quinta-feira, 24 de maio de 2007

FICA O DITO PELO NÃO DITO

Outro dia mesmo, o senador José Agripino disse, ao vivo e a cores, que não precisava de CPI para os estragos da “Operação Navalha”. Alegava que a Polícia Federal vinha fazendo esse trabalho com competência e que essa era uma crise no governo. Não podia ser levada para dentro do Congresso.
Ontem, deixou o dito pelo não dito. Por quê? Adivinhe. Não precisa fazer muito esforço. Está correndo uma boataria braba de que há pelo menos 29 parlamentares no caderninho do Zuleido, o “Charles Bronson” do Nordeste que ganhou uma grana preta com obras fantasmas e/ou superfaturadas.
Certamente a turma do deixa disso reavaliou. “É melhor trazer a investigação para dentro do Congresso e assumir o controle das informações antes que não sobre ninguém para contar a história”.
Espera-se agora que haja um grande acordo entre os políticos de todos os partidos, e até com a própria mídia, para dar novas tinturas às investigações, embora se fale a boca pequena que já há um novo listão de futuros algemados.
Na quarta-feira, o presidente da Câmara Federal fez uma patética reunião com os líderes de 19 partidos e propôs: a gente tem que fazer qualquer coisa para abafar essa história de que acabar sobrando para os deputados.
Nessa linha, o líder do governo, deputado José Múcio, do PTB pernambucano, fez um pronunciamento dramático ao definir o assunto como "um instinto de sobrevivência da espécie, do parlamento e do parlamentar. Se algo não for feito com muita coragem, acaba o mandato parlamentar".
O escândalo já está sendo objeto de chacotas na imprensa internacional. Alias, está desatualizado o jornal britânico “Financial Times” quando diz que o Brasil é o país do “rouba, mas faz”. Com essas cortantes revelações da “navalha” ficou claro que já aceitamos o “rouba, mas não faz” e a festa continua.
Disse o jornal inglês: “Os recentes escândalos provocaram aumento da desilusão da população com os políticos locais e nacionais do Brasil, onde a frase rouba, mas faz é freqüentemente usada em sinal de aprovação”.
De qualquer jeito, temos matéria farta para comentar. Afinal, como dizia Nikita Kruschev, ex-todo poderoso da ex-União Soviética, "Os políticos em qualquer parte são os mesmos. Eles prometem construir pontes, mesmo quando não há rios".
coluna@pedroporfirio.com

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