domingo, 27 de maio de 2007

A EDUCAÇÃO SEM MEIAS VERDADES

COLUNA DE PEDRO PORFÍRIO NO POVO DO RIO DE 28.05.07
Nada é mais negativo numa sociedade democrática do que a manipulação da informação. Esse mal é ainda maior quando parte de quem tem obrigação de transmitir conhecimento e formar gerações.
Estou falando da onda que fizeram contra a decisão do prefeito César Maia, através da Secretaria Municipal de Educação, de introduzir o sistema de ciclos nas escolas municipais, medida prevista na Lei de Diretrizes e Bases do ensino, apontada pelos especialistas sérios como a única fórmula de garantir a ESCOLA POSSÍVEL.
O sistema de ciclos é uma verdadeira revolução e, a meu ver, o único capaz de manter uma relação honesta e produtiva entre a escola, os professores, os alunos e seus pais.
É verdade que ele acaba com a avaliação através de provas e notas, mas isso não significa, como dizem más línguas, que o aluno poderá concluir o primeiro grau sem saber sequer assinar o próprio nome.
Quem pensa assim ou quem manipula as informações sobre o novo processo de avaliação para “celebrar a falência da escola pública” é ruim da cabeça ou age de má fé.
Na verdade, temos um grande avanço na medida em que oferecemos ao aluno a oportunidade de gostar de ir à aula, sem depender do bom humor ou da simpatia de um professor. Todo mundo sabe que uma verdadeira paranóia monitora o ensino hoje, com conseqüências trágicas.
Os alunos são compelidos a acharem que estarão garantindo o futuro na medida em que tenham notas para passar de ano. Ter uma nota razoável é tudo que o aluno quer, nem que para isso tenha que “colar”, fraudar, pedir ajuda ao colega.
A escola hoje é apenas isso: estudar para passar. Esse sistema joga na rua milhares de alunos, em todos os níveis, totalmente despreparados. De tal forma que inventaram até cotas para estudantes de escolas públicas, que concluem o segundo grau sem condições de entrar numa universidade do Estado.
Temos aí uma grave distorção que, além de tudo, é responsável pela desistência de muitos alunos, bons numas matérias, mas fracos noutras. De uma escola onde ter nota para passar é a única meta não se pode esperar muito. Porque nem sempre ter nota traduz conhecimento. E isso responde pela falta de pessoal qualificado para o mercado de trabalho, como falarei em outra oportunidade.

A LIÇÃO DE UMA DELEGADA INTELIGENTE

Coluna POVO DO RIO 27.05.07
Taí uma delegada que merece nossos aplausos. Seu nome: Patrícia Aguiar de Paiva Ribeiro, 30 anos, há seis na Polícia.
Ela comandou uma operação de inteligência (manchete do POVO de sexta-feira) que enfatiza sua atuação à frente de uma equipe homogênea, que espero não se perca por esses caminhos tortuosos.
Graças ao uso da tecnologia, ela estourou um esquema de desmanche de carros roubados e prendeu uma quadrilha chefiada por um policial. Essa gang era uma sofisticada organização criminosa, que roubava carros, desmanchava, fraudava documentos e ainda vendia os produtos dos roubos com certo requinte.
Os kits de gás, por exemplo, eram vendidos por um cabo do Corpo de Bombeiros, enquanto um outro larápio era especializado em negociar com proprietários que simulavam roubos dos seus veículos para receberem os seguros.
Na “Operação Savana”, ela, que agora está á frente da antiga Delegacia de Entorpecentes, reuniu um total de 55 policiais e chegou ao desmanche depois de colocar um GPS (aparelho que facilita o rastreamento) no veículo do chefe da quadrilha, que estava sendo investigado no sapatinho.
Mas a delegada Patrícia de Paiva e seu pessoal devem ser festejados por uma trajetória de fazer inveja: em três anos de trabalho, prenderam mais de cem bandidos SEM DAR UM TIRO, na técnica, segundo os métodos de quem realmente quer chegar lá e não de quem prefere matar, provocar tiroteios e outras encenações para fazer de conta que está combatendo o crime.
Desde que entrei numa redação – há 47 anos – aprendi que é esse tipo de policial que consegue resultados e faz bem à sociedade. No meu tempo de ÚLTIMA HORA, conheci o detetive Perpétuo, da década de 60, que nunca jogou uma bala fora.
Depois, na década de 70, vi o trabalho inteligente do detetive Jamil Warvar, que descobriu muitos casos “perdidos” sem recorrer ao bang-bang. O mais importante deles foi o assassinato de Claudia Lessin, morta por Michel Frank, um playboy milionário.
Só espero – repito – que a delegada Patrícia de Paiva não mude, como outros que se deixaram seduzir pelo canto da sereia, inclusive uma colega sua, cuja carreira acompanhei.
A sociedade precisa desesperadamente de policiais dessa têmpera, desse profissionalismo e desse caráter.

