadoria.
Na prática, desde que o caso passou para a 1ª Vara Empresarial, o destino da companhia aérea mais antiga e mais respeitada do país foi determinado no âmbito da Justiça. Ali, realizaram-se dois leilões: o que foi ganho pelos próprios empregados, através do TGV – Trabalhadores do Grupo Varig – não foi homologado.
Já o segundo, ironicamente realizado em 2006, no dia em que se celebrava o nascimento do “pai da aviação”, que teve um único lance, praticamente simbólico, oferecido por “laranjas” de um fundo abutre norte-americano – o Matlin Patterson – foi prontamente homologado.
Com as revelações das manipulações direcionadas feitas agora e o reconhecimento dos males provocados pelo “negócio da China” que fez do Sr. Lap Chan o todo poderoso personagem dos nossos céus, a volta dos prejudicados às ruas se tornou uma questão de vida ou morte.
Daí a redobrada importância da presença maciça de todos os prejudicados na manifestação deste 9 de julho.
coluna@pedroporfirio.com
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 8 DE JULHO DE 2007
Nesta quarta-feira, todos assaltados no processo da Varig/Aerus têm um encontro ao meio dia para ir bater às portas da Justiça e lembrar que estão vivos. Que querem o respeito a seus direitos, dos quais jamais abrirão mão.
Não me surpreenderá se nesta quarta-feira o azul e branco do mais admirado plantel de nossa aviação comercial vier a colorir todos os acessos do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
As associações de profissionais da Varig estão convocando uma manifestação para fazer chegar aos magistrados seu descontentamento, cada dia mais dramático, sobre os rumos do de uma novela que jamais poderia encenado capítulos tão perversos.
O encontro está marcado para o meio dia no prédio das associações de comissários e pilotos, na Avenida Franklin Roosevelt, 84. De lá, os profissionais demitidos e aposentados seguirão até o Fórum, percorrendo cinco quadras em pleno horário de almoço.
O grupo realizou duas comoventes caminhadas em junho pela orla da Zona Sul, ganhando aplausos dos cidadãos por onde passava. Essa repercussão trouxe o caso de volta para a imprensa, agora com maior espaço nos grandes jornais e na própria televisão.
Houve uma lúcida compreensão por parte das vítimas do mais horripilante processo de desrespeito aos direitos trabalhistas e dos aposentados de que ainda há amplas condições para reverter as medidas adotadas conjuntamente pelo governo, sob influência do advogado Roberto Teixeira, insólito compadre do presidente, e pelo juiz Ayub, da 1ª Vara Empresarial, que lidava pela primeira vez com a nova lei de “recuperação das empresas”, um monstro que solapa os direitos dos trabalhadores.
Com a aplicação dessa lei, aconteceu um grande paradoxo: a empresa não teve sua falência decretada, mas, para isso, ganhou o aval da Justiça para abandonar à própria sorte todos os demitidos, que não receberam um centavo de indenização, nem mesmo os meses trabalhados em atraso, com reflexos fatais sobre o fundo de pensão, que, sob intervenção, esgotou suas obrigações, sem que nada se fizesse para garantir o retorno de quem contribuiu ao longo da vida para ter uma complementação em sua aposentadoria.
Na prática, desde que o caso passou para a 1ª Vara Empresarial, o destino da companhia aérea mais antiga e mais respeitada do país foi determinado no âmbito da Justiça. Ali, realizaram-se dois leilões: o que foi ganho pelos próprios empregados, através do TGV – Trabalhadores do Grupo Varig – não foi homologado.
Já o segundo, ironicamente realizado em 2006, no dia em que se celebrava o nascimento do “pai da aviação”, que teve um único lance, praticamente simbólico, oferecido por “laranjas” de um fundo abutre norte-americano – o Matlin Patterson – foi prontamente homologado.
Com as revelações das manipulações direcionadas feitas agora e o reconhecimento dos males provocados pelo “negócio da China” que fez do Sr. Lap Chan o todo poderoso personagem dos nossos céus, a volta dos prejudicados às ruas se tornou uma questão de vida ou morte.
Daí a redobrada importância da presença maciça de todos os prejudicados na manifestação deste 9 de julho.
coluna@pedroporfirio.com
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Varig de novo na praça: vencer é possível
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 25 DE JUNHO DE 2008
O pesoal da VARIG trava a mãe de todas as batalhas trabalhistas. Se o Supremo lavar as mãos e se os mais de 11 mil ROUBADOS NA MÃO GRANDE ficarem em casa à espera de um milagre, estarão desmoronando para todo o sempre TODOS OS DIREITOS SOCIAIS dos trabalhadores brasileiros e iniciado o processo de total descrédito de TODOS OS FUNDOS DE APOSENTADORIA COMPLEMENTAR.
Os funcionários demitidos (e não indenizados) e aposentados da Varig marcaram uma nova manifestação de rua para o próximo domingo, quando se encontrarão na praça Nossa Senhora da Paz e seguirão por algumas ruas da orla.
Com essa nova caminhada, os organizadores esperam ganhar uma adesão ainda maior em relação à última do dia 15, tendo em vista a sucessão de acontecimentos que dizem respeito diretamente a todos, inclusive, de forma mais preocupante, o desdobramento do processo de “recuperação da empresa”, cujo prazo está por terminar.
Mas não isso só. Os advogados do TGV – Trabalhadores do Grupo Varig – conseguiram uma importante vitória, com a decisão do Supremo Tribunal Federal de admitir se manifestar no conflito de competência sobre as reclamações trabalhistas dos empregados que não receberam um único centavo ao serem demitidos.
Enquanto a Justiça do Trabalho reconhecia seus direitos elementares, os sucessores da Varig recorriam ao STJ, que optava invariavelmente pelo desconhecimento desses direitos, ao entender que todas as pendências relativas à Varig eram da jurisdição do juiz da Vara Empresarial.
Há ainda outros fatos, apesar do recuo dos senadores oposicionistas em relação à instalação de uma CPI:
1. O CADE – Conselho de Defesa Econômica – voltará a apreciar a compra da “nova Varig” pela Gol, enquanto esta entrou numa corte internacional pedindo de volta metade do que pagou por ter descoberto que caiu no conto da superaviação.
2. A ANAC está adotando medidas em relação ao controle acionário da Variglog, desmascarado com a briga entre os “laranjas” brasileiros e o fundo abutre dos EUA. O que acontecer numa empresa, vai repercutir na outra.
3. O processo sobre defasagem tarifária, de onde poderá sair a grana para reativar a empresa e, sobretudo, pagar ao fundo de pensão Aerus, está andando, ainda que a passos lentos, produzidos pelas manobras protelatórios do governo.
4. O desconforto do presidente Luiz Inácio aumenta com as sucessivas revelações sobre o envolvimento do seu compadre Roberto Teixeira em manobras direcionadas para favorecer o fundo estrangeiro, sabendo-se que desde que ele foi contratado por 5 milhões de dólares esteve seis vezes com Lula – e não foi para falar do Corinthians.
Diante disso, é hora de todos mostrarem suas caras, escreveram às seções de cartas dos leitores, mandarem e-mails para todo mundo, enfim, não existe uma oportunidade mais preciosa do que essa para se obter o resgate de tudo o que foi surrupiado nesses anos.
A manifestação de domingo terá de ser muito maior do que a anterior. Mesmo quem nunca quis participar, mas continua no prejuízo, tem que estar lá na praça Nossa Senhora da Paz. Esse novo protesto poderá ser estratégico dentro de uma luta que só pode acabar com a vitória dos variguianos ativos e inativos.
coluna@pedroporfirio.com
O pesoal da VARIG trava a mãe de todas as batalhas trabalhistas. Se o Supremo lavar as mãos e se os mais de 11 mil ROUBADOS NA MÃO GRANDE ficarem em casa à espera de um milagre, estarão desmoronando para todo o sempre TODOS OS DIREITOS SOCIAIS dos trabalhadores brasileiros e iniciado o processo de total descrédito de TODOS OS FUNDOS DE APOSENTADORIA COMPLEMENTAR.
Os funcionários demitidos (e não indenizados) e aposentados da Varig marcaram uma nova manifestação de rua para o próximo domingo, quando se encontrarão na praça Nossa Senhora da Paz e seguirão por algumas ruas da orla.
Com essa nova caminhada, os organizadores esperam ganhar uma adesão ainda maior em relação à última do dia 15, tendo em vista a sucessão de acontecimentos que dizem respeito diretamente a todos, inclusive, de forma mais preocupante, o desdobramento do processo de “recuperação da empresa”, cujo prazo está por terminar.
Mas não isso só. Os advogados do TGV – Trabalhadores do Grupo Varig – conseguiram uma importante vitória, com a decisão do Supremo Tribunal Federal de admitir se manifestar no conflito de competência sobre as reclamações trabalhistas dos empregados que não receberam um único centavo ao serem demitidos.
Enquanto a Justiça do Trabalho reconhecia seus direitos elementares, os sucessores da Varig recorriam ao STJ, que optava invariavelmente pelo desconhecimento desses direitos, ao entender que todas as pendências relativas à Varig eram da jurisdição do juiz da Vara Empresarial.
Há ainda outros fatos, apesar do recuo dos senadores oposicionistas em relação à instalação de uma CPI:
1. O CADE – Conselho de Defesa Econômica – voltará a apreciar a compra da “nova Varig” pela Gol, enquanto esta entrou numa corte internacional pedindo de volta metade do que pagou por ter descoberto que caiu no conto da superaviação.
2. A ANAC está adotando medidas em relação ao controle acionário da Variglog, desmascarado com a briga entre os “laranjas” brasileiros e o fundo abutre dos EUA. O que acontecer numa empresa, vai repercutir na outra.
3. O processo sobre defasagem tarifária, de onde poderá sair a grana para reativar a empresa e, sobretudo, pagar ao fundo de pensão Aerus, está andando, ainda que a passos lentos, produzidos pelas manobras protelatórios do governo.
4. O desconforto do presidente Luiz Inácio aumenta com as sucessivas revelações sobre o envolvimento do seu compadre Roberto Teixeira em manobras direcionadas para favorecer o fundo estrangeiro, sabendo-se que desde que ele foi contratado por 5 milhões de dólares esteve seis vezes com Lula – e não foi para falar do Corinthians.
Diante disso, é hora de todos mostrarem suas caras, escreveram às seções de cartas dos leitores, mandarem e-mails para todo mundo, enfim, não existe uma oportunidade mais preciosa do que essa para se obter o resgate de tudo o que foi surrupiado nesses anos.
A manifestação de domingo terá de ser muito maior do que a anterior. Mesmo quem nunca quis participar, mas continua no prejuízo, tem que estar lá na praça Nossa Senhora da Paz. Esse novo protesto poderá ser estratégico dentro de uma luta que só pode acabar com a vitória dos variguianos ativos e inativos.
coluna@pedroporfirio.com
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Tributo a Leonel Brizola, com saudade, carinho e afeto
MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 20 DE JUNHO DE 2008
"Serei como um cavalo inglês: só vou morrer na cancha"
Leonel Brizola, aos que sugeriam que ele abandonasse a política depois da derrota eleitoral em 1998.
Ao registrar o transcurso, amanhã, dia 21 de junho, do quarto aniversário da morte de Leonel de Moura Brizola, permito-me uma reflexão serena, que gostaria de dividir com você.
A cada dia que passa aumenta o número de brasileiros que sentem a sua falta e que avaliam com tristeza a escassez de homens de sua têmpera, de sua vocação, do seu despojamento e patriotismo nestes dias em que a vida pública está cada vez mais vilipendiada por interesses e ambições menores, mesquinhas, nocivas, doentias.
Mais doloroso ainda é constatar que o Brasil deixou de tê-lo à frente dos seus destinos, em função de uma deliberação inapelável do sistema internacional, que se valeu de todos os expedientes, os mais sujos, e de todos os meios, os mais influentes, para impedir sua ascensão natural, especialmente no pleito presidencial de 1989.
Abstraindo qualquer paixão pessoal, comprometimento partidário, impulso ideológico, posso dizer, sem medo de errar, que o Brasil estaria muito melhor, mais seguro de si como nação, se naqueles idos em que o sistema fabricou o “caçador de marajás”, Brizola tivesse sido escolhido, em nome de sua história invejável e seu patriotismo inegável.
Ao lembrar os acontecimentos pretéritos, sinto uma angústia a jogar-me na vala da depressão. É difícil entender como tantos e tão imprudentes arautos das novidades recondicionadas tenham se empenhado com tanta persistência em colaborar com esse conluio que mesclou sentimentos de vingança e temor de mudanças reais, que, infelizmente, parecem ter sido esterilizadas para todo o sempre.
Quem ousar livrar-se da bitola da intolerância e tiver a grandeza de abrir a janela para a história verá que nenhum brasileiro acumulou tantos atributos para pôr este país nos eixos de um futuro promissor como esse gaúcho que exerceu o primeiro cargo público com pouco mais de vinte anos e se tornou o único brasileiro a governar dois Estados, pelo voto direto e soberano do povo.
