Ao lado da política de contenção da inflação, baseada no arrocho salarial para conter o consumo e, assim, forçar preços baixos, há um outro fator que tem pesado muito no aumento do desemprego: a utilização de tecnologias modernas, graças às quais se pode produzir mais com o menor número de trabalhadores.
Para fazer frente a esse problema, o governo do presidente Lula tem sido influenciado pela idéia de que é preciso fazer uma reforma trabalhista, que reduza os direitos e o salário real dos empregados.
A meu ver, essa não é a saída para abrir postos de trabalho no mercado. Veja o que se passa no setor automobilístico,onde investimentos maciços e duplicação da capacidade produtiva não resultaram em geração de novos empregos.
Ao contrário, com os investimentos feitos as empresas puseram em prática um amplo programa de modernização e automação, cortando milhares de postos de trabalho. Para se ter uma idéia do estrago ocorrido neste setor, basta dizer que, na década de 80, para uma capacidade de produção de um milhão e quinhentos mil veículos, as montadoras empregavam 140 mil empregados. Hoje, para uma capacidade de produção de três milhões de veículos, as montadoras empregam apenas 90 mil trabalhadores.
É muito fácil imaginar que com uma “reforma” que acabe com o 13º salário, com o adicional de férias e outros benefícios que fazem parte da renda do trabalhador, é um santo remédio.
Quando dizem que temos o maior volume de encargos sociais (o empregado custaria o dobro do seu salário a uma empresa) esquecem que o que se recebe é muito pouco em relação a outros países.
Mesmo com a queda do dólar, moeda que se usa para fazer as comparações, o nosso é um dos menores salários mínimos do mundo. Até prova em contrário, só a Serra Leoa, na África, e o Haiti, no Caribe, pagam menos como piso.
O mais grave é que existe no Brasil uma velha prática de que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Como nossos sindicatos estão desmobilizados – alguns desacreditados – vai acabar sobrando para o assalariado. E aí a crise será ainda maior, porque vai faltar quem tenha dinheiro para comprar alguma coisa.
coluna@pedroporfirio.com
segunda-feira, 21 de maio de 2007
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