ACABOU SOBRANDO PARA A PF

Coluna POVO DO RIO 26.05.07
Pronto. Foi só a Polícia Federal mexer nas relações perigosas entre empreiteiras e políticos para o céu cair sobre a cabeça do seu pessoal.
Se deixar, vão acabar aprovando uma Lei no Congresso limitando sua atuação como nos velhos tempos: colarinho branco volta a ter imunidade e o povo que pague o pato.
Francamente, é possível que tenha havido algum tipo de excesso, como em qualquer outra operação policial. Mas por que só agora estão chiando?
A bem da verdade, a Polícia Federal ainda precisa de mais equipamentos e maiores recursos tecnológicos. Parte do seu pessoal bem que poderia fazer treinamentos mais sofisticados. Pelo que a gente vê, há sinais de um esforço sobre-humano nas suas investigações.
Há também muito constrangimento. Embora observem rigorosamente os processos legais e operem em todos os casos sob a direção do Ministério Público, mediante autorizações judiciais, seus investigadores sabem que ainda pisam em ovos, principalmente quando alcançam detentores de mandatos e titulares de poderes.
No caso, já nem é sobre a navalhada conhecida que estão reclamando. O medo é do que não foi divulgado e do que ainda pode ser apurado, no desdobramento inevitável dessa investigação que devia ter o apoio amplo, geral e irrestrito de todos, doa a quem doer, como disse o presidente Lula.
É que, como não poderia deixar de ser, nesse ambiente de promiscuidade, em que se paga muito mal ao funcionalismo público, desde o próprio cargo de Ministro, isso ia bater mesmo nas portas de alguns figurões.
A revista VEJA desta semana está publicando uma reportagem bomba sobre o presidente do Senado, Renan Calheiros.
Segundo a matéria, o s dono da Gautama, Zuleido Veras, foi quem bancou a campanha do senador quando disputou a eleição de governador, em 1990. Daí, nasceu uma íntima amizade, sobre a qual um dia o próprio senador ACM se referiu, para mandar Calheiros ficar caladinho.
A revista apontou outra construtora, a gigante Mendes Junior, que pagaria uma pensão de 12 mil reais e mais o aluguel de 4 mil e 500 reais para a jornalista Mônica Veloso, que tem uma filha de três anos com o presidente do Senado.
Isso, que provocou o maior qüiproquó ontem em Brasília, é obra da revista. Mas, com certeza, vai sobrar para cima da PF.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