Coragem e visão
De tal profundidade foi sua atuação como protagonista dos mais importantes momentos da vida nacional, que seu nome ainda hoje se destaca na proa das grandes causas do povo brasileiro. Os 82 anos vividos foram tão intensos que, mesmo com o prejuízo de 15 no desterro, nenhum outro homem público somou tantas horas, tantos dias, tantos anos de dedicação obstinada à defesa da soberania nacional e da justiça social, pilares irrenunciáveis da pátria de nossos melhores sonhos.
Essa dedicação ao país hoje ninguém poderá negar de sã consciência. Porque se é verdade que o guerreiro de todas as horas foi antes de tudo um bravo, é igualmente incontestável que foi o governante de maior visão e maior sensibilidade.
Penitenciam-se nestes dias os que não consideraram o que foi a sua maior bandeira – a educação pública de qualidade, capaz de sedimentar uma nação de cidadãos de verdade, sem o que tudo o mais é mentira pífia, forjada pelas elites que insistem na escravidão da pirâmide social intocável.
Desde que foi prefeito de Porto Alegre, eleito com 33 anos de idade, Brizola arregaçou as mangas para levar a luz do conhecimento a todos, assegurando-lhes oportunidades de ascensão jamais imaginada pelos administradores e nunca tolerada pelas elites.
Ao tomar posse, em 1956, Porto Alegre tinha pouco mais de 400 mil habitantes. Num período de dois anos e meio, até desincompatibilizar-se para disputar o governo do Estado, construiu 137 escolas para 35 mil alunos, triplicando as ofertas de vagas no ensino municipal.
Como governador do Rio Grande do Sul, construiu nada menos de 6 mil e 300 escolas,alcançando os lugares mais distantes, inclusive as zonas do Pampa, onde até então não havia um único equipamento educacional público.
No Estado do Rio, que governou duas vezes, revolucionou o ensino com a implantação de 500 CIEPs de tempo integral, uma proposta pioneira no Brasil, de grande alcance social, minada por todos os lados, mas que hoje aparece cinicamente nos manuais dos que investiram contra ele, exatamente porque queria que os pobres tivessem um ensino de base decente, que prescindisse desses gatilhos sob forma de cotas.
Memória agredida
O dramático, ao relembrar o gigante que ainda vive no imaginário de um povo cada dia mais enganado, é constatar que o seu exemplo de dedicação à vida pública não seja observado pelos políticos que hoje, de um lado ou de outro, só tratam de seus interesses privados, de suas vaidades esquizofrênicas, suas ambições insaciáveis, numa sofisticada remontagem de Sodoma e Gomorra, blindada contra a cólera divina.
É como se com o velho inconformista tivessem sepultado os bons propósitos e as boas intenções, o espírito público e a visão missionária da atividade política.
É como se por castigo de Deus o Brasil ficasse à deriva, ao sabor dos mais espertos, mais inescrupulosos, mais afoitos, mais gananciosos, no sortilégio engendrado por fabricantes de ilusões e quimeras, ingredientes indutores da estupidez cultivada, da alienação acrítica e da passividade pusilânime.
Dá pena pensar que um homem de tantas virtudes tenha desaparecido no apagar das luzes de uma sociedade que entrega seu destino a carreiristas fabricados, a mistificadores e manipuladores loquazes de todos os matizes, a canastrões levianos e irresponsáveis, que se valem do marasmo generalizado, da apatia autofágica e do descuido inercial.
Se outra vida há e se desde o infinito distante o legendário sonhador puder contemplar estes dias em sua própria cidadela, terá a amarga sensação de nunca ter sido entendido por muitos dos que se alistaram em sua caravana libertadora.
Porque, como aconteceu com tantos pregadores e desbravadores, sua memória para os mais audaciosos é apenas o mal-cheiroso condimento de perdidas ambições pessoais, peças malditas que miniaturizam seu legado e abrem um perigoso fosso entre o hoje sem coração e o amanhã sem cérebro.
Mesmo assim, como a teimosia me fascina, ainda espero que os ventos uivantes da indignação latente produzam um cataclismo moral e façam ruírem os tentáculos do consentimento tácito, da cumplicidade tacanha, da omissão abjeta, reanimando os cérebros e oxigenando os corações do amável mundo novo porque viveu Leonel de Moura Brizola.
Esse é mais do que o nosso sonho. Tem de ser o nosso compromisso.
coluna@pedroporfirio.com
Executados porque eram pobres e favelados
Enterro dos jovens do Morro da Providência entregues por militares aos traficantes do Morro da Mineira: mais três para a coleção dos milhares jovens, vítimas da banalização das execuções de pobres e favelados, cujas investigações engrossam a lista dos crimes "sem solução".
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 19 DE JUNHO DE 2008
O que aconteceu no Morro da Providência, envolvendo um grupo de homens do Exército, está causando uma grande perplexidade por suas características inusitadas.
O que aconteceu no Morro da Providência, envolvendo um grupo de homens do Exército, está causando uma grande perplexidade por suas características inusitadas.
Não se tem notícia de algo parecido: militares prendem três moradores de uma favela por desacato e, orientados a libertá-los por ordem superior, em represália, decidem soltá-los numa outra comunidade, dominada por bandidos de uma facção rival.
Certamente, a história não é bem essa. E provavelmente, será muito difícil saber o que realmente aconteceu, embora o tenente que comandou o grupo tenha contado essa versão, com a declaração de que não estava arrependido do que fez.
Para entender esse acontecimento brutal, é preciso deixar claro, em primeiro lugar, que essa é uma prática totalmente fora da realidade de uma instituição militar.O Exército não tem sido empregado em tarefas semelhantes a que lhe foi atribuída nesse projeto do Morro da Providência: não há a menor hipótese de que haja clima em todas as Forças Armadas de hoje para um ato tão inexplicável, com requintes da maior irresponsabilidade e da pior selvageria.
Também não é correto investir contra o projeto, que é uma experiência nova e acontecia tranquilamente dentro do objetivo a que se propôs, nada diferente das antigas ACISOS - ações militares de cunha social.
Nada diferente do que acontece rotineiramente na Venezuela de Hugo Chávez, onde as Forças Armadas prestam serviços de toda natureza diretamente às comunidades.
E até mesmo do Haiti, onde tropas brasileiras atuam com sucesso nas áreas pobres e violentas do país.
E até mesmo do Haiti, onde tropas brasileiras atuam com sucesso nas áreas pobres e violentas do país.
Considere-se, igualmente, que a grande maioria dos militares das três armas é formada por cidadãos oriundos das classes de renda menor, inclusive na oficialidade.
Você me perguntará: então, porque 11 soldados do Exército fizeram aquilo?
A resposta está na ponta da língua: infelizmente, neste país, a vida do pobre, do favelado, do morador da periferia não vale um níquel.
Dos milhares de casos sem solução nas prateleiras das delegacias policiais, a quase totalidade envolve a execução de pessoas pobres, vítimas de uma cultura de impunidade quando elas são os alvos.
Entre as famílias dessas comunidades, há sempre um dia de luto por conta da morte violenta de um dos seus filhos. É só conferir. Policiais e bandidos coincidem no mesmo critério: esse tipo de crime não tem castigo.
Tanto que até agora só se falou nos militares que, como já definiram seus superiores, mancharam o uniforme, numa situação insólita: a grande maioria dos moradores do Morro da Providência estava satisfeita com o projeto.
Mas não me consta que a polícia tenha corrido atrás dos bandidos que executaram os três jovens, num nível de perversidade que só surpreende quem não conhece o clima de desesperança imperante entre jovens dessas favelas, para os quais a sina é matar ou morrer.
Só espero que, antes de tentarem "politizar" essa aberração, que não pode deixar ninguém impune, os formadores de opinião sejam honestos o suficiente para ir fundo na questão da banalização do crime contra os pobres. De parte a parte.
coluna@pedroporfirio.com
segunda-feira, 16 de junho de 2008
A esperança que renasce nas ruas
Nas fotos de Paulo Resende momentos emocionantes da manifestação do pessoal da Varig e do seu fundo de pensão Aerus
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 17 DE JUNHO DE 2008
Sinceramente, surpreendeu-me a grande adesão à emocionante manifestação que levou centenas de ex-funcionários da Varig e aposentados do Aerus às ruas de Ipanema e Copacabana, no final da manhã desse domingo.
Afinal, já faz tanto tempo que os aqueles profissionais vêm sendo submetidos a um massacre sistemático, a uma sucessão de frustradas expectativas, a um processo perverso de endividamento e humilhações que é preciso ser muito forte e muito obstinado para se manter numa luta tão desgastante.
No entanto, ficou claro naquele domingo de mormaços que ainda há um punhado de bravos, pessoas confiantes em que ainda é possível reverter o mais covarde, suspeito e inexplicável golpe perpetrado contra a maior, mais completa e mais tradicional companhia aérea brasileira, entregue de mão beijada, sabe Deus como, aos testas de ferro de um fundo abutre dos Estados Unidos.
Ficou claro que esse punhado de bravos não vai se render jamais, até porque, como ficou patente durante a passeata, tem o apoio unânime da opinião pública, especialmente dos cariocas, cuja cidade abrigava o coração da empresa.
A manifestação do domingo, 15 de junho de 2008, afigurou-se como a retomada da longa jornada e reflete, ao mesmo tempo, o renascimento de uma nova esperança.
Hoje em dia, todo mundo já tem conhecimento da manipulação que se escondeu por trás da postura insensível de um governo, no mínimo míope, que tinha tudo para intervir positivamente, ao invés de facilitar o lado do advogado, compadre do presidente, que recebeu 5 milhões de dólares para ?operar? em favor dos piores interesses.
Pode-se dizer que as revelações sobre o complô montado, e que não envolveu apenas o Poder Executivo, mostraram as vísceras mal-cheirosas da trapaça e oferecem o grande diagnóstico para a crise de toda a aviação comercial brasileira, muito mais profunda do que se mostrou nos ?apagões? que tanto transtornos causaram em nossos aeroportos.
O governo sabe hoje onde foi amarrar seu burro. Sabe que está pagando um tremendo mico e, além de ter inviabilizado o sistema aéreo de qualidade e segurança, expôs a sorte de toda a previdência complementar.
Depois que o Aerus deixou milhares de contribuintes a verem navios, numa insolvência precedida de anos de calotes dados pela patrocinadora, hoje ninguém se sente mais tranqüilo.
Ainda há pouco, se não fosse pela disposição firme dos sindicatos dos portuários, outros tantos aposentados estariam padecendo do mesmo ?salve-se quem puder? que tanto sofrimento marca vidas amarguradas de pessoas que prestaram serviços ao país com tanta abnegação.
A manifestação foi o novo grande grito da dignidade do povo brasileiro. Fatalmente ela terá que ecoar nos centros de poder de Brasília e principalmente entre os demais ex-empregados e aposentados, vítimas do mais perverso desrespeito aos elementares direitos trabalhistas, previdenciários e constitucionais.
coluna@pedroporfirio.com
Sinceramente, surpreendeu-me a grande adesão à emocionante manifestação que levou centenas de ex-funcionários da Varig e aposentados do Aerus às ruas de Ipanema e Copacabana, no final da manhã desse domingo.
Afinal, já faz tanto tempo que os aqueles profissionais vêm sendo submetidos a um massacre sistemático, a uma sucessão de frustradas expectativas, a um processo perverso de endividamento e humilhações que é preciso ser muito forte e muito obstinado para se manter numa luta tão desgastante.
No entanto, ficou claro naquele domingo de mormaços que ainda há um punhado de bravos, pessoas confiantes em que ainda é possível reverter o mais covarde, suspeito e inexplicável golpe perpetrado contra a maior, mais completa e mais tradicional companhia aérea brasileira, entregue de mão beijada, sabe Deus como, aos testas de ferro de um fundo abutre dos Estados Unidos.
Ficou claro que esse punhado de bravos não vai se render jamais, até porque, como ficou patente durante a passeata, tem o apoio unânime da opinião pública, especialmente dos cariocas, cuja cidade abrigava o coração da empresa.
A manifestação do domingo, 15 de junho de 2008, afigurou-se como a retomada da longa jornada e reflete, ao mesmo tempo, o renascimento de uma nova esperança.
Hoje em dia, todo mundo já tem conhecimento da manipulação que se escondeu por trás da postura insensível de um governo, no mínimo míope, que tinha tudo para intervir positivamente, ao invés de facilitar o lado do advogado, compadre do presidente, que recebeu 5 milhões de dólares para ?operar? em favor dos piores interesses.
Pode-se dizer que as revelações sobre o complô montado, e que não envolveu apenas o Poder Executivo, mostraram as vísceras mal-cheirosas da trapaça e oferecem o grande diagnóstico para a crise de toda a aviação comercial brasileira, muito mais profunda do que se mostrou nos ?apagões? que tanto transtornos causaram em nossos aeroportos.
O governo sabe hoje onde foi amarrar seu burro. Sabe que está pagando um tremendo mico e, além de ter inviabilizado o sistema aéreo de qualidade e segurança, expôs a sorte de toda a previdência complementar.
