terça-feira, 8 de julho de 2008

Justiça? Onde? Com a palavra um homem de bem

MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 9 DE JULHO DE 2008
Transcrevo hoje uma reflexão assinada pelo médico Leví Inimá de Miranda, coronel da reserva e perito legista aposentado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Homem de bem, militar íntegro e corajoso, suas palavras refletem um sentimento que está cada vez mais enraizado em nosso povo:

“O que dá pra rir dá pra chorar
Questão só de peso e medida
Problema de hora e lugar
Mas tudo são coisas da vida”
(“Canto Chorado” - Billy Blanco)

O sábado, 28.06.2008, foi tristemente marcante para duas famílias. De um lado, a morte de um jovem de 18 anos de idade; do outro, a morte de um menino de 6 anos de idade. Duas vidas interrompidas à bala.
O que há em comum entre as duas famílias? A dor sentida pelas mães é a mesma e ambos foram assassinados por Agentes do Estado; e nos dois casos sequer foi realizada Perícia de Local de Crime. Num, o Agente do Estado desempenhava função de “segurança” do filho “VIP” de uma promotora de justiça, que curtia a noite por boates da zona sul; no outro, o Agente do Estado participava de uma incursão policial numa favela do subúrbio carioca, ao tempo em que a criança encontrava-se sentada à porta de casa.
E o que há de incomum? Apenas a condição social, a qual não se cogita nas duas famílias, em meio suas dores, mas que é determinante para a sociedade, em geral, e para o Estado, em particular. Todavia, há um importante detalhe: o crime que enredou a morte de Daniel Duque foi protagonizado por um policial militar, à disposição do Ministério Público, pela Coordenadoria de Segurança e Inteligência, prestando segurança à promotora e ao filho desta, que, em meio aos seus despreparo e inconseqüência, atirou à curta distância, numa área letal do corpo da vítima, por motivação fútil, de forma insidiosa e não lhe permitindo defesa.
Revoltam-nos, a todos que nos sentimos justos, as mortes de Daniel Duque Pittiman e de Rafael Fernandes. Mas a visibilidade dada aos dois casos difere substancialmente, porquanto um morava em Ipanema e o outro morava na favela do Muquiço, em Guadalupe. Não sejamos hipócritas, pois bem sabemos que numa sociedade desigual, desumana e estratificada socialmente, é assim que as coisas caminham. Mas não deveria sê-lo, com relação à Justiça; e ai também se inclui a polícia judiciária. Ora, os delegados de polícias das duas circunscrições onde se deram os crimes não compareceram aos Locais de Crime, deixando de cumprir o que bem prescreve o Art. 6° do Código de Processo Penal, e tampouco deram providências às realizações de Reprodução Simulada de Local de Morte, em cumprimento ao estabelecido no Art. 7° do mesmo diploma legal. O delegado Rafael Menezes – o mesmo que, segundo depoimento do soldado PM Marcos Parreira do Carmo, telefonou para este, no dia do crime, avisando-o de que o jovem havia morrido – ainda foi mais além em sua desídia, quando textualmente sentenciou: “(..)Não cabe à polícia saber se o tiro foi em legítima defesa ou não. A Justiça é que pode dizer isso(..)”. Necessário se faz saber que tipo de formações esse delegado recebeu na Faculdade de Direito, onde se bacharelou, e na ACADEPOL, onde foi aluno do Curso de Formação de Delegados de Polícia. E mesmo diante desse aviltamento à Lei Processual Penal, a Corregedoria de Polícia Civil, a Corregedoria Unificada, o Chefe de Polícia Civil e o Secretário de Estado de Segurança Pública sequer se manifestaram, ou qualquer providência tomaram, diante de tamanhos absurdos. E o que é inacreditável ao tempo que inominável: nem o Ministério Público o fez, como representante do povo, como fiscal da Lei, como fiscal do inquérito e como fiscal das ações de polícia. As autoridades públicas constituídas sequer “lavaram as mãos”; apenas deram de ombros e viraram as costas!
“A polícia do Rio de Janeiro, por exemplo, recebe de volta do Judiciário 92% dos inquéritos de homicídio por estarem malfeitos” (Zaluar, 2004). E é justamente por isso que só 2% dos homicídios têm autoria definida.
Consultando artigo escrito pela jornalista Fátima Souza, autora do livro “PCC – A Facção”, pela Editora Record, vemos que ela esclarece que tal discriminação social não é atinente só à polícia, mas também se estende à mídia. E cita (palavras textuais): “Um dia, fui fazer uma matéria sobre um menino assassinado. Meu chefe perguntou: ‘é filho de quem?’. De um pedreiro e de uma doméstica. Não saiu. Outro dia, o filho de um médico foi seqüestrado – aí teve helicóptero de todas as emissoras”. E prossegue: “As matérias privilegiam o rico – e não estou dizendo que não tem que noticiar o filho do rico. Estou dizendo que não se deve diferenciar”.
Têmis, a deusa grega da Justiça, era representada como uma divindade de olhar austero, seus olhos ainda não eram vendados e segurava uma balança em uma das mãos, o que, até hoje simboliza o equilíbrio entre as partes envolvidas em uma relação de
Direito; e, na outra mão, uma espada, que caracteriza o poder exercido pela Justiça. A imagem da Têmis, como conhecemos hoje, passou a ter a venda nos olhos por criação de artistas alemães do século XVI, simbolizando, desta forma, a imparcialidade. Isso significa dizer que a Têmis, por ser a própria exteriorização da Justiça, não vê diferenças entre as partes em litígio, sejam ricos ou pobres, poderosos ou humildes, grandes ou pequenos. Suas decisões, justas e prudentes, não são fundamentadas na personalidade, nas qualidades das pessoas ou, ainda, no seu poder, mas apenas, na sabedoria das leis. A estátua de Themis, à frente do prédio do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, ainda tem a venda nos olhos, mas está sentada e não mais empunha a espada, que se encontra repousada “nas coxas”.
No Brasil há crimes, criminosos e vítimas diferenciados, em razão da condição sócio-econômica. Porém, nossa polícia é sempre a mesma: desinteressada, falha e omissa, independente de qualquer consideração outra.
Bem disse o senhor Paulo Roberto, pai do menino Rafael Fernandes: “(..)às vezes, Deus se esquece de gente pobre(..)”.
De tristeza em tristeza e de sofreguidão em sofreguidão, a população, em geral, vê-se desprezada e tangida para o mar de incompetência de nossa política de segurança pública.
Dr. Leví Inimá de Miranda – CEL MED REF (EB)
Perito Legista aposentado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro

5 comentários:

Anônimo disse...

Dr Levi Inima...

Tenho a honra de conhecê-lo, Homem íntegro, profissional dedicado, sério e profundo conhecedor da Medicina Legal em nosso atormentado País.

Um abraço aos Homens do Bem.

C.H. Durão

Unknown disse...

Inimá sempre te considerei um grande homem,amigo e profissional.Fico honrada em ter tido a oportunidade de te conhecer e saber que vc faz a diferença, como homem,como ser humano e Saudades Mara.

moura disse...

Ao Dr Levi Inima tive a honra de conhecer uma pessoa de carater digno,um homen sério,intrego...de conhecer um profissional correto...pois só as pessoas de valores é que fazem um trabalho certo e honesto. Pois hoje a nossa tecnologia esta muito avançada e com um trabalho honesto e sério a verdade provalece.

Deusa disse...

Ao perito legista Levi Inimá um abraço ao homem de bem,poucos são as pessoas que trabalham honesto, correto, que são dignas do seu trabalho, eu só tenho a agradecer,um trabalho honesto que o senhor fez...fico honrada em saber que existe gente como o senhor que faz a diferença.

Anônimo disse...

Ao Dr Levi Inima.....
tenho a honra de falar deste homen intrego,serio um bom profissional, embora em um momento muito dificil da minha vida,tive a honra de me deparar com um homen de bem,pois só as pessoas de valores é que fazem um trabalho sério, honesto e verdadeiro.