FICA O DITO PELO NÃO DITO

Outro dia mesmo, o senador José Agripino disse, ao vivo e a cores, que não precisava de CPI para os estragos da “Operação Navalha”. Alegava que a Polícia Federal vinha fazendo esse trabalho com competência e que essa era uma crise no governo. Não podia ser levada para dentro do Congresso.
Ontem, deixou o dito pelo não dito. Por quê? Adivinhe. Não precisa fazer muito esforço. Está correndo uma boataria braba de que há pelo menos 29 parlamentares no caderninho do Zuleido, o “Charles Bronson” do Nordeste que ganhou uma grana preta com obras fantasmas e/ou superfaturadas.
Certamente a turma do deixa disso reavaliou. “É melhor trazer a investigação para dentro do Congresso e assumir o controle das informações antes que não sobre ninguém para contar a história”.
Espera-se agora que haja um grande acordo entre os políticos de todos os partidos, e até com a própria mídia, para dar novas tinturas às investigações, embora se fale a boca pequena que já há um novo listão de futuros algemados.
Na quarta-feira, o presidente da Câmara Federal fez uma patética reunião com os líderes de 19 partidos e propôs: a gente tem que fazer qualquer coisa para abafar essa história de que acabar sobrando para os deputados.
Nessa linha, o líder do governo, deputado José Múcio, do PTB pernambucano, fez um pronunciamento dramático ao definir o assunto como "um instinto de sobrevivência da espécie, do parlamento e do parlamentar. Se algo não for feito com muita coragem, acaba o mandato parlamentar".
O escândalo já está sendo objeto de chacotas na imprensa internacional. Alias, está desatualizado o jornal britânico “Financial Times” quando diz que o Brasil é o país do “rouba, mas faz”. Com essas cortantes revelações da “navalha” ficou claro que já aceitamos o “rouba, mas não faz” e a festa continua.
Disse o jornal inglês: “Os recentes escândalos provocaram aumento da desilusão da população com os políticos locais e nacionais do Brasil, onde a frase rouba, mas faz é freqüentemente usada em sinal de aprovação”.
De qualquer jeito, temos matéria farta para comentar. Afinal, como dizia Nikita Kruschev, ex-todo poderoso da ex-União Soviética, "Os políticos em qualquer parte são os mesmos. Eles prometem construir pontes, mesmo quando não há rios".
coluna@pedroporfirio.com

quarta-feira, 23 de maio de 2007

UMA CIDADE PRA LÁ DE BAGDÁ

Pra isto aqui virar Iraque só falta homem-bomba. Porque de resto esta cidade abençoada pelo Cristo Redentor, nosso candidato a Cristo Maravilha, já está pra lá de Bagdá.
Mas fala baixo. Pode alguém do morro achar um desesperado sem emprego, sem casa, sem comida e sem roupa lavada que se preste a ser o nosso dinamite.
Se você pensa outra coisa, o que leva um garoto das arábias a carregar uma bomba no próprio corpo é a falta absoluta de condições de sobrevivência digna. Digo isso porque estive lá. E por nossas favelas o que não falta é rapaz sem saber o que será do amanhã.
Aqui, a guerra é diferente. Não é uma guerra santa e nem tampouco houve desembarque de tropas estrangeiras afiadas até os dentes.
Aqui, informe-se aos incautos, a maior assassina é a bala perdida. Sobram armas e munições de parte a parte. E falta pontaria.
É como se fôssemos alvos do fogo amigo. Não há uma área protegida, não há espaço seguro em lugar nenhum. A polícia está dando prioridade à guerrilha nos morros, mas no asfalto também estamos expostos às balas da vez.
O Rio está tão conflagrado que acaba de registrar o primeiro caso de granada perdida. Foi no Morro do Juramento. Como não podia deixar de ser, a granada explode sempre do lado mais fraco. O petardo destelhou um barraco na Rua Tupiniquins e atingiu uma criança de dois anos e seus pais. Todos estão à morte.
Seguindo sua própria bússola, quase na mesma hora, a polícia matou dois caras no Morro do Urubu, a uns 10 kms de distância, e foi logo dizendo que eles eram os donos da granada perdida.
A polícia, aliás, pode se orgulhar de novos recordes no “pan” da morte. Nunca se matou tanto como nesses últimos três meses. Nem no tempo da gratificação faroeste.
Os números oficiais do Instituto de Segurança Pública que não me deixam mentir. E nem por isso, as modalidades de crimes caíram. Pelo contrário, segundo a mesma fonte, das 20 modalidades do catálogo, 16 aumentaram em relação aos meses anteriores.
A grande novidade é a coleção de balas perdidas: numa única batalha, a da Vila Cruzeiro e seus vizinhos do Complexo do Alemão, as balas perdidas fizeram meia centena de vítimas em 20 dias. Número igual ao dos mortos, com ampla vantagem para as tropas policiais.
coluna@pedroporfirio.com