Depois que o Aerus deixou milhares de contribuintes a verem navios, numa insolvência precedida de anos de calotes dados pela patrocinadora, hoje ninguém se sente mais tranqüilo.
Ainda há pouco, se não fosse pela disposição firme dos sindicatos dos portuários, outros tantos aposentados estariam padecendo do mesmo ?salve-se quem puder? que tanto sofrimento marca vidas amarguradas de pessoas que prestaram serviços ao país com tanta abnegação.
A manifestação foi o novo grande grito da dignidade do povo brasileiro. Fatalmente ela terá que ecoar nos centros de poder de Brasília e principalmente entre os demais ex-empregados e aposentados, vítimas do mais perverso desrespeito aos elementares direitos trabalhistas, previdenciários e constitucionais.
coluna@pedroporfirio.com
terça-feira, 10 de junho de 2008
Varig: a hora de cair a ficha
O deputado Paulo Ramos, presidente da CPI da ALERJ sobre a Varig, acabou fazendo seu próprio relatório, aprovado em plenário,relatando tudo o que se fala agora. O documento entregue às associações da empresa, entre as quais, a dos Pilotos, representada por Élnio Borges.
MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 11 DE JUNHO DE 2008
Tudo que vem sendo falado agora sobre esse jogo perigoso de interesses que envolveu a transferência da Varig para os prepostos do fundo abutre norte-americano por uma bagatela inacreditável foi objeto de uma CPI na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, na qual o deputado Paulo Ramos fez das tripas coração, solitariamente, para chegar aos verdadeiros interesses que se ocultam por trás da transação.
Infelizmente, seu criterioso trabalho pôde produzir frutos, até porque o trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito, regulado por uma Lei Federal de 1952, foi obstruído por setores da Justiça, que impediram a quebra de sigilo fiscal dos envolvidos. Além disso, o juiz da Vara Empresarial que procedeu o leilão de um único lance, num momento inadequado, também se recusou a prestar esclarecimentos à CPI e o deputado ainda acabou sendo objeto de processo movido pela Associação dos Magistrados.
A verdade nua e crua é que toda essa infeliz manobra do governo, que jamais poderia ter abandonado à própria sorte uma companhia da importância estratégica da Varig, foi um dos atos mais sórdidos da história republicana.
Por isso, o deputado Paulo Ramos tem muita autoridade em se pronunciar sobre esse processo, como o fez da tribuna da Assembléia:
“A Comissão investigou, ouviu muitas pessoas, mas simultaneamente enfrentou dificuldades. E é preciso dizer que, lamentavelmente, a Comissão quebrou o sigilo bancário fiscal e telefônico, que é competência de CPI estadual, dos principais envolvidos – os senhores Marcos Audi, Luiz Gallo, Marcos Haftel, Lap Chan. E aqui eles conseguiram uma liminar no Tribunal de Justiça, impedindo a CPI de aprofundar as investigações.
Registramos também, alguns procedimentos, lamentavelmente duvidosos, da Vara de Recuperação Judicial do Rio de Janeiro”.
“As verdades começaram a surgir porque os quatro, que se organizaram, como laranjas, para a aquisição de todas as parcelas da Varig, VarigLog, a marca Varig, eles se desentenderam. E aí, vêm as verdades. O Marco Antônio Audi diz que contratou o Sr. Roberto Teixeira como advogado por cinco milhões de dólares e diz assim: "Eu não sei o que ele fez. Eu sei que ele tinha amizades grandes no Palácio do Planalto, onde transitava com toda desenvoltura." E, lamentavelmente, acesso com muita intimidade até ao próprio Presidente da República. Cinco milhões! Diz, cinicamente, aqui o Sr. Marco Antônio Audi: "Eu não sei o preço realmente de contratação desse advogado. Foi um preço muito alto, mas ele apresentou resultados." E os resultados, quais foram? A ingerência política, o tráfico de influência, de modo a golpear a Varig, impedindo a sua verdadeira recuperação”.
Só espero que agora o Congresso Nacional deixe cair a ficha e entre de sola. Muita coisa poderá ser revelada ao país e, quem sabe, poderemos obter uma reavaliação de tudo feito até agora em prejuízo da aviação comercial brasileira.
coluna@pedroporfirio.com
Tudo que vem sendo falado agora sobre esse jogo perigoso de interesses que envolveu a transferência da Varig para os prepostos do fundo abutre norte-americano por uma bagatela inacreditável foi objeto de uma CPI na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, na qual o deputado Paulo Ramos fez das tripas coração, solitariamente, para chegar aos verdadeiros interesses que se ocultam por trás da transação.
Infelizmente, seu criterioso trabalho pôde produzir frutos, até porque o trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito, regulado por uma Lei Federal de 1952, foi obstruído por setores da Justiça, que impediram a quebra de sigilo fiscal dos envolvidos. Além disso, o juiz da Vara Empresarial que procedeu o leilão de um único lance, num momento inadequado, também se recusou a prestar esclarecimentos à CPI e o deputado ainda acabou sendo objeto de processo movido pela Associação dos Magistrados.
A verdade nua e crua é que toda essa infeliz manobra do governo, que jamais poderia ter abandonado à própria sorte uma companhia da importância estratégica da Varig, foi um dos atos mais sórdidos da história republicana.
Por isso, o deputado Paulo Ramos tem muita autoridade em se pronunciar sobre esse processo, como o fez da tribuna da Assembléia:
“A Comissão investigou, ouviu muitas pessoas, mas simultaneamente enfrentou dificuldades. E é preciso dizer que, lamentavelmente, a Comissão quebrou o sigilo bancário fiscal e telefônico, que é competência de CPI estadual, dos principais envolvidos – os senhores Marcos Audi, Luiz Gallo, Marcos Haftel, Lap Chan. E aqui eles conseguiram uma liminar no Tribunal de Justiça, impedindo a CPI de aprofundar as investigações.
Registramos também, alguns procedimentos, lamentavelmente duvidosos, da Vara de Recuperação Judicial do Rio de Janeiro”.
“As verdades começaram a surgir porque os quatro, que se organizaram, como laranjas, para a aquisição de todas as parcelas da Varig, VarigLog, a marca Varig, eles se desentenderam. E aí, vêm as verdades. O Marco Antônio Audi diz que contratou o Sr. Roberto Teixeira como advogado por cinco milhões de dólares e diz assim: "Eu não sei o que ele fez. Eu sei que ele tinha amizades grandes no Palácio do Planalto, onde transitava com toda desenvoltura." E, lamentavelmente, acesso com muita intimidade até ao próprio Presidente da República. Cinco milhões! Diz, cinicamente, aqui o Sr. Marco Antônio Audi: "Eu não sei o preço realmente de contratação desse advogado. Foi um preço muito alto, mas ele apresentou resultados." E os resultados, quais foram? A ingerência política, o tráfico de influência, de modo a golpear a Varig, impedindo a sua verdadeira recuperação”.
Só espero que agora o Congresso Nacional deixe cair a ficha e entre de sola. Muita coisa poderá ser revelada ao país e, quem sabe, poderemos obter uma reavaliação de tudo feito até agora em prejuízo da aviação comercial brasileira.
coluna@pedroporfirio.com
Na rua, faça chuva ou faça sol
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 10 DE JUNHO DE 2008
Se algum variguiano ou beneficiário do Aerus me perguntar, não terei dúvida em responder: estão criadas as condições para reverter o quadro perverso e insustentável que levou ao esfacelamento da maior companhia aérea do país, com essa carrada de desastres de repercussão em toda a nossa aviação.
Isso só acontecerá, no entanto, se houver uma reaglutinação de todo o pessoal lesado e de todos os segmentos que estiveram contra as maracutaias que redundaram na escandalosa entrega desse patrimônio brasileiro a um fundo abutre de investimento dos Estados Unidos, através de “laranjas” que não escondiam essa condição.
Essa reaglutinação terá de levar para as ruas de todo o país o grito que está parado no ar. É preciso tomar as praças e exigir o resgate dos direitos surrupiados de todos – funcionários, aposentados, pensionistas e usuários do transporte aéreo.
Ir para a rua não pode ser um esforço hercúleo de meia dúzia de abnegados lutadores de todas as horas. É uma obrigação de todos, inclusive dos que até hoje não mostraram suas caras.
Ao longo das lutas sociais, têm maiores possibilidades de vitórias aqueles que forem mais representativos da categoria. E o pessoal da Varig deve ter aprendido muito nesses últimos anos da mais sórdida humilhação, imposta sobretudo devido à divisão de que se aproveitaram os sanguessugas, sedentos da última gota de sangue da corporação.
As associações profissionais têm clareza quanto a isso. Uma grande mobilização deverá ocorrer em todo o país, com a realização de manifestações onde for possível.
No Rio, há um encontro marcado para o próximo domingo, dia 16, com uma concentração na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, a partir das dez e meia da manhã.
Os organizadores da manifestação estão conclamando a todos a que chamem seus vizinhos, conhecidos: enfim, esse complô contra a Varig, o Aerus e se pessoal diz respeito a todo o povo brasileiro.
“Sairemos para a praia, em Ipanema, e vamos percorrer a Orla até o Arpoador. Do Arpoador vamos pela Francisco Otaviano e pegamos a Avenida Atlântica até o Copacabana Pálace.
Levem cartazes, bandeiras, apitos. Vamos buscar o apoio da população. Isso é muito importante, pois tem muita gente que via e ainda vê os ex-funcionários como "marajás". Claro que isso é um estereótipo que foi criado, pois não é verdadeiro. E, hoje, todos passam por sérias dificuldades e procuram sobreviver aos trancos e barrancos.
Vamos para a avenida falar da nossa dor e exigir o que nos é devido. Não podemos deixar cair no esquecimento.
Vamos arregaçar as mangas e montar cartazes, lembrar que a juíza já iniciou as vistas ao processo da Defasagem Tarifária. Mais uma razão para aumentarmos o barulho, pois um parecer favorável irá resolver o problema do AERUS”.
Eu estarei lá, faça chuva ou faça sol.
Se algum variguiano ou beneficiário do Aerus me perguntar, não terei dúvida em responder: estão criadas as condições para reverter o quadro perverso e insustentável que levou ao esfacelamento da maior companhia aérea do país, com essa carrada de desastres de repercussão em toda a nossa aviação.
Isso só acontecerá, no entanto, se houver uma reaglutinação de todo o pessoal lesado e de todos os segmentos que estiveram contra as maracutaias que redundaram na escandalosa entrega desse patrimônio brasileiro a um fundo abutre de investimento dos Estados Unidos, através de “laranjas” que não escondiam essa condição.
Essa reaglutinação terá de levar para as ruas de todo o país o grito que está parado no ar. É preciso tomar as praças e exigir o resgate dos direitos surrupiados de todos – funcionários, aposentados, pensionistas e usuários do transporte aéreo.
Ir para a rua não pode ser um esforço hercúleo de meia dúzia de abnegados lutadores de todas as horas. É uma obrigação de todos, inclusive dos que até hoje não mostraram suas caras.
Ao longo das lutas sociais, têm maiores possibilidades de vitórias aqueles que forem mais representativos da categoria. E o pessoal da Varig deve ter aprendido muito nesses últimos anos da mais sórdida humilhação, imposta sobretudo devido à divisão de que se aproveitaram os sanguessugas, sedentos da última gota de sangue da corporação.
As associações profissionais têm clareza quanto a isso. Uma grande mobilização deverá ocorrer em todo o país, com a realização de manifestações onde for possível.
No Rio, há um encontro marcado para o próximo domingo, dia 16, com uma concentração na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, a partir das dez e meia da manhã.
Os organizadores da manifestação estão conclamando a todos a que chamem seus vizinhos, conhecidos: enfim, esse complô contra a Varig, o Aerus e se pessoal diz respeito a todo o povo brasileiro.
“Sairemos para a praia, em Ipanema, e vamos percorrer a Orla até o Arpoador. Do Arpoador vamos pela Francisco Otaviano e pegamos a Avenida Atlântica até o Copacabana Pálace.
Levem cartazes, bandeiras, apitos. Vamos buscar o apoio da população. Isso é muito importante, pois tem muita gente que via e ainda vê os ex-funcionários como "marajás". Claro que isso é um estereótipo que foi criado, pois não é verdadeiro. E, hoje, todos passam por sérias dificuldades e procuram sobreviver aos trancos e barrancos.
Vamos para a avenida falar da nossa dor e exigir o que nos é devido. Não podemos deixar cair no esquecimento.
Vamos arregaçar as mangas e montar cartazes, lembrar que a juíza já iniciou as vistas ao processo da Defasagem Tarifária. Mais uma razão para aumentarmos o barulho, pois um parecer favorável irá resolver o problema do AERUS”.
Eu estarei lá, faça chuva ou faça sol.
sábado, 7 de junho de 2008
Devolvam a VARIG aos brasileiros
O leilão de 2006 apenas sacramentou a trama que agora vem à luz do dia: sozinha, a preposta do fundo abutre norte-americano comprou a Varig por US$ 24 milhões, o equivalente a R$ 52,3 milhões. É para o Brasil inteiro chorar.
