quarta-feira, 23 de julho de 2008

Duas ou três palavras sobre os cidadãos e as eleições

MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 22 DE JULHO DE 2008
Parece claro que as eleições municipais deste ano terão como principal novidade a rejeição de velhos referenciais políticos e a emergência de outros, independente de destes serem consistentes ou não.
E m geral, os pleitos nas cidades são marcados por um baixo índice de politização e exigências pontuais, que realçam relacionamentos pessoais em prejuízo do talento e da vocação dos candidatos.
Num ambiente cada vez mais despolitizado, com a influência de um baixíssimo nível de informação, os eleitores tendem a virar as costas para os problemas centrais e a nivelarem os políticos num mesmo patamar degradado.
A idéia de que todos os candidatos aparecem com o único objetivo de tirarem proveito dos seus mandatos leva os cidadãos a uma postura nada seletiva. Na verdade, o que se vê é isso mesmo, porque a mídia só salienta o lado negativo da vida pública, lado, aliás, cada vez mais dominante.
O voto deixa de ser uma escolha criteriosa, com base em avaliações distanciadas para se tornar expressão de pequenos interesses locais e até pessoais.
É possível que a grande massa de eleitores continue subestimando a força do seu voto como ferramenta de grande alcance político e social.
Isto porque o processo de alienação vem sendo construído através dos anos, com o agravante de que na própria batalha da sobrevivência as pessoas estão cada vez mais descrentes das ações coletivas.
A idéia generalizada é de que cada um tem de resolver seus problemas e conquistar individualmente seus direitos e seus espaços, sob o domínio de uma ideologia que fomenta a competição entre todos e cada um. Nessa busca pessoal, vale tudo, inclusive recorrer a pequenos desvios de conduta, numa de que, como é inútil brigar pelo certo, trata-se de recorrer à esperteza e à astúcia.
A manipulação da sociedade é hoje tão brutal que já não se fala em diferenças de classe. Antes, até na mesma família, entre colegas de trabalho e parceiros há uma guerra surda alimentada por uma convivência de desconfianças e de hipocrisias.
Essa mentalidade repercute na intervenção das pessoas nos processos políticos. Como a população pouca espera dos seus candidatos, também amesquinha suas querências e chega ao ponto de reclamar do voto obrigatório, de onde o transforma numa peça de troca de retorno baixo e imediato.
No entanto, a exacerbação dos sentimentos menores pode produzir efeitos contrários novos, segundo a fórmula aritmética de que menos com menos dá mais.
É sobre essas complexas possibilidades que pretendo me referir nesses dias.
coluna@pedroporfirio.com

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