terça-feira, 22 de maio de 2007

RABO PRESO É ISSO AÍ

Até outro dia, a qualquer sinal de falcatrua, mesmo que a Polícia Federal e o Ministério Público já estivessem com o mapa da mina, os nossos preclaros deputados e senadores corriam para pedir uma CPI.
Durante os últimos anos, o prato cheio do Congresso foi feito de comissões parlamentares de inquérito. Uma atrás da outra, ou melhor, uma ao lado da outro, em paralelo.
CPI dos correios, da compra de votos, do mensalão, dos sanguessugas, tudo e mais alguma coisa. Praticamente, essas CPIs não davam em nada, porque na hora do pega pra capar aparecia sempre a turma do deixa disso.
O próprio Valério, aquele careca cínico que comprou meio mundo, está por aí, lépido e fagueiro, sem ser incomodado por ninguém. Ele, aliás, ao contrário do que tem acontecido atualmente, nunca viu o sol nascer quadrado.
Em compensação, as CPIs davam tremendo Ibope para as televisões da Câmara e do Senado. E permitia que os seus integrantes mostrassem serviço, no papel de salvadores da pátria.
Agora, quando a Polícia Federal provocou esse “furacão” que tirou o telhado de muita gente, até de um ministro do STJ, e passou a navalha na carne da gente fina dos governos, pegando ministros e governadores com a mão na massa, nem fale em CPI que você vai arranjar uma tremenda encrenca.
Precisa ver as declarações do senador Agripino Maia, líder dos Democratas (ex-PFL): “Não, não precisa que a gente se meta nessa, porque a Polícia Federal já está levantando tudo”.
É mesmo? Por que será que a quase totalidade dos líderes partidárias não querem nem ouvir falar na “CPI da Navalha”, começando pelo presidente do Senado, Renan Calheiros e pelo todo poderoso José Sarney, padrinho do ministro Silas Rondeau, o tal que teria recebido grana preta pelo elevador privativo?
Por que será? Adivinhe e ganhe um doce. Um doce e olhe lá, porque qualquer um de mediana inteligência sabe que a maioria dessa turma que ganhou seu voto está de rabo preso nessa investigação. E se não tiver nessa empreiteira, vai estar noutra, que a PF já investiga, porque o exercício do mandato degenerou geral e ninguém quer ver seu nome nessa fita de terror.
Embora você acabe votando de novo nesses mesmos trapalhões, eles, no momento, preferem estar longe duas luzes dos holofotes. Porque os rabos presos cresceram mais da conta e estão à mostra.

coluna@pedroporfirio.com

segunda-feira, 21 de maio de 2007

A CORDA ARREBENTA SEMPRE DO LADO MAIS FRACO

Ao lado da política de contenção da inflação, baseada no arrocho salarial para conter o consumo e, assim, forçar preços baixos, há um outro fator que tem pesado muito no aumento do desemprego: a utilização de tecnologias modernas, graças às quais se pode produzir mais com o menor número de trabalhadores.
Para fazer frente a esse problema, o governo do presidente Lula tem sido influenciado pela idéia de que é preciso fazer uma reforma trabalhista, que reduza os direitos e o salário real dos empregados.
A meu ver, essa não é a saída para abrir postos de trabalho no mercado. Veja o que se passa no setor automobilístico,onde investimentos maciços e duplicação da capacidade produtiva não resultaram em geração de novos empregos.
Ao contrário, com os investimentos feitos as empresas puseram em prática um amplo programa de modernização e automação, cortando milhares de postos de trabalho. Para se ter uma idéia do estrago ocorrido neste setor, basta dizer que, na década de 80, para uma capacidade de produção de um milhão e quinhentos mil veículos, as montadoras empregavam 140 mil empregados. Hoje, para uma capacidade de produção de três milhões de veículos, as montadoras empregam apenas 90 mil trabalhadores.
É muito fácil imaginar que com uma “reforma” que acabe com o 13º salário, com o adicional de férias e outros benefícios que fazem parte da renda do trabalhador, é um santo remédio.
Quando dizem que temos o maior volume de encargos sociais (o empregado custaria o dobro do seu salário a uma empresa) esquecem que o que se recebe é muito pouco em relação a outros países.
Mesmo com a queda do dólar, moeda que se usa para fazer as comparações, o nosso é um dos menores salários mínimos do mundo. Até prova em contrário, só a Serra Leoa, na África, e o Haiti, no Caribe, pagam menos como piso.
O mais grave é que existe no Brasil uma velha prática de que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Como nossos sindicatos estão desmobilizados – alguns desacreditados – vai acabar sobrando para o assalariado. E aí a crise será ainda maior, porque vai faltar quem tenha dinheiro para comprar alguma coisa.

