quinta-feira, 19 de junho de 2008

Executados porque eram pobres e favelados

Enterro dos jovens do Morro da Providência entregues por militares aos traficantes do Morro da Mineira: mais três para a coleção dos milhares jovens, vítimas da banalização das execuções de pobres e favelados, cujas investigações engrossam a lista dos crimes "sem solução".
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 19 DE JUNHO DE 2008
O que aconteceu no Morro da Providência, envolvendo um grupo de homens do Exército, está causando uma grande perplexidade por suas características inusitadas.
Não se tem notícia de algo parecido: militares prendem três moradores de uma favela por desacato e, orientados a libertá-los por ordem superior, em represália, decidem soltá-los numa outra comunidade, dominada por bandidos de uma facção rival.
Certamente, a história não é bem essa. E provavelmente, será muito difícil saber o que realmente aconteceu, embora o tenente que comandou o grupo tenha contado essa versão, com a declaração de que não estava arrependido do que fez.
Para entender esse acontecimento brutal, é preciso deixar claro, em primeiro lugar, que essa é uma prática totalmente fora da realidade de uma instituição militar.O Exército não tem sido empregado em tarefas semelhantes a que lhe foi atribuída nesse projeto do Morro da Providência: não há a menor hipótese de que haja clima em todas as Forças Armadas de hoje para um ato tão inexplicável, com requintes da maior irresponsabilidade e da pior selvageria.
Também não é correto investir contra o projeto, que é uma experiência nova e acontecia tranquilamente dentro do objetivo a que se propôs, nada diferente das antigas ACISOS - ações militares de cunha social.
Nada diferente do que acontece rotineiramente na Venezuela de Hugo Chávez, onde as Forças Armadas prestam serviços de toda natureza diretamente às comunidades.
E até mesmo do Haiti, onde tropas brasileiras atuam com sucesso nas áreas pobres e violentas do país.
Considere-se, igualmente, que a grande maioria dos militares das três armas é formada por cidadãos oriundos das classes de renda menor, inclusive na oficialidade.
Você me perguntará: então, porque 11 soldados do Exército fizeram aquilo?
A resposta está na ponta da língua: infelizmente, neste país, a vida do pobre, do favelado, do morador da periferia não vale um níquel.
Dos milhares de casos sem solução nas prateleiras das delegacias policiais, a quase totalidade envolve a execução de pessoas pobres, vítimas de uma cultura de impunidade quando elas são os alvos.
Entre as famílias dessas comunidades, há sempre um dia de luto por conta da morte violenta de um dos seus filhos. É só conferir. Policiais e bandidos coincidem no mesmo critério: esse tipo de crime não tem castigo.
Tanto que até agora só se falou nos militares que, como já definiram seus superiores, mancharam o uniforme, numa situação insólita: a grande maioria dos moradores do Morro da Providência estava satisfeita com o projeto.
Mas não me consta que a polícia tenha corrido atrás dos bandidos que executaram os três jovens, num nível de perversidade que só surpreende quem não conhece o clima de desesperança imperante entre jovens dessas favelas, para os quais a sina é matar ou morrer.
Só espero que, antes de tentarem "politizar" essa aberração, que não pode deixar ninguém impune, os formadores de opinião sejam honestos o suficiente para ir fundo na questão da banalização do crime contra os pobres. De parte a parte.
coluna@pedroporfirio.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Eram pobres e favelados, mas parece
que insultaram os militares, não foi?

Ser pobre e favelado não é motivo
para usar de má educação para com
as autoridades, pois os militares
lá presentes eram autoridades...