terça-feira, 15 de maio de 2007

NERVOS DE AÇO PARA VIVER EM UMA FAVELA

Você sabe o que ter nervos de aço? Sabe que isso é o mínimo que se requer para quem vive hoje numa favela?
Nesse domingo, ao cair da tarde, fui ao Jacarezinho para assistir á posse da nova diretoria da Associação de Moradores, cujo presidente, meu amigo Vado, foi reeleito.
O ato aconteceu na sede da Escola de Samba, de frente para a Avenida Dom Helder Câmara. Portanto, não precisava nem entrar na comunidade.
Mas a esquina dessa via com a Democráticos, na entrada pela “prainha”, já é considerada uma área de risco. De vez em quando é lá que começam as fuzilarias.
Ficou claro que hoje existe uma espécie de refúgio domiciliar. A maioria dos moradores só sai de casa até a hora do almoço, sábados e domingos. Ou então quando vai trabalhar durante a semana.
Tudo isso porque ninguém se garante e ninguém garante a vida de ninguém. A qualquer hora, as balas podem zunir de um lado para outro, independente do movimento humano, do passar das pessoas e de uma vida própria na comunidade de 60 mil habitantes, que tem uma feirinha a semana inteira e um comércio maior do que o do bairro do Jacaré.
A polícia vai para reprimir o tráfico, mas as balas não escolhem vítimas. Por uma certa fatalidade, pegam logo quem não tem nada a ver com o peixe. É terrível o estado de ânimo de todos, sobretudo das crianças, que estudam fora da comunidade: além de dois CIEPs que ainda funcionam em tempo integral e são dirigidos com muito carinho, há outras cinco escolas públicas nas imediações.
Não dá dúvida de que existe um bom número de traficantes na favela. Mas qual é a culpa dos moradores? O combate a eles tem que ser assim, no estilo faroeste?
Quando candidato, o governador Sérgio Cabral criticava esse tipo de operação, capitaneada por um veículo blindado – o Caveirão – cujos atiradores ninguém vê.
No entanto, não tem sido diferente. A diferença em relação ao governo anterior é que antes ainda existiam programas sociais, a “Casa da Paz” ainda funcionava.
Neste momento, como constatei com meus próprios olhos, a população do Jacarezinho, 99,9% de trabalhadores e pessoas pacíficas, só conhece a polícia nervosa como única face de um Estado que parece suspeitar de todos.
É isso que acaba fortalecendo ainda mais os foras da Lei.

coluna@pedroporfirio.com

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