coluna@pedroporfirio.com

sábado, 19 de maio de 2007

LEMBRANDO A POLÍTICA SOCIAL DE GETÚLIO VARGAS

Não sendo economista, mas com um bom caminho andado, posso, do alto dos meus 64 anos, afirmar que é falso o dilema de que falei na coluna de ontem: não há conflito entre a contenção da inflação e o desenvolvimento que gera mais empregos, ,melhores salários, mais riqueza e mais atividade econômica.
Poderia citar em defesa dessa afirmativa exemplos de outros países, que conseguem aumentos significativos em seu crescimento, ampliam as oportunidades de trabalho, e mantêm a inflação sob controle.
Mas prefiro ficar por aqui mesmo com o exemplo do segundo governo do presidente Getúlio Vargas. Tendo assumido em 1951, Getúlio viu que a inflação apresentava uma alta de 12 para 20% ao ano, mesmo com o salário mínimo congelado durante todo o governo do seu antecessor, o general Dutra.
Em 1952, após estudos do Ministério do Trabalho, optou por dar um aumento que repôs as perdas de 8 anos. Foi uma festa para os assalariados, porque, naquela época, todos os salários eram calculados com base no mínimo.
O reajuste despertou a reação dos setores mais conservadores, mas nem de longe provocou a explosão inflacionária do que falavam. Ao contrário, reanimou a economia e abriu caminho para a consolidação da era industrial, com o surgimento de milhares de empresas.
Colocando-se do lado dos mais fracos, Getúlio sofreu muitas pressões, que levaram à demissão do ministro do Trabalho, João Goulart, depois de um ameaçador manifesto assinado por um grande número de coronéis.
No entanto, mesmo demitindo aquele que seria seu herdeiro político, o presidente Vargas concedeu novo aumento do mínimo de 100% em 4 de julho de 1954, 50 dias antes de ser levado ao dramático suicídio.
Quando ele morreu, o valor médio do salário mínimo era de R$ 590,57, comparando-se aos preços de hoje. Era tempo em que todo mundo tinha emprego.
O desemprego decorre também da modernização da indústria e dos serviços. Porque quem vive o desafio de manter empresas com altas taxas de juros e impostos que representam quase 40% do seu faturamento não vê outro caminho senão trabalhar com o menor número possível de empregados. É disso que falarei amanhã.

coluna@pedroporfirio.com

sexta-feira, 18 de maio de 2007

BINGOS: TÊ-LOS OU NÃO TÊ-LOS, EIS A QUESTÃO

O presidente Lula fez muito bem ao pedir ao Congresso – onde se fazem as leis – que decida de uma vez sobre a legalização ou não dos bingos no país. “Ou proíbe ou regulamenta. O que não pode é ficar essa indústria de liminares”.
Na quarta-feira, o ministro Carlos Lupi, do Trabalho, recebeu representantes dos trabalhadores dessas casas de jogo, que estavam à frente de uma concentração de 12 mil atingidos pelas últimas medidas, decorrentes da descoberta de um esquema criminoso de concessão de liminares a peso de ouro, para que as casas funcionassem sem constrangimento.
A palavra está com os deputados e senadores. Mas, desde já, precisanos fazer uma reflexão honesta, sem a qual teremos tão somente a massa ameaçada de desemprego servindo de bucha de canhão para interesses estranhos.
O ministro chegou a cogitar da possibilidade dos bingos serem administrados pela Caixa Econômica, como acontece com outros jogos, da loteria esportiva à mega-sena.
Como titular da pasta do trabalho, sua principal preocupação é evitar que no mínimo 40 mil empregados sejam postos no olho da rua, numa hora em que qualquer emprego é uma preciosidade.
O presidente Lula achou melhor transferir a responsabilidade da decisão para o Congresso. Ele, que tem informações privilegiadas a respeito do problema, também não sabe o que é certo: legalizar ou proibir.
Em princípio, é difícil deixar de considerar o problema social provocado pelo fechamento dos bingos. Mas estarão eles nas mãos certas, dedicados exclusivamente à venda de um “entretenimento” que atraia principalmente quem tem tempo ocioso, como os idosos?
As investigações da Polícia Federal detectaram uma estreita ligação entre as casas que permaneciam funcionando e um milionário esquema de corrupção, envolvendo desembargadores federais e até um ministro do STJ.
Os trabalhadores, com certeza, não têm nada com isso. Mas quem garante que a legalização de casas de jogos, onde se ganha muito dinheiro, não abre caminho para uma nova rotina de propinas, até porque, dependendo de quem administre, muitas fraudes podem acontecer ali, como se diz dos caça-níqueis?
Nenhuma decisão pode deixar de considerar os empregos ameaçados. Mas também não há como, por isso, facilitar qualquer esquema de corrupção.
coluna@pedroporfirio.com