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 7 DE JUNHO DE 2008
O governo do sr. Luiz Inácio e todos que dele participam, sem exceção, devem ao povo brasileiro mais do que lorotas para tentar explicar a tremenda negociata que se esconde por trás do processo de desestruturação da Varig, desmoralização do fundo Aerus e destruição de milhares de vidas de profissionais da aviação, ativos e inativos, que ficaram a ver navios.
Não tenha dúvida: se o Ministério Público Federal entrar nos subterrâneos da longa agonia que precedeu o leilão da maior e mais respeitada aérea brasileira, logo no dia de Santos Dumont, vão surgir revelações do arco da velha.
Se é verdade que a Varig não andava bem das asas, é igualmente sabido que o governo do PT se esmerou no jogo sujo para transferir o controle da empresa, inclusive entrando com grana do BNDES para que a TAP portuguesa comprasse a Variglog, subsidiária que três meses depois cairia nas mãos do fundo abutre norte-americano pela metade do valor financiado.
Quando a crise da Varig começou a tomar vulto, ali por 2002, os próprios funcionários, através de suas associações e com assessoria técnica de um economista altamente preparado, apresentaram várias soluções, até mesmo a disponibilização das reservas do fundo de pensão, de forma a que todos os problemas poderiam ter sido equacionados sem repercussão negativa no setor e sem nenhum tipo de apropriação do dinheiro público.
O que está sendo revelado agora pela mulher que pulou a cerca e não quer ir para o inferno sozinha era do conhecimento de todo mundo da área. Tanto que muitos empresários andaram namorando a empresa que tinha a mais homogênea corporação e os melhores índices de desempenho, da pontualidade à segurança.
O governo efetivamente jogou pesado porque, no fundo, o que pretende mesmo é adotar a tal política de céu aberto, pela qual os Estados Unidos tramam desde a década de 40, quando seu projeto foi derrotado na Convenção de Chicago.
Mais do que um crime grosseiro de favorecimento, os operadores do governo que trabalharam abertamente contra a sobrevivência digna da Varig cometeram um crime de lesa-pátria, tal a importância que os 80 anos de uma área que pousava em mais de 190 aeroportos domésticos e navega pelos quatro continentes,
Para variar, aparecerão sempre a turma do deixa disso e os que se referirão ao choro pelo leite derramado.
Menos. Esta é a hora certa do resgate da coluna vertebral da nossa aviação. Como já disse, se é importante remover todo o lamaçal que serviu de pista para o grande desastre, é igualmente importante para os brasileiros, entre os quais 8 milhões de titulares de milhagens, que o governo livre-se das amarras menores e conheça o plano de recuperação preparado com competência pelos próprios trabalhadores do grupo Varig.
coluna@pedroporfirio.com
O governo do sr. Luiz Inácio e todos que dele participam, sem exceção, devem ao povo brasileiro mais do que lorotas para tentar explicar a tremenda negociata que se esconde por trás do processo de desestruturação da Varig, desmoralização do fundo Aerus e destruição de milhares de vidas de profissionais da aviação, ativos e inativos, que ficaram a ver navios.
Não tenha dúvida: se o Ministério Público Federal entrar nos subterrâneos da longa agonia que precedeu o leilão da maior e mais respeitada aérea brasileira, logo no dia de Santos Dumont, vão surgir revelações do arco da velha.
Se é verdade que a Varig não andava bem das asas, é igualmente sabido que o governo do PT se esmerou no jogo sujo para transferir o controle da empresa, inclusive entrando com grana do BNDES para que a TAP portuguesa comprasse a Variglog, subsidiária que três meses depois cairia nas mãos do fundo abutre norte-americano pela metade do valor financiado.
Quando a crise da Varig começou a tomar vulto, ali por 2002, os próprios funcionários, através de suas associações e com assessoria técnica de um economista altamente preparado, apresentaram várias soluções, até mesmo a disponibilização das reservas do fundo de pensão, de forma a que todos os problemas poderiam ter sido equacionados sem repercussão negativa no setor e sem nenhum tipo de apropriação do dinheiro público.
O que está sendo revelado agora pela mulher que pulou a cerca e não quer ir para o inferno sozinha era do conhecimento de todo mundo da área. Tanto que muitos empresários andaram namorando a empresa que tinha a mais homogênea corporação e os melhores índices de desempenho, da pontualidade à segurança.
O governo efetivamente jogou pesado porque, no fundo, o que pretende mesmo é adotar a tal política de céu aberto, pela qual os Estados Unidos tramam desde a década de 40, quando seu projeto foi derrotado na Convenção de Chicago.
Mais do que um crime grosseiro de favorecimento, os operadores do governo que trabalharam abertamente contra a sobrevivência digna da Varig cometeram um crime de lesa-pátria, tal a importância que os 80 anos de uma área que pousava em mais de 190 aeroportos domésticos e navega pelos quatro continentes,
Para variar, aparecerão sempre a turma do deixa disso e os que se referirão ao choro pelo leite derramado.
Menos. Esta é a hora certa do resgate da coluna vertebral da nossa aviação. Como já disse, se é importante remover todo o lamaçal que serviu de pista para o grande desastre, é igualmente importante para os brasileiros, entre os quais 8 milhões de titulares de milhagens, que o governo livre-se das amarras menores e conheça o plano de recuperação preparado com competência pelos próprios trabalhadores do grupo Varig.
coluna@pedroporfirio.com
quinta-feira, 5 de junho de 2008
A mocinha que voou alto demais e se perdeu nos ares
Denise Abreu abre o jogo e deixa Dilma em maus lençóis na trama que entregou ilegalmente a Varig a um fundo de pensão estrangeiro, através de um chinês da pesada.
MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 6 DE JUNHO DE 2008
"Dilma disse que era muito difícil provar origem do dinheiro".
Denise Abreu, ex-diretora da Anac jurando que a ministra a pressionou para que não exigisse o Imposto de Renda dos sócios da VarigLog.
Outro dia, disse aqui mesmo: prefiro a menina Dilma dizendo NÃO do que a coroa Rousseff dizendo “SIM, SENHOR”. Muitos, não. Adoram a maturidade forjada nas delícias do poder com o sangue juvenil esvaindo-se na transfusão de apetites pragmáticos.
A maturidade, aliás, é tiro e queda. Por uma embira de desculpas, os primeiros cabelos brancos fazem o dito ficar pelo não dito com a embalagem da sabedoria.
Sobre a maturidade podemos elaborar um tratado, dos escritos de Maquiavel, aos achados do padre Gusman, jesuíta espanhol que escreveu “A arte da Prudência”, até esse magote de empavonados “cientistas políticos” intelectuais e jornalistas de nariz em pé e olhar de soslaio nos caramelos do poder.
Ser maduro é tudo de bom que você pode desejar depois de virar as páginas da cartilha do “ABC”. É ver com os próprios olhos arregalados e cobiçar céus e terras, naquela velha conversa de que “os fins justificam os meios”.
Dona Dilma não é a única a descobrir que Joana Darc é coisa de doido. Bom mesmo é olhar por trás dos óculos, exibir as gordurinhas e ter um bando de eunucos substituindo o espelho da madrasta da branca de neve.
Quando a meninada saiu de casa o iogurte era raridade. Em Minas, onde ela se criou sob a avidez de grana de um emigrante que fugitivo da Europa em chamas, o charme era goiabada cascão com catupiri. Bons tempos, aqueles.
Tudo era devaneio nas tertúlias da Praça Sete, pelas cochias da Afonso Pena. Corria-se atrás de um ideal com a alma da generosidade, o despojamento apolíneo que as lendas alterosas inoculavam na fronte iluminada.
Nos pampas, ela fez sucesso. Inteligente que só ela, apesar dos anos de tormentos, foi-se adaptando e descobrindo o os dois lados da moeda, eis que, antes do sonho acabar, tal cobre não passava do vil metal.
À sobra da amendoeira
Articulada à sombra de uma frondosa amendoeira, foi traçando seu caminho novo, no vendaval dos intimamente arrependidos. Doutorou-se e se não fosse pela briga de poder nas casamatas do regime, bem que teria seguido a vida discreta de economista de uma estatal.
Mas o general Frota, possesso com a carona presidencial, fez o listão dos tolerados pelo general Geisel, em quem viu alguns fios da barba de Karl Marx e o cheiro bucólico de Brizola. E sobrou para ela, com aquela fatalidade: o emprego se foi.
Foi aí que a maior de todas as mulheres dantão, chamada Terezinha Zerbini, deu o primeiro grito guerra pela paz. Quando tudo eram trevas, ela acendeu o candeeiro e foi tirar Dilma da mesmice para mexer os pauzinhos na busca dessa esperança doce chamada anistia.
Foi o recomeço sem riscos. A mineira estava casada com o gaúcho Carlos Araújo, rebelde de pai e mãe, e foi fazer alguma coisa de útil por aquilo que julgava ter exaurido nos idos da utopia.
Com as bênçãos de Brizola do histórico Alceu Collares, foi galgando degraus sem abrir mão do salto alto. Fatias saborosas de poder foram-lhes caindo às mãos e ela, que nunca foi realmente esse bicho papão que os bobalhões da direita pintam, descobriu sua vocação voraz pelo poder, no que isso acrescenta à própria sexualidade.
Indicada pelo PDT, foi ser secretária do bigodudo do PT e, quando Brizola percebeu que estava em maus lençóis, quis sair fora com os pupilos. Uns poucos pediram o boné. Ela, o velho Sereno e o próprio filho do caudilho preferiam permanecer com a mão na massa.
Só a casca
Aí dona Dilma já era casca pura. Tudo o mais renegava como todo político de carreira. Sua ideologia verdadeira aflorou na sublimação da doença infantil e ela passou a ser alguém capaz de usar de seu talento para projetar-se com sucesso nas áreas de decisão.
Ministra das Minas e Energia, seguiu linearmente as instruções do manual. Não há indícios de dolo, mas ela se postou do lado da grande traição, mantendo o sistema de leilão das áreas potenciais de petróleo, que seriam naturalmente da Petrobrás, desde a Lei 2004, que custou aquele tiro no peito do presidente Getúlio Vargas.
Sabendo que o”Zé” dava as cartas e operava grandes tacadas, não teve dúvidas: juntou-se a ele e, ao substituí-lo depois da delação do aliado esquisofrênico, manteve a mesma carteira de compromissos.
Aí sobrou para a Varig. As bocarras dos emergentes tinham dívidas a saudar nos ares do Brasil e abandonariam a maior empresa brasileira do setor à sua própria má sorte, com esse discurso canalha de que o problema e do mercado.
Dona Dilma foi de uma infelicidade atrás, posando de Margareth Tatcher e torpedeando toda e qualquer proposta de salvação da Varig, embora esta seja ate hoje credora de uma grana preta do governo, conforme decisões em várias instâncias do judiciário.
Todo mundo viu que ela tomou partido da débâcle que facilitava a vida da companhia que sempre transportou a turma do PT e da CUT do Oiapoque ao Chuí com a generosidade dos céus de brigadeiro.
Quem conhece os meandros dos podres poderes sabe que isso é pouco. Tem muito mais truta na sopa do que supõe a vã filosofia. E é isso que emerge do poço de lama que uma pupila do Zé começou a jogar no ventilador, para o desconforto da ex-menina que hoje em dia é outra coisa.
Dona Denise Abreu, a tal que mandava mais do que o grandalhão gaúcho, disse com todas as letras que aquele abominável processo que pôs a Variglog e depois a sua placa-mãe nas mãos de um fundo abutre estrangeiro através de um chinês da pesada foi manobra encomendada e sacramentada pela a agora quase sessentona Dilma Rousseff.
Das primeiras pílulas, todo mundo já sabe. Dá para perceber que o Zé Dirceu perdeu as esperanças de voltar ao colo do sapo barbudo. E como nesse mundo onde cada um só trata de si é uma “África”, temos pela frente a possibilidade de novas e eletrizantes revelações.
Coisa que está deixando muita gente sem dormir. Os que se aproveitaram dessa torpeza e não estão dando conta do recado, às milhares de vítimas que sofreram um processo de destruição de suas vidas inocentes, e, principalmente, os que empurraram a Varig para o buraco, na mais incompetente, leviana e irresponsável atitude de um governo que dá uma no cravo e outra na ferradura.
Com isso, tudo pode acontecer de bom e de mau. Até mesmo alguém de bom senso pode cair da nuvens para fazer voltar a fita, a fim de que essa sucessão de bobeadas que escureceu os céus do Brasil tenha o final de todo filme de terror, isto é, o inevitável “The End”.
MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 6 DE JUNHO DE 2008
"Dilma disse que era muito difícil provar origem do dinheiro".
Denise Abreu, ex-diretora da Anac jurando que a ministra a pressionou para que não exigisse o Imposto de Renda dos sócios da VarigLog.
Outro dia, disse aqui mesmo: prefiro a menina Dilma dizendo NÃO do que a coroa Rousseff dizendo “SIM, SENHOR”. Muitos, não. Adoram a maturidade forjada nas delícias do poder com o sangue juvenil esvaindo-se na transfusão de apetites pragmáticos.
