quarta-feira, 23 de julho de 2008

Uma reflexão oportuna sobre a greve dos Correios


MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 24 DE JULHO DE 2008

Agora que os trabalhadores dos Correios estão voltando ao trabalho, após uma greve de 21 dias que afetou a vida de todos os brasileiros (e até de quem mora em outros países) cabe uma avaliação de todos nós, que pagamos o pato sem ter nada com isso.
Em primeiro lugar, é preciso deixar claro: o trabalhador não paralisa suas atividades por mera disposição de criar embaraços. Antes, pelo contrário, os carteiros, em particular, eram os mais incomodados com o movimento que a que foram compelidos mais uma vez, devido a uma prática muito comum no governo do Sr. Luiz Inácio, ironicamente um político que emergiu fazendo greves.
Tem sido uma perniciosa prática rotineira, mais do que a intransigência, algo impensável num governo do Partido dos Trabalhadores, o não cumprimento de acordos firmados anteriormente. Ou, quando não, a assinatura de acordos que permitem dupla interpretação.
No caso dos Correios, trava-se uma antiga batalha de interpretação da Lei que garante adicional de periculosidade para algumas categorias. Num primeiro momento, a empresa estatal, considerada uma das mais eficientes do mundo no ramo exatamente pelo desempenho dos seus empregados, chegou a pagar essa gratificação.
Depois, numa interpretação unilateral, decidiu suspender e “pagar para ver”, com a contratação de funcionários terceirizados, sem nenhuma aptidão, o que acarretou prejuízos para a população e ainda vai dar muita dor de cabeça.
E por que a greve se prolongou por tanto tempo? O secretário geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares, José Gonçalves, pôs o dedo na ferida com muita propriedade:
“O governo demorou a entrar na negociação. Talvez não tivesse sido necessário tanto tempo” – disse com toda razão.
E por que o governo demorou a entrar na negociação? Parece claro que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, está sendo limitado em suas atribuições. É certo que se tratava de uma greve numa empresa subordinada ao Ministério das Comunicações. Mas este exerceria o papel patronal, com o dever de preservar o enfoque da empresa.
Já o Ministério do Trabalho, historicamente, desde os tempos gloriosos de João Goulart, que assumiu em meio a uma greve de portuários (de estatal) e conseguiu o entendimento, teria que ter bancado a intermediação do conflito desde o conhecimento da intenção dos funcionários.
Pelo que conheço do ministro Carlos Lupi, se entrasse em campo com sua reconhecida habilidade, talvez não tivéssemos chegado a esses transtornos, que custaram o atraso de 150 milhões de cartas, muitas com boletos de cobranças, que vão acabar acarretando problemas para os cidadãos.
Resta saber o que está por trás desse contingenciamento da função do ministro do Trabalho, mas uma coisa é certa: os burocratas do PT nunca engoliram a perda desse Ministério para outro partido.


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