A VIOLÊNCIA CEGA CONTRA OS HOMOSSEXUAIS

A cada três dias um homossexual é assassinado no País por sua orientação sexual. A cada três minutos um GLBT é vitima de violência. 100% das travestis já sofreram discriminação e exclusão nas escolas, levando muitas adolescentes para a prostituição e marginalidade social. 35% de gays, lésbicas e travestis já foram expulsos de casa. 30% dos estudantes acreditam que homossexualidade é doença. 95% dos padres, bispos e pastores no Brasil usam o rádio, a televisão e o jornal, diariamente para pregar o ódio e a discriminação aos homossexuais,
Esses dados, levantados pelas jornalistas Bianca Carillo e Juliana Ramos mostram uma outra face de uma cultura de violência que se manifesta de forma perversa, porque enrustida e sob proteção de um ambiente alimentado pela intolerância e a incompreensão.
Quando os homossexuais vão às ruas em manifestações cada vez mais numerosas – em nome do orgulho gay – eles expressam uma explosão acumulada há séculos em todas as civilizações e em todas as religiões.
É como se saíssem dos esconderijos e dos guetos existenciais para dizer: nós também somos gente, são profissionais, somos empresários, queremos ser respeitados segundo os direitos da cidadania.
E não sou poucos os que assumem essa condição aqui entre nós, mesmo ocupando cargos públicos, como o prefeito de Parati e o secretário municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro.
Números também colhidos pelas duas jornalistas são incisivos: de acordo com dados do movimento, existem 18 milhões de homossexuais assumidos no Brasil. No ano passado, 6 milhões de pessoas participaram das paradas, 3 milhões se declararam GLBTs.
Na medida em que essa realidade se torna cada vez mais pública, aumenta a violência daqueles que, como Freud explicaria, investem furiosamente contra os gays, como que tentando espantar o gay que existe neles.
No entanto, felizmente, as vozes da lucidez e do humanismo falam mais alto. Hoje lembramos a decisão tomada no dia 17 de maio de 1990 pela a Organização Mundial de Saúde, que retirou o “homossexualismo” do código internacional das doenças.


coluna@pedroporfirio.com

quarta-feira, 16 de maio de 2007

RELAÇÕES AFETIVAS SEM CENSURA

No julgamento de uma ação de inconstitucionalidade contra a minha lei que garantia pensão para o parceiro do mesmo sexo na Prefeitura do Rio de Janeiro o desembargador Paulo Ventura, relator, fez uma defesa brilhante da iniciativa pioneira.
Referiu-se, então, ao que chamou de expressão do “direito novo”, um olhar moderno e humanizado sobre os fenômenos sociais e existenciais que se incorporam ao sistema jurídico brasileiro.
De fato, quando em 2001 propus a concessão de pensão aos parceiros do mesmo sexo, no âmbito do funcionalismo municipal (o que me cabia como vereador) parti do princípio de que o servidor contribui compulsoriamente, estabelecendo fonte de uma pensão, seja ele (ou ela) casado ou não.
Trabalhei sobre a novidade da união estável, bandeira de Nelson Carneiro que se incorporou à Constituição. O que valia para a união entre marido e mulher cabia também para aqueles que optaram por uma relação de fato no âmbito do mesmo sexo.
Inspirei-me, então, na minha própria revolta diante de uma injustiça. Um pintor de família tradicional, que por ela havia sido discriminado, fez uma vitoriosa carreira com o apoio do seu parceiro homossexual.
Quando morreu, essa mesma família não teve constrangimento em correr atrás de sua fortuna acumulada, deixando o verdadeiro amigo, com quem vivera vinte anos, de mãos vazias.
Não me pareceu essa uma situação justa. Havia uma relação homo afetiva construída ao longo dos anos. Como desconhecê-la?
Hoje são milhões os casos em todo o mundo de casais do mesmo sexo. Tentar desconhecer esse fato é querer tapar o sol com a peneira. Esse tipo de relação cobra respeito da sociedade através de grandes manifestações, como as paradas do orgulho gay.
Ser homossexual é, portanto, uma orientação de cada um. Integrá-lo no mundo do direito é uma obrigação de todos os que lutam por uma sociedade justa, sem censuras hipócritas e sem repressões movidas por velhos preconceitos.
É isso que vou defender nesta quarta-feira às sete e meia da noite na Universidade Estácio de Sá de Copacabana, atendendo a convite de sua direção e do seu Diretório Acadêmico.