A maturidade, aliás, é tiro e queda. Por uma embira de desculpas, os primeiros cabelos brancos fazem o dito ficar pelo não dito com a embalagem da sabedoria.
Sobre a maturidade podemos elaborar um tratado, dos escritos de Maquiavel, aos achados do padre Gusman, jesuíta espanhol que escreveu “A arte da Prudência”, até esse magote de empavonados “cientistas políticos” intelectuais e jornalistas de nariz em pé e olhar de soslaio nos caramelos do poder.
Ser maduro é tudo de bom que você pode desejar depois de virar as páginas da cartilha do “ABC”. É ver com os próprios olhos arregalados e cobiçar céus e terras, naquela velha conversa de que “os fins justificam os meios”.
Dona Dilma não é a única a descobrir que Joana Darc é coisa de doido. Bom mesmo é olhar por trás dos óculos, exibir as gordurinhas e ter um bando de eunucos substituindo o espelho da madrasta da branca de neve.
Quando a meninada saiu de casa o iogurte era raridade. Em Minas, onde ela se criou sob a avidez de grana de um emigrante que fugitivo da Europa em chamas, o charme era goiabada cascão com catupiri. Bons tempos, aqueles.
Tudo era devaneio nas tertúlias da Praça Sete, pelas cochias da Afonso Pena. Corria-se atrás de um ideal com a alma da generosidade, o despojamento apolíneo que as lendas alterosas inoculavam na fronte iluminada.
Nos pampas, ela fez sucesso. Inteligente que só ela, apesar dos anos de tormentos, foi-se adaptando e descobrindo o os dois lados da moeda, eis que, antes do sonho acabar, tal cobre não passava do vil metal.
À sobra da amendoeira
Articulada à sombra de uma frondosa amendoeira, foi traçando seu caminho novo, no vendaval dos intimamente arrependidos. Doutorou-se e se não fosse pela briga de poder nas casamatas do regime, bem que teria seguido a vida discreta de economista de uma estatal.
Mas o general Frota, possesso com a carona presidencial, fez o listão dos tolerados pelo general Geisel, em quem viu alguns fios da barba de Karl Marx e o cheiro bucólico de Brizola. E sobrou para ela, com aquela fatalidade: o emprego se foi.
Foi aí que a maior de todas as mulheres dantão, chamada Terezinha Zerbini, deu o primeiro grito guerra pela paz. Quando tudo eram trevas, ela acendeu o candeeiro e foi tirar Dilma da mesmice para mexer os pauzinhos na busca dessa esperança doce chamada anistia.
Foi o recomeço sem riscos. A mineira estava casada com o gaúcho Carlos Araújo, rebelde de pai e mãe, e foi fazer alguma coisa de útil por aquilo que julgava ter exaurido nos idos da utopia.
Com as bênçãos de Brizola do histórico Alceu Collares, foi galgando degraus sem abrir mão do salto alto. Fatias saborosas de poder foram-lhes caindo às mãos e ela, que nunca foi realmente esse bicho papão que os bobalhões da direita pintam, descobriu sua vocação voraz pelo poder, no que isso acrescenta à própria sexualidade.
Indicada pelo PDT, foi ser secretária do bigodudo do PT e, quando Brizola percebeu que estava em maus lençóis, quis sair fora com os pupilos. Uns poucos pediram o boné. Ela, o velho Sereno e o próprio filho do caudilho preferiam permanecer com a mão na massa.
Só a casca
Aí dona Dilma já era casca pura. Tudo o mais renegava como todo político de carreira. Sua ideologia verdadeira aflorou na sublimação da doença infantil e ela passou a ser alguém capaz de usar de seu talento para projetar-se com sucesso nas áreas de decisão.
Ministra das Minas e Energia, seguiu linearmente as instruções do manual. Não há indícios de dolo, mas ela se postou do lado da grande traição, mantendo o sistema de leilão das áreas potenciais de petróleo, que seriam naturalmente da Petrobrás, desde a Lei 2004, que custou aquele tiro no peito do presidente Getúlio Vargas.
Sabendo que o”Zé” dava as cartas e operava grandes tacadas, não teve dúvidas: juntou-se a ele e, ao substituí-lo depois da delação do aliado esquisofrênico, manteve a mesma carteira de compromissos.
Aí sobrou para a Varig. As bocarras dos emergentes tinham dívidas a saudar nos ares do Brasil e abandonariam a maior empresa brasileira do setor à sua própria má sorte, com esse discurso canalha de que o problema e do mercado.
Dona Dilma foi de uma infelicidade atrás, posando de Margareth Tatcher e torpedeando toda e qualquer proposta de salvação da Varig, embora esta seja ate hoje credora de uma grana preta do governo, conforme decisões em várias instâncias do judiciário.
Todo mundo viu que ela tomou partido da débâcle que facilitava a vida da companhia que sempre transportou a turma do PT e da CUT do Oiapoque ao Chuí com a generosidade dos céus de brigadeiro.
Quem conhece os meandros dos podres poderes sabe que isso é pouco. Tem muito mais truta na sopa do que supõe a vã filosofia. E é isso que emerge do poço de lama que uma pupila do Zé começou a jogar no ventilador, para o desconforto da ex-menina que hoje em dia é outra coisa.
Dona Denise Abreu, a tal que mandava mais do que o grandalhão gaúcho, disse com todas as letras que aquele abominável processo que pôs a Variglog e depois a sua placa-mãe nas mãos de um fundo abutre estrangeiro através de um chinês da pesada foi manobra encomendada e sacramentada pela a agora quase sessentona Dilma Rousseff.
Das primeiras pílulas, todo mundo já sabe. Dá para perceber que o Zé Dirceu perdeu as esperanças de voltar ao colo do sapo barbudo. E como nesse mundo onde cada um só trata de si é uma “África”, temos pela frente a possibilidade de novas e eletrizantes revelações.
Coisa que está deixando muita gente sem dormir. Os que se aproveitaram dessa torpeza e não estão dando conta do recado, às milhares de vítimas que sofreram um processo de destruição de suas vidas inocentes, e, principalmente, os que empurraram a Varig para o buraco, na mais incompetente, leviana e irresponsável atitude de um governo que dá uma no cravo e outra na ferradura.
Com isso, tudo pode acontecer de bom e de mau. Até mesmo alguém de bom senso pode cair da nuvens para fazer voltar a fita, a fim de que essa sucessão de bobeadas que escureceu os céus do Brasil tenha o final de todo filme de terror, isto é, o inevitável “The End”.
terça-feira, 3 de junho de 2008
Deputados mal na fita
"Estou ligando para agradecer aí a ajuda, a torcida, todo o trabalho de vocês."Álvaro Lins, ex-chefe da Polícia Civil, agradecendo o apoio de bicheiros a sua candidatura a deputado estadual. Já a doméstica Angélica Aparecida Souza Teodoro, de 18 anos, ficou presa durante 128 dias no Cadeião Pinheiros, acusada de ter roubado um pote de manteiga. Para ela, segundo polícia e justiça, cadeia é pouco.
MINHA COLUNA NO POVO DO RIO DE 5 DE JUNHO DE 2008
Realmente, pegou muito mal para toda a Assembléia Legislativa a inusitada decisão de passar por cima da Justiça Federal e aprovar um decreto legislativo que arrancou detrás das grades o deputado Álvaro Lins, preso em flagrante em função de crimes que não são protegidos pela imunidade parlamentar.
Para o povão fica mais uma vez provado e comprovado que cadeia no Brasil é para pobre, negro e favelado. Homens que são pagos para defender a Lei, têm porte de arma e outras tantas prerrogativas, não podem em hipótese alguma merecer qualquer tipo de condescendência de quem quer que seja, muito menos de uma Casa Legislativa.
Para a Polícia Federal pôr a mão no deputado Álvaro Lins, teria que ter muitas evidências, pois, do contrário, seus delegados estariam se submetendo a um risco duplo: de um lado, o mandato de um parlamentar é virtualmente blindado; de outro, o homem foi até o final do governo passado o mais da cúpula policial do Estado.
Eu mesmo não sabia que a Assembléia poderia decidir tornar sem efeito uma decisão da Justiça, ainda mais com essa gravidade. Daí a minha amarga perplexidade: para defender o meu mandato, inatacável sob todos os aspectos, nada se pode fazer a não ser esperar pelo tempo que os desembargadores do Tribunal de Justiça determinarem.
Mas para desautorizar uma ordem de prisão de um deputado envolvido até a medula em falcatruas devidamente catalogados, aí 40 senhores deputados estaduais não vacilam: em menos de 24 horas aprovaram a soltura do colega, contra a postura decente de 15 outros, e foram lá passar a mão em sua cabeça.
Isso só serve para manchar ainda mais a imagem dos políticos, que estão muito mal na fita a tal ponto que, se o voto não fosse obrigatório, a maior parte dos brasileiros nem sairia de casa no dia das eleições.
Serve também, o que é pior, para nivelar por baixo. Para o cidadão eleitor, qualquer candidato só disputa uma eleição para levar vantagem pessoal. Daí, seu voto deixa de ser uma expressão de sua confiança política, sentimento raro hoje em dia, para ser uma moeda de troca. Ganha quem tiver mais na mala, pois, como disse, o eleitor acha que se são todos baitas corruptos, quer pelo menos tirar alguma vantagem no sistema pré-pago.
De posse do relatório da Polícia Federal, que considerou ESTARRECEDOR, o deputado Luiz Paulo Coelho da Rocha, corregedor da Assembléia fluminense, se disse disposto a pedir a cassação do mandato do colega arrancado da cadeia.
Pode até ser que isso venha a acontecer, porque o povo está muito indignado com esse gesto pra lá de comprometedor da maioria esmagadora do legislativo.
Mas para o tipo de crime cometido pelo sr. Álvaro Lins, tal como consta do trabalho sério dos “federais” a resposta que a sociedade exige é outra – é aquela que dão na hora à moça pobre que apanha um tablete de manteiga de um supermercado.
coluna@pedroporfirio.com
Para o povão fica mais uma vez provado e comprovado que cadeia no Brasil é para pobre, negro e favelado. Homens que são pagos para defender a Lei, têm porte de arma e outras tantas prerrogativas, não podem em hipótese alguma merecer qualquer tipo de condescendência de quem quer que seja, muito menos de uma Casa Legislativa.
Para a Polícia Federal pôr a mão no deputado Álvaro Lins, teria que ter muitas evidências, pois, do contrário, seus delegados estariam se submetendo a um risco duplo: de um lado, o mandato de um parlamentar é virtualmente blindado; de outro, o homem foi até o final do governo passado o mais da cúpula policial do Estado.
Eu mesmo não sabia que a Assembléia poderia decidir tornar sem efeito uma decisão da Justiça, ainda mais com essa gravidade. Daí a minha amarga perplexidade: para defender o meu mandato, inatacável sob todos os aspectos, nada se pode fazer a não ser esperar pelo tempo que os desembargadores do Tribunal de Justiça determinarem.
Mas para desautorizar uma ordem de prisão de um deputado envolvido até a medula em falcatruas devidamente catalogados, aí 40 senhores deputados estaduais não vacilam: em menos de 24 horas aprovaram a soltura do colega, contra a postura decente de 15 outros, e foram lá passar a mão em sua cabeça.
Isso só serve para manchar ainda mais a imagem dos políticos, que estão muito mal na fita a tal ponto que, se o voto não fosse obrigatório, a maior parte dos brasileiros nem sairia de casa no dia das eleições.
Serve também, o que é pior, para nivelar por baixo. Para o cidadão eleitor, qualquer candidato só disputa uma eleição para levar vantagem pessoal. Daí, seu voto deixa de ser uma expressão de sua confiança política, sentimento raro hoje em dia, para ser uma moeda de troca. Ganha quem tiver mais na mala, pois, como disse, o eleitor acha que se são todos baitas corruptos, quer pelo menos tirar alguma vantagem no sistema pré-pago.
De posse do relatório da Polícia Federal, que considerou ESTARRECEDOR, o deputado Luiz Paulo Coelho da Rocha, corregedor da Assembléia fluminense, se disse disposto a pedir a cassação do mandato do colega arrancado da cadeia.
Pode até ser que isso venha a acontecer, porque o povo está muito indignado com esse gesto pra lá de comprometedor da maioria esmagadora do legislativo.
Mas para o tipo de crime cometido pelo sr. Álvaro Lins, tal como consta do trabalho sério dos “federais” a resposta que a sociedade exige é outra – é aquela que dão na hora à moça pobre que apanha um tablete de manteiga de um supermercado.
coluna@pedroporfirio.com
segunda-feira, 2 de junho de 2008
A nova máscara da CPMF e a realidade da saúde
Como naqueles idos, o diretor do Cardoso Fontes manda fotografar as reniões dos funcionários para continuar com a mão na massa por meio da intimidação
MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 02 DE JUNHO DE 2008
“Engana-se quem pensa que num hospital público não poderemos receber um tratamento digno de um ser humano”
Jorge A. Vieira, Paciente nº 00207850 do Hospital Cardoso Fontes, após ser submetido a uma operação antes do governador Cabral mandar o ministro Temporão demitir a competente diretora Zenilde Fernandes*.
Essa do governo tentar recriar a CPMF com outra sigla é o mesmo que o PFL se vestir de DEM, depois de ter saído das entranhas do PDS, que foi uma corruptela da Arena daqueles idos infernais.
É muita cara de pau. Afinal, a antiga taxa acabou de bater as botas. O governo não teve cacife para prorrogá-la no Senado e depois saiu dizendo que ia cortar aqui e ali, vitaminar outros tributos e apertar o cerco aos sonegadores.
Não durou muito. Não deixou nem o cadáver esfriar. Não deixou que fosse para o arquivo da memória curta de uma grande massa acrítica. Cheio de si, chamou a tropa de choque e mandou ver.
É bonito isso? O governo acha que resolve tudo mudando de sigla e trocando a faca pelo canivete. Desta vez, jura de pés juntos que o que entrar no desconto do cheque vai direto para a saúde, essa useira e vezeira do CTI - muito mais pela pouca vergonha, pela ação impune dos sanguessugas, pela incompetência e pela absoluta falta de criatividade no trato de uma mazela que é considerada o maior desafio por 71% da população brasileira.
Se neste monstruoso valhacouto tolerado por Deus somos brindados noite e dia com o desfile de histriônicos canastrões e, cenas explícitas de roubalheiras e simulações mambembes de punições, a relação dos governos com a saúde é deliberadamente deletéria.
Velhice seletiva
Está provado por A + B que o sistema é conceitualmente contra a saúde pública. Tiranizado pela síndrome da fatalidade econômica, opera silenciosamente a seleção dos que podem viver mais da conta.
Isso ninguém diz, porque ninguém que trata das estatísticas tem a indispensável liberdade de ir fundo. Você vê falar em expectativa de vida, mas jamais tomou conhecimento de uma decupagem social dos óbitos.
Sabe-se, sim, que estão matando jovens a rodo. Percebe-se com um olhar mais acarado que essa moçada é dos guetos, que aqui se chama de favelas. E dá para entender as malévolas regras do extermínio: só a polícia matou mais de 1.600 garotos num ano, em troca de tiros, nas quais os meninos demonstram uma incrível ausência de pontaria.
Da minha classe média e dos abastados até tem mortes violentas – mais em acidentes de carros e outros descuidos que a boa vida permite. Há algumas vítimas de balas perdidas e de assaltantes cruéis. Mas os números não se comparam.
Na contabilidade geral, o sistema não faz segredo: para continuar vivendo mais, o cidadão vai ter que pagar pedágio. Estão aí as bocas de lobo atrás de tirar o coro dos mais velhos. Senão, entra o plano “B”: deixar os aposentados e pensionistas a pão e água, no maior sentimento de culpa por continuarem dando despesa.
O sistema vem montando um “corredor polonês” para inibir o envelhecimento. Começa por uma aritmética da pesada: depenam o velho, aumentam seu custo de vida e fecham as portas da saúde pública para seus reumatismos.
Nunca vi coisa igual: o governo do ex-pobretão é a alegria da meia dúzia de três ou quatro donos do cofre. As estatísticas ficam no meio do caminho também quando falam da concentração da grana. Trabalham com 10% de detentores de 70% das nossas riquezas.
Dinheirama mal usada
Mas não falam que, na ponta do lápis, a dinheirama fica mesmo é com menos de 1% de potentados insaciáveis,especuladores contumazes sem pátria,sem escrúpulos e sem pai nem mãe,que estão se lixando para a saúde do povo trabalhador e dos 20 milhões de teimosos maiores de 60 anos.
Os governos sabem que há um bom dinheiro para salvar nossas vidas e minorar nossas dores. As verbas para a saúde hoje, mesmo sem CPMF, são as maiores rubricas do orçamento federal – superam até a educação. E as disponibilidades investimentos na saúde é também uma baba nos orçamentos dos estados e municípios.
No entanto, esse dinheiro se evapora principalmente nos mais recentes achados da universidade da corrupção. As terceirizações e as excedentes organizações não governamentais já ficam com a maior parte do bolo, numa escandalosa profissionalização da solidariedade às custas do nosso tributo.
Dá para acreditar num Ministério da Saúde que aceita a condição de Ministério das Doenças e entrega hospitais médicos indicados por políticos que, por sua vez, vão ser ovelhas brancas no Congresso, e certamente não têm nada a ver com o peixe.
O que fizeram com o Hospital Cardoso Fontes, aqui no sopé da Serra dos Três Rios, retira toda e qualquer autoridade moral para o governo arrancar mais dinheiro dos brasileiros, que já pagam impostos tão escorchantes que têm de trabalhar um terço do ano só para não entrar na dívida ativa, pior do que o SPC.
Mais dinheiro nos cofres do governo, infelizmente, é mais festa para os donos dos laboratórios, os vendedores de equipamentos superfaturados, dos indóceis interesses periféricos.Ao povo e aos profissionais da saúde só restará a sobra do banquete.
Qualquer governo sabe muito bem que a função de um órgão de saúde é cuidar da saúde e não deixar o mosquito picar para depois sair pagando enterro de brasileiros indefesos, sem lenços e sem documentos,e se locopletando do artigo 24 da Lei 8666/93.
Nessa tramóia associam-se malandros de todos os plantéis. O que eles querem é poder, é meter a mão, é criar situações de trauma para que possam sair comprando a preços exorbitantes com dispensa de licitação.
Ou você acha que o governador Sérgio Cabral Filho pediu ao ministro Temporão a cabeça da diretora do Cardoso Fontes, 33 anos de casa e excelente administração, para que?
O que os 407 mil moradores de Jacarepaguá podem esperar de um hospital que, além de todas as limitações estruturais, é entregue de mão beijada nas mãos do dono da clínica ginecológica da Rua Mirandela, em Nilópolis, que conheceu suas instalações no dia em que, escoltado pela polícia, foi tomar posse do seu presente, ou melhor do presente dado pela dobradinha Lula/Cabral ao deputado federal daquele município, ou melhor da família Beija Flor?
Essa repentina mudança ocorreu exatamente na hora em que a unidade do Ministério da Saúde adquiriu “autonomia financeira” e a bagatela de R$ 37 milhões para gastos diversos.
Só quero saber quem vai facilitar a aprovação do imposto de duas caras. Isso, aliás, não será difícil. Afinal, o grande personagem do “mensalão” , batizado Marcos Valério, jamais experimentou um único dia de cadeia e olha que ele não tem as prerrogativas do deputado Álvaro Lins, solto pela votação em tempo recorde dos seus pares da Assembléia Legislativa do Estado do Rio.
coluna@pedroporfirio.com
Jorge A. Vieira, Paciente nº 00207850 do Hospital Cardoso Fontes, após ser submetido a uma operação antes do governador Cabral mandar o ministro Temporão demitir a competente diretora Zenilde Fernandes*.
Essa do governo tentar recriar a CPMF com outra sigla é o mesmo que o PFL se vestir de DEM, depois de ter saído das entranhas do PDS, que foi uma corruptela da Arena daqueles idos infernais.
É muita cara de pau. Afinal, a antiga taxa acabou de bater as botas. O governo não teve cacife para prorrogá-la no Senado e depois saiu dizendo que ia cortar aqui e ali, vitaminar outros tributos e apertar o cerco aos sonegadores.
Não durou muito. Não deixou nem o cadáver esfriar. Não deixou que fosse para o arquivo da memória curta de uma grande massa acrítica. Cheio de si, chamou a tropa de choque e mandou ver.
É bonito isso? O governo acha que resolve tudo mudando de sigla e trocando a faca pelo canivete. Desta vez, jura de pés juntos que o que entrar no desconto do cheque vai direto para a saúde, essa useira e vezeira do CTI - muito mais pela pouca vergonha, pela ação impune dos sanguessugas, pela incompetência e pela absoluta falta de criatividade no trato de uma mazela que é considerada o maior desafio por 71% da população brasileira.
Se neste monstruoso valhacouto tolerado por Deus somos brindados noite e dia com o desfile de histriônicos canastrões e, cenas explícitas de roubalheiras e simulações mambembes de punições, a relação dos governos com a saúde é deliberadamente deletéria.
Velhice seletiva
Está provado por A + B que o sistema é conceitualmente contra a saúde pública. Tiranizado pela síndrome da fatalidade econômica, opera silenciosamente a seleção dos que podem viver mais da conta.
Isso ninguém diz, porque ninguém que trata das estatísticas tem a indispensável liberdade de ir fundo. Você vê falar em expectativa de vida, mas jamais tomou conhecimento de uma decupagem social dos óbitos.
Sabe-se, sim, que estão matando jovens a rodo. Percebe-se com um olhar mais acarado que essa moçada é dos guetos, que aqui se chama de favelas. E dá para entender as malévolas regras do extermínio: só a polícia matou mais de 1.600 garotos num ano, em troca de tiros, nas quais os meninos demonstram uma incrível ausência de pontaria.
Da minha classe média e dos abastados até tem mortes violentas – mais em acidentes de carros e outros descuidos que a boa vida permite. Há algumas vítimas de balas perdidas e de assaltantes cruéis. Mas os números não se comparam.
Na contabilidade geral, o sistema não faz segredo: para continuar vivendo mais, o cidadão vai ter que pagar pedágio. Estão aí as bocas de lobo atrás de tirar o coro dos mais velhos. Senão, entra o plano “B”: deixar os aposentados e pensionistas a pão e água, no maior sentimento de culpa por continuarem dando despesa.
O sistema vem montando um “corredor polonês” para inibir o envelhecimento. Começa por uma aritmética da pesada: depenam o velho, aumentam seu custo de vida e fecham as portas da saúde pública para seus reumatismos.
Nunca vi coisa igual: o governo do ex-pobretão é a alegria da meia dúzia de três ou quatro donos do cofre. As estatísticas ficam no meio do caminho também quando falam da concentração da grana. Trabalham com 10% de detentores de 70% das nossas riquezas.
Dinheirama mal usada
Mas não falam que, na ponta do lápis, a dinheirama fica mesmo é com menos de 1% de potentados insaciáveis,especuladores contumazes sem pátria,sem escrúpulos e sem pai nem mãe,que estão se lixando para a saúde do povo trabalhador e dos 20 milhões de teimosos maiores de 60 anos.
Os governos sabem que há um bom dinheiro para salvar nossas vidas e minorar nossas dores. As verbas para a saúde hoje, mesmo sem CPMF, são as maiores rubricas do orçamento federal – superam até a educação. E as disponibilidades investimentos na saúde é também uma baba nos orçamentos dos estados e municípios.
No entanto, esse dinheiro se evapora principalmente nos mais recentes achados da universidade da corrupção. As terceirizações e as excedentes organizações não governamentais já ficam com a maior parte do bolo, numa escandalosa profissionalização da solidariedade às custas do nosso tributo.
Dá para acreditar num Ministério da Saúde que aceita a condição de Ministério das Doenças e entrega hospitais médicos indicados por políticos que, por sua vez, vão ser ovelhas brancas no Congresso, e certamente não têm nada a ver com o peixe.
O que fizeram com o Hospital Cardoso Fontes, aqui no sopé da Serra dos Três Rios, retira toda e qualquer autoridade moral para o governo arrancar mais dinheiro dos brasileiros, que já pagam impostos tão escorchantes que têm de trabalhar um terço do ano só para não entrar na dívida ativa, pior do que o SPC.
Mais dinheiro nos cofres do governo, infelizmente, é mais festa para os donos dos laboratórios, os vendedores de equipamentos superfaturados, dos indóceis interesses periféricos.Ao povo e aos profissionais da saúde só restará a sobra do banquete.
Qualquer governo sabe muito bem que a função de um órgão de saúde é cuidar da saúde e não deixar o mosquito picar para depois sair pagando enterro de brasileiros indefesos, sem lenços e sem documentos,e se locopletando do artigo 24 da Lei 8666/93.
Nessa tramóia associam-se malandros de todos os plantéis. O que eles querem é poder, é meter a mão, é criar situações de trauma para que possam sair comprando a preços exorbitantes com dispensa de licitação.
Ou você acha que o governador Sérgio Cabral Filho pediu ao ministro Temporão a cabeça da diretora do Cardoso Fontes, 33 anos de casa e excelente administração, para que?
O que os 407 mil moradores de Jacarepaguá podem esperar de um hospital que, além de todas as limitações estruturais, é entregue de mão beijada nas mãos do dono da clínica ginecológica da Rua Mirandela, em Nilópolis, que conheceu suas instalações no dia em que, escoltado pela polícia, foi tomar posse do seu presente, ou melhor do presente dado pela dobradinha Lula/Cabral ao deputado federal daquele município, ou melhor da família Beija Flor?
Essa repentina mudança ocorreu exatamente na hora em que a unidade do Ministério da Saúde adquiriu “autonomia financeira” e a bagatela de R$ 37 milhões para gastos diversos.