coluna@pedroporfirio.com

terça-feira, 15 de maio de 2007

NERVOS DE AÇO PARA VIVER EM UMA FAVELA

Você sabe o que ter nervos de aço? Sabe que isso é o mínimo que se requer para quem vive hoje numa favela?
Nesse domingo, ao cair da tarde, fui ao Jacarezinho para assistir á posse da nova diretoria da Associação de Moradores, cujo presidente, meu amigo Vado, foi reeleito.
O ato aconteceu na sede da Escola de Samba, de frente para a Avenida Dom Helder Câmara. Portanto, não precisava nem entrar na comunidade.
Mas a esquina dessa via com a Democráticos, na entrada pela “prainha”, já é considerada uma área de risco. De vez em quando é lá que começam as fuzilarias.
Ficou claro que hoje existe uma espécie de refúgio domiciliar. A maioria dos moradores só sai de casa até a hora do almoço, sábados e domingos. Ou então quando vai trabalhar durante a semana.
Tudo isso porque ninguém se garante e ninguém garante a vida de ninguém. A qualquer hora, as balas podem zunir de um lado para outro, independente do movimento humano, do passar das pessoas e de uma vida própria na comunidade de 60 mil habitantes, que tem uma feirinha a semana inteira e um comércio maior do que o do bairro do Jacaré.
A polícia vai para reprimir o tráfico, mas as balas não escolhem vítimas. Por uma certa fatalidade, pegam logo quem não tem nada a ver com o peixe. É terrível o estado de ânimo de todos, sobretudo das crianças, que estudam fora da comunidade: além de dois CIEPs que ainda funcionam em tempo integral e são dirigidos com muito carinho, há outras cinco escolas públicas nas imediações.
Não dá dúvida de que existe um bom número de traficantes na favela. Mas qual é a culpa dos moradores? O combate a eles tem que ser assim, no estilo faroeste?
Quando candidato, o governador Sérgio Cabral criticava esse tipo de operação, capitaneada por um veículo blindado – o Caveirão – cujos atiradores ninguém vê.
No entanto, não tem sido diferente. A diferença em relação ao governo anterior é que antes ainda existiam programas sociais, a “Casa da Paz” ainda funcionava.
Neste momento, como constatei com meus próprios olhos, a população do Jacarezinho, 99,9% de trabalhadores e pessoas pacíficas, só conhece a polícia nervosa como única face de um Estado que parece suspeitar de todos.
É isso que acaba fortalecendo ainda mais os foras da Lei.