Só quero saber quem vai facilitar a aprovação do imposto de duas caras. Isso, aliás, não será difícil. Afinal, o grande personagem do “mensalão” , batizado Marcos Valério, jamais experimentou um único dia de cadeia e olha que ele não tem as prerrogativas do deputado Álvaro Lins, solto pela votação em tempo recorde dos seus pares da Assembléia Legislativa do Estado do Rio.
coluna@pedroporfirio.com
*CLIQUE AQUI e veja o depoimento do paciente operado no Cardoso Fontes em 2006
domingo, 1 de junho de 2008
"Milicianos", os novos intocáveis
Na prática, as milícias são consentidas e agem de comum acordo com boa parte polícia, até porque muitas delas são formadas por policiais.
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 2 DE JUNHO DE 2008
Esse episódio de tortura de repórteres do jornal O DIA nas mãos de policiais que agem ostensivamente na ilegalidade não me surpreende nem um pouco.
Aconteceu no dia 14 de maio, mas só ontem o veio a público, neste fim-de-semana, decorridos 15 dias das sevícias sem que se saiba da punição de quem quer que seja.
Antes, teremos daqui para frente três profissionais traumatizados para o resto da vida e toda uma categoria com medo de trabalhar e escrever a verdade.
Os requintes de perversidade servem como uma advertência ostensiva a tudo e a todos. Quem a psicologia das horas de policiais sem freios sabe que em nenhum momento os torturadores dos jornalistas imaginavam que a proeza fosse abafada.
A intenção dos “milicianos” era exatamente realizar uma ação de propaganda, no sentindo de intimidar e mostrar que têm costas largas.
Já estão habituados a mandar para a vala ou para a laje os que se recusam a meter a mão no bolso, mesmo que não tenham um tostão. O próprio jornal O DIA relatou um caso numa comunidade da Taquara, em Jacarepaguá, em que os moradores eram obrigados a abrir a geladeira para pagar a conta dos “milicianos” com seus alimentos.
Quando eu digo que não me surpreende é porque todo o aparato de governo no Estado do Rio de Janeiro dá ampla cobertura a conhecidos facínoras, que exercem uma tirania muito mais radical do que os próprios traficantes.
Nesse aspecto, nenhuma dessas autoridades aí tem moral para dizer qualquer coisa de tais personagens, alguns dos quais, com vida pregressa conhecida, têm acesso a seus gabinetes.
Essas autoridades preferem tirar proveito do poder tirânico exercido por esses verdugos com os quais fazem acordos políticos abertos.
Um delegado de polícia que faz o gênero do grande xerife foi candidato a deputado estadual em 2006 e fez dobradinha com um desses chefes na maior sem cerimônia.
Para agravar, não me surpreende, igualmente, quando uma novela de televisão de grande audiência transforma o personagem de um “justiceiro” desses em verdadeiro mocinho. Você também deve ter visto a institucionalização midiática de um miliciano, aliás, caricaturado num péssimo desempenho por um dos melhores atores brasileiros.
Eu que eu vou dizer aqui, você não vai acreditar: qualquer um pode fazer campanha política na Jacarezinho, onde o tráfico é forte, Mas ninguém pode entrar nas quase oitenta áreas cujo controle foi terceirizado às “milícias” por uma polícia cúmplice, de cujas fileiras saem os cabeças desses supostos mantenedores da ordem com as próprias mãos.
O caso do poderio desses grupos paralelos, com o tácito assentimento do governador Sérgio Cabral Filho é o corpo de delito de um estado de ilegalidade que torna a vida dos pobres um trágico dilema: ou convive calada com os vendedores de maconha, que nada lhes cobra mas exige o silêncio, ou morrem nuns bons trocados nas mãos desses milicianos.
coluna@pedroporfirio.com
Esse episódio de tortura de repórteres do jornal O DIA nas mãos de policiais que agem ostensivamente na ilegalidade não me surpreende nem um pouco.
Aconteceu no dia 14 de maio, mas só ontem o veio a público, neste fim-de-semana, decorridos 15 dias das sevícias sem que se saiba da punição de quem quer que seja.
Antes, teremos daqui para frente três profissionais traumatizados para o resto da vida e toda uma categoria com medo de trabalhar e escrever a verdade.
Os requintes de perversidade servem como uma advertência ostensiva a tudo e a todos. Quem a psicologia das horas de policiais sem freios sabe que em nenhum momento os torturadores dos jornalistas imaginavam que a proeza fosse abafada.
A intenção dos “milicianos” era exatamente realizar uma ação de propaganda, no sentindo de intimidar e mostrar que têm costas largas.
Já estão habituados a mandar para a vala ou para a laje os que se recusam a meter a mão no bolso, mesmo que não tenham um tostão. O próprio jornal O DIA relatou um caso numa comunidade da Taquara, em Jacarepaguá, em que os moradores eram obrigados a abrir a geladeira para pagar a conta dos “milicianos” com seus alimentos.
Quando eu digo que não me surpreende é porque todo o aparato de governo no Estado do Rio de Janeiro dá ampla cobertura a conhecidos facínoras, que exercem uma tirania muito mais radical do que os próprios traficantes.
Nesse aspecto, nenhuma dessas autoridades aí tem moral para dizer qualquer coisa de tais personagens, alguns dos quais, com vida pregressa conhecida, têm acesso a seus gabinetes.
Essas autoridades preferem tirar proveito do poder tirânico exercido por esses verdugos com os quais fazem acordos políticos abertos.
Um delegado de polícia que faz o gênero do grande xerife foi candidato a deputado estadual em 2006 e fez dobradinha com um desses chefes na maior sem cerimônia.
Para agravar, não me surpreende, igualmente, quando uma novela de televisão de grande audiência transforma o personagem de um “justiceiro” desses em verdadeiro mocinho. Você também deve ter visto a institucionalização midiática de um miliciano, aliás, caricaturado num péssimo desempenho por um dos melhores atores brasileiros.
Eu que eu vou dizer aqui, você não vai acreditar: qualquer um pode fazer campanha política na Jacarezinho, onde o tráfico é forte, Mas ninguém pode entrar nas quase oitenta áreas cujo controle foi terceirizado às “milícias” por uma polícia cúmplice, de cujas fileiras saem os cabeças desses supostos mantenedores da ordem com as próprias mãos.
O caso do poderio desses grupos paralelos, com o tácito assentimento do governador Sérgio Cabral Filho é o corpo de delito de um estado de ilegalidade que torna a vida dos pobres um trágico dilema: ou convive calada com os vendedores de maconha, que nada lhes cobra mas exige o silêncio, ou morrem nuns bons trocados nas mãos desses milicianos.
coluna@pedroporfirio.com
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Uma pergunta inesperada. O que você responderia?
O ÚLTIMO REVEILLON
Brizola costumava convidar a família e alguns amigos para passar o reveillon em seu apartamento, na Avenida Atlâ ntica. Mas na entrada de 2004, ao lado dos netos, bisnetos e do filho João Otávio, fui o único correligionário com mandato que ele chamou para o que seria o seu último reveillon. Foi uma noite inesquescível, porque conversarmos num momento em que o grande patriota já não tinha tantos amigos assim.
“Todas as crianças deveriam ter direito à escola, mas para aprender devem estar bem nutridas. Sem a preparação do ser humano, não há desenvolvimento. A violência é fruto da falta de educação”.
Leonel Brizola (1922-2004)
Leonel Brizola (1922-2004)
Já eram quase duas horas da tarde quando ia saindo do movimentado restaurante de saladas da Senador Dantas, ao lado do falecido Cine Vitória, quando fui abordado, ainda entre suas mesas, por um quarentão de bochechas salientes e uma boina que parecia servir só para esconder a careca:
- Porfírio, posso lhe fazer uma pergunta?
Assim de chofre aquela interpelação me deixou curioso. Péssimo fisionomista, de perder amigos e votos por não reconhecer pessoas, tinha a convicção de nunca ter visto aquela figura em toda a minha vida.
Mas ele, que almoçava um prato cheio de costas para a porta, já quase no fundo do restaurante que servia refeições a quilo, dirigira-se a mim com aquela intimidade de quem, no mínimo teria freqüentado a mesma arquibancada do Maracanã.
Hipótese que, se passou pela minha cabeça, logo descartei: há muito prefiro jogar minha pelada com os filhos e seus parceiros do que ir ao grande palco do futebol. Também pudera: o meu Bangu já não vê seu gramado a lustros.
Como não podia deixar de ser, por primária educação e elevado espírito público, postei-me, em pé, à espera da interrogação. Ele devia ser um grandalhão, porque, sentado, ficava ao meu nível, o que, aliás, não é nenhuma vantagem. Qualquer brasileiro é maior do que eu, como era do Getúlio, do Prestes e do nosso contemporâneo Jefferson Perez.
Olhando-me como alguém que tem algo guardado a sete chaves para jogar-me na cara, diante da minha manifesta disposição de ouvi-lo, ele deu uma mastigada e, finalmente, fez a pergunta, que parecia sair do fundo do coração:
- Você tem saudades do Brizola?
Confesso que esperava tudo, menos aquela inesperadíssima manifestação. E de tal sorte foi a surpresa que um mundo de dúvidas avançou sobre meu cérebro pronto para tudo, menos para oferecer uma resposta tranqüila.
Por que aquele cidadão me pararia só para perguntar algo que, certamente, até por uma questão de lógica, teria uma resposta na ponta da língua?
Mais uma vez peregrinei errante pelas sendas da memória. Tinha obrigação de identificar aquela figura insólita, a primeira a me surpreender com uma dúvida que caiu como uma cobrança, como se eu, além de tudo compadre do grande patriota, tivesse olvidado a torrente de ensinamentos que ele nos deixou ao longo dos seus 82 anos vividos intensamente.
Mas quanto mais cavucava, mais o cérebro negava fogo. Pensei: talvez, se o cidadão estivesse em pé, mostrando-se por inteiro, eu alcançaria algum sinal de um encontro fortuito, em algum lugar da minha vida atribulada.
Deu branco mesmo. Já devia ter decorrido mais de dez segundos, enquanto ele me olhava como se fosse um representante da história do Brasil, o semblante paralisado, como quem dissesse a si mesmo: peguei esse cara, já sei o que ele vai responder, mas quero saber de que palavras se servirá.
Fiz o que não costumo: respirei fundo. Contemplei outras tantas pessoas, que se sentavam solitárias nas mesmas mesas e não trocavam uma palavra. Tratavam, tão somente, de matar a fome no menor espaço de tempo, como se almoçar fosse uma compulsória obrigação fisiológica.
Depois de passar em revista aquela comunidade de ocasião, contemplando alguns rostos que pareciam espelhar preocupações, decidi finalmente pela resposta, se possível, a mais inteira possível:
- Qual o brasileiro que não sente saudade do Brizola?
Ele não gostou. Primeiro, porque não queria saber dos 180 milhões de compatriotas, mas de mim, com toda a sinceridade d`alma. Segundo, porque, como deixaria no ar, todos, sem exceção, só têm saudades do velho caudilho da boca para fora. Eu, inclusive.
Naquele momento, só me passava pela cabeça a idéia de me desvencilhar do curioso comensal. Ele continuava enchendo a boca com porções fartas de feijão e arroz, uma ameaça de, mesmo involuntariamente, espargir sobre minha camisa branca alguns grãos já recheados por suas salivas.
E eu tinha hora no minúsculo escritório da Senador Dantas para saber se já haviam decifrado a decisão do Órgão Especial que, por 13 a 4, extinguiu o mandado de segurança que, por liminar, pôs outro no meu lugar na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Decifrar, sim. Porque embora o usurpador estivesse no exercício de meu mandato por conta da liminar que caíra, minha advogada, da competentíssima equipe do professor Siqueira Castro, preferia esperar o acórdão, já que o mote da decisão teria sido a perda de objeto, como consta da informação no site do Tribunal de Justiça.
Mas o homem, de faca e garfo nas mãos, queria ouvir mais. Talvez um novo panegírico até mesmo uma palavra renegada, porque ele mesmo nada expunha e, afinal, de alguém que você nunca viu mais gordo pode esperar as mais diversas atitudes.
Mas eu tinha minhas obrigações com a hora. Se há uma coisa que me tortura é chegar atrasado a um compromisso. Incrustou-se em minha personalidade um fato ocorrido quando eu, já jornalista, aos 18 anos, fui a uma reunião com colegas de outros países, na Rádio Havana, em Cuba. Um francês chegou depois da hora e pediu desculpas pelo atraso de cinco minutos.
- Cinco, não, cinqüenta – observou o colega alemão. Se somos dez, subtraiu cinco minutos da vida de cada um, portanto, nos atrasou cinqüenta minutos.
Não ia contar essa história para o homem que não parava de mastigar, enquanto lançava seu olhar fulminante sobre mim. Não vou dizer que ele me segurou pelo braço, que isso não aconteceu. Mas eu próprio me sentia acorrentado ao homem interessado em saber se eu sentia saudades do Brizola.
Foi então que me veio à cabeça a coincidência. Agora em junho, para ser exato no dia 21, transcorrerá o quarto aniversário da morte daquele que dedicou todos os 37 milhões e 800 mil minutos de sua vida à missão de transformar para melhor a vida dos brasileiros, especialmente os pobres como foi ele em sua infância de engraxate e ascensorista.
E com essa lembrança, sobreveio-me a convicção de que aquela pergunta, na hora do almoço, feita por um homem que continuo sem saber quem é, até porque não me ocorreu sequer perguntar-lhe o nome, tinha muita razão de ser.
Será que os brasileiros têm uma idéia de quem realmente foi Leonel de Moura Brizola? Será que estamos à altura de seu exemplo, assim como os muçulmanos sunitas tanta importância dão aos 22 anos de pregação do seu profeta?
coluna@pedroporfirio.com
- Porfírio, posso lhe fazer uma pergunta?
Assim de chofre aquela interpelação me deixou curioso. Péssimo fisionomista, de perder amigos e votos por não reconhecer pessoas, tinha a convicção de nunca ter visto aquela figura em toda a minha vida.
Mas ele, que almoçava um prato cheio de costas para a porta, já quase no fundo do restaurante que servia refeições a quilo, dirigira-se a mim com aquela intimidade de quem, no mínimo teria freqüentado a mesma arquibancada do Maracanã.
Hipótese que, se passou pela minha cabeça, logo descartei: há muito prefiro jogar minha pelada com os filhos e seus parceiros do que ir ao grande palco do futebol. Também pudera: o meu Bangu já não vê seu gramado a lustros.
Como não podia deixar de ser, por primária educação e elevado espírito público, postei-me, em pé, à espera da interrogação. Ele devia ser um grandalhão, porque, sentado, ficava ao meu nível, o que, aliás, não é nenhuma vantagem. Qualquer brasileiro é maior do que eu, como era do Getúlio, do Prestes e do nosso contemporâneo Jefferson Perez.
Olhando-me como alguém que tem algo guardado a sete chaves para jogar-me na cara, diante da minha manifesta disposição de ouvi-lo, ele deu uma mastigada e, finalmente, fez a pergunta, que parecia sair do fundo do coração:
- Você tem saudades do Brizola?
Confesso que esperava tudo, menos aquela inesperadíssima manifestação. E de tal sorte foi a surpresa que um mundo de dúvidas avançou sobre meu cérebro pronto para tudo, menos para oferecer uma resposta tranqüila.
Por que aquele cidadão me pararia só para perguntar algo que, certamente, até por uma questão de lógica, teria uma resposta na ponta da língua?
Mais uma vez peregrinei errante pelas sendas da memória. Tinha obrigação de identificar aquela figura insólita, a primeira a me surpreender com uma dúvida que caiu como uma cobrança, como se eu, além de tudo compadre do grande patriota, tivesse olvidado a torrente de ensinamentos que ele nos deixou ao longo dos seus 82 anos vividos intensamente.
Mas quanto mais cavucava, mais o cérebro negava fogo. Pensei: talvez, se o cidadão estivesse em pé, mostrando-se por inteiro, eu alcançaria algum sinal de um encontro fortuito, em algum lugar da minha vida atribulada.
Deu branco mesmo. Já devia ter decorrido mais de dez segundos, enquanto ele me olhava como se fosse um representante da história do Brasil, o semblante paralisado, como quem dissesse a si mesmo: peguei esse cara, já sei o que ele vai responder, mas quero saber de que palavras se servirá.
Fiz o que não costumo: respirei fundo. Contemplei outras tantas pessoas, que se sentavam solitárias nas mesmas mesas e não trocavam uma palavra. Tratavam, tão somente, de matar a fome no menor espaço de tempo, como se almoçar fosse uma compulsória obrigação fisiológica.
Depois de passar em revista aquela comunidade de ocasião, contemplando alguns rostos que pareciam espelhar preocupações, decidi finalmente pela resposta, se possível, a mais inteira possível:
- Qual o brasileiro que não sente saudade do Brizola?
Ele não gostou. Primeiro, porque não queria saber dos 180 milhões de compatriotas, mas de mim, com toda a sinceridade d`alma. Segundo, porque, como deixaria no ar, todos, sem exceção, só têm saudades do velho caudilho da boca para fora. Eu, inclusive.
Naquele momento, só me passava pela cabeça a idéia de me desvencilhar do curioso comensal. Ele continuava enchendo a boca com porções fartas de feijão e arroz, uma ameaça de, mesmo involuntariamente, espargir sobre minha camisa branca alguns grãos já recheados por suas salivas.
E eu tinha hora no minúsculo escritório da Senador Dantas para saber se já haviam decifrado a decisão do Órgão Especial que, por 13 a 4, extinguiu o mandado de segurança que, por liminar, pôs outro no meu lugar na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Decifrar, sim. Porque embora o usurpador estivesse no exercício de meu mandato por conta da liminar que caíra, minha advogada, da competentíssima equipe do professor Siqueira Castro, preferia esperar o acórdão, já que o mote da decisão teria sido a perda de objeto, como consta da informação no site do Tribunal de Justiça.
Mas o homem, de faca e garfo nas mãos, queria ouvir mais. Talvez um novo panegírico até mesmo uma palavra renegada, porque ele mesmo nada expunha e, afinal, de alguém que você nunca viu mais gordo pode esperar as mais diversas atitudes.
Mas eu tinha minhas obrigações com a hora. Se há uma coisa que me tortura é chegar atrasado a um compromisso. Incrustou-se em minha personalidade um fato ocorrido quando eu, já jornalista, aos 18 anos, fui a uma reunião com colegas de outros países, na Rádio Havana, em Cuba. Um francês chegou depois da hora e pediu desculpas pelo atraso de cinco minutos.
- Cinco, não, cinqüenta – observou o colega alemão. Se somos dez, subtraiu cinco minutos da vida de cada um, portanto, nos atrasou cinqüenta minutos.
Não ia contar essa história para o homem que não parava de mastigar, enquanto lançava seu olhar fulminante sobre mim. Não vou dizer que ele me segurou pelo braço, que isso não aconteceu. Mas eu próprio me sentia acorrentado ao homem interessado em saber se eu sentia saudades do Brizola.
Foi então que me veio à cabeça a coincidência. Agora em junho, para ser exato no dia 21, transcorrerá o quarto aniversário da morte daquele que dedicou todos os 37 milhões e 800 mil minutos de sua vida à missão de transformar para melhor a vida dos brasileiros, especialmente os pobres como foi ele em sua infância de engraxate e ascensorista.
E com essa lembrança, sobreveio-me a convicção de que aquela pergunta, na hora do almoço, feita por um homem que continuo sem saber quem é, até porque não me ocorreu sequer perguntar-lhe o nome, tinha muita razão de ser.
Será que os brasileiros têm uma idéia de quem realmente foi Leonel de Moura Brizola? Será que estamos à altura de seu exemplo, assim como os muçulmanos sunitas tanta importância dão aos 22 anos de pregação do seu profeta?
coluna@pedroporfirio.com
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Sabor amargo depois do almoço
Deputado Paulo Ramos, assistente social Regina Maciel, Pedro Porfírio, Consuelo Maria, Bognesse, o incansável Paulo Resende, o grande comunicador do grupo de gtrabalhadores da Varig e aposentados do Aerus. Ao alto, um grupo de varignniaans, entre os quais Lúcia Lopes e Maria João.
Descontração e dignidade. No dia dos comissários, um encontro com profissionais que fizeram história e elevaram o nome do nosso país nos ceus do Brasil e dos quatro continentes. É uma pena que só o governo não saiba o crime que cometeu contra a aviação comercial brasileira ao abandonar a Varig e o Aerus à própria sorte.
Todo dia 31 de maio, em todo o mundo, os milhões de passageiros devem uma flor a uma das mais encantadoras atividades profissionais: o comissário de bordo.
E quando se fala nessa carreira, vem logo à mente a figura doce de aeromoças sempre atentas e prestativas, com um sorriso nos lábios e um mundo de história por contar.
No Brasil, essa homenagem é lembrada com almoços dos profissionais de hoje e de ontem. O mais tradicional, como não poderia deixar é o do pessoal da octogenária Viação Aérea Rio Grande – a nossa querida Varig.
Um almoço dessa natureza, nos dias de hoje, no entanto, tem um sabor diferente. O sabor amargo da incúria, da injustiça, da arrogância e do desrespeito.
Isso eu vi em cada semblante daqueles que se reencontraram com a dignidade que jamais lhes faltará no evento da Galeria Gourmet. Dia 28. Ali estava parte de uma história construída com muito amor, vocação, competência e responsabilidade.
Uma história que, para a infelicidade geral do Brasil, foi bruscamente interrompida com todos os requintes de traição e perversidade.
Porque não tem explicação, não tem lógica e, ainda por cima, atingiu milhares de brasileiros indefesos pela aposentadoria complementar de um fundo privado mal parado, surrupiada na maior, como uma tortura anunciada, no que ecoou como o mais indigno castigo a quem tanto serviços prestou a todos nós, ao longo de tantas décadas.
Ter ido aquele encontro, como já fizera no ano passado, me permitiu lavar a alma, por ver que aquelas pessoas traídas por quem cresceu empunhando a bandeira dos trabalhadores; aquelas pessoas sorriam, no entanto, pelo singelo prazer de rever colegas, entre os quais estava lá, amparada pelas muletas, a assistente social que foi durante 29 anos uma espécie de anjo da guarda dos profissionais da mais preparada corporação aérea do mundo.
Ao sair, ao despedir-me daquelas pessoas que permanecem vivas apesar das tentativas de holocausto, que sublimavam no seu dia a grande frustração do trágico desfecho de uma capítulo sujo da história da aviação comercial brasileira, uma sensação de revolta se apossou da minha alma.
Será que a história da civilização tem de passar por cortes tão brutais nas vidas das pessoas que jamais vacilaram no convívio com esse misterioso mundo das nuvens?
Será que não vai aparecer alguém de bom senso, de responsabilidade, para assumir a correção de um erro histórico, resgatando com todas as peças a empresa que um dia foi mais importante em muitas cidades do mundo do que nossa própria Embaixada?
Meu Deus! Como tudo isso me detona a própria fé nos poderes públicos, nos políticos, juizes e senhores da grande mídia. Como eu gostaria de ser mais jovem para fazer alguns pilantras amargarem o mesmo que aquela gente decente amarga desde que a Varig foi entregue de mão beijada a um aventureiro chinês e o fundo Aerus desmoronou. Como! Como!
coluna@pedroporfirio.com
E quando se fala nessa carreira, vem logo à mente a figura doce de aeromoças sempre atentas e prestativas, com um sorriso nos lábios e um mundo de história por contar.
No Brasil, essa homenagem é lembrada com almoços dos profissionais de hoje e de ontem. O mais tradicional, como não poderia deixar é o do pessoal da octogenária Viação Aérea Rio Grande – a nossa querida Varig.
Um almoço dessa natureza, nos dias de hoje, no entanto, tem um sabor diferente. O sabor amargo da incúria, da injustiça, da arrogância e do desrespeito.
Isso eu vi em cada semblante daqueles que se reencontraram com a dignidade que jamais lhes faltará no evento da Galeria Gourmet. Dia 28. Ali estava parte de uma história construída com muito amor, vocação, competência e responsabilidade.
Uma história que, para a infelicidade geral do Brasil, foi bruscamente interrompida com todos os requintes de traição e perversidade.
Porque não tem explicação, não tem lógica e, ainda por cima, atingiu milhares de brasileiros indefesos pela aposentadoria complementar de um fundo privado mal parado, surrupiada na maior, como uma tortura anunciada, no que ecoou como o mais indigno castigo a quem tanto serviços prestou a todos nós, ao longo de tantas décadas.
Ter ido aquele encontro, como já fizera no ano passado, me permitiu lavar a alma, por ver que aquelas pessoas traídas por quem cresceu empunhando a bandeira dos trabalhadores; aquelas pessoas sorriam, no entanto, pelo singelo prazer de rever colegas, entre os quais estava lá, amparada pelas muletas, a assistente social que foi durante 29 anos uma espécie de anjo da guarda dos profissionais da mais preparada corporação aérea do mundo.
Ao sair, ao despedir-me daquelas pessoas que permanecem vivas apesar das tentativas de holocausto, que sublimavam no seu dia a grande frustração do trágico desfecho de uma capítulo sujo da história da aviação comercial brasileira, uma sensação de revolta se apossou da minha alma.
Será que a história da civilização tem de passar por cortes tão brutais nas vidas das pessoas que jamais vacilaram no convívio com esse misterioso mundo das nuvens?
Será que não vai aparecer alguém de bom senso, de responsabilidade, para assumir a correção de um erro histórico, resgatando com todas as peças a empresa que um dia foi mais importante em muitas cidades do mundo do que nossa própria Embaixada?
Meu Deus! Como tudo isso me detona a própria fé nos poderes públicos, nos políticos, juizes e senhores da grande mídia. Como eu gostaria de ser mais jovem para fazer alguns pilantras amargarem o mesmo que aquela gente decente amarga desde que a Varig foi entregue de mão beijada a um aventureiro chinês e o fundo Aerus desmoronou. Como! Como!
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