coluna@pedroporfirio.com

segunda-feira, 14 de maio de 2007

A CARTILHA DOS TRISTES E DEPRIMIDOS

Agora que o Papa da idade Média já se foi, vamos fazer um balanço dos seus desejos em relação ao Brasil, país soberano, laico, onde cada um pode escolher sua religião e até mesmo pode não ter religião nenhuma.
Se os católicos seguirem rigorosamente sua cartilha, teremos os seguintes mandamentos a serem cumpridos sem direito a queixas ao bispo:
1, Nenhum jovem pode pensar em ter relações sexuais antes do casamento. Rapazes ou moças estarão cedendo a tentações do pecado se ousarem “ficar” juntos. As moças, segundo dom Dimas, bispo auxiliar aqui do Rio de Janeiro, não serão diferentes das prostitutas profissionais se “ficarem” com seus namorados.
2, Não se pode admitir o uso de embrião humano para nada, nem para curar doenças ou salvar vidas. Uma vítima de acidente sabe que pode se recuperar inteiramente com a chamada célula-tronco. Mas se recorrer a isso estará cometendo pecado mortal, sujeito à excomunhão e à condenação de sua alma.
3, Nenhum católico de verdade poderá recorrer a métodos anticoncepcionais, nem mesmo à camisinha. Fazer ligadura, nem pensar. Se não quiser ter mais filho, o casal tem que se abster da vida sexual e agüentar firme.
4. As escolas deverão ser obrigadas a ter aulas de religião, segundo o catecismo católico. O ensino, portanto, já será direcionado para que todos os brasileiros sejam católicos de carteirinha.
5. O governo deverá estar ligado à Igreja, num “Estado confessional”. Isso quer dizer que todas as suas iniciativas deverão ser abençoadas pelo clero.
6. Além disso, não poderá cobrar impostos de nada ligado à Igreja. As outras atividades que respondam pelas responsabilidades do governo com a população.
7. Ai de quem admitir sequer tocar em assuntos como aborto, homossexualismo, divórcio e liberdade sexual. Tudo isso acontece há décadas em nosso país. Mas o que não foi legalizado deve continuar sendo praticado por baixo dos panos.
Bem, ainda bem que ninguém vai levar essa cartilha a sério. Nem mesmo os católicos mais envolvidos com a Igreja, até porque há muitos padres lúcidos no Brasil, que já atravessaram o túnel do tempo.
Se não, essa Lei Seca do Papa XVI iria nos transformar na nação dos tristes e deprimidos.

domingo, 13 de maio de 2007

TUDO MUDOU. SÓ BENTO XVI NÃO SABE


MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 13 DE MAIO DE 2007

Na campanha eleitoral de 1960, dois candidatos disputavam a Presidência: o marechal Lott, com o apoio do presidente JK, e o oposicionista Jânio Quadros, ex-governador de São Paulo.
Eu tinha 17 anos, mas, como todo jovem politizado, estava engajado na campanha de Lott, que tinha João Goulart como vice-presidente.
Então, aprendi que política é para quem tem sangue de barata. Lott dizia o que pensava, mesmo que isso fosse lhe tirar voto. E como muito do que dizia contrariava velhos conceitos, como dizer que açude não resolveria o problema da seca no Nordeste, ele ia se afundando por si.
De tal forma que, nós, lottistas, já sabíamos. Se ele falasse em todos os lugares, o Jânio seria eleito por unanimidade.
Lembro desse episódio a propósito da visita do Papa Bento XVI a São Paulo. Cada vez que ele abre a boca, deixa a multidão de católicos na maior saia justa. Quando ele for embora, terá conseguida uma desastrosa proeza: o número de fiéis de carteirinha do catolicismo vai continuar caindo, agora com o incentivo de seu discurso como o Papa que veio da idade Média.
É uma pena, porque há padres e bispos no Brasil que tanto bem fazem ao país e ao seu povo. Nos últimos anos, inclusive nos tempos brabos da ditadura, cardeais como Dom Evaristo Arns e bispos como Dom Helder Câmara , expuseram-se sem medo na defesa dos perseguidos políticos, alguns dos quais também eram padres.
Segundo o noticiário, o chefe do Estado do Vaticano, que tem embaixadores e tudo o mais, apesar de existir num espaço de um quilômetro quadrado, encostou o presidente Lula contra a parede, com um rosário de exigências da pesada.
Traduzindo em português claro, o papa alemão quer que o Brasil volte ao tempo do Império, quando era oficialmente um “Estado Católico”, atrelado à sua Igreja. Quer mais: ensino religioso (leia-se católico) obrigatório nas escolas do país e até isenção de impostos para as atividades ligadas à Igreja, inclusive dos seus caríssimos colégios.
Claro que o Presidente ia dizer um rotundo não. E olha que Lula é católico praticante. Mas, já estamos no Século XXI e isso só Bento XVI e os seus seguidores mais fanáticos não vêem.

coluna@pedroporfirio.com

sábado, 12 de maio de 2007

CADA UM TEM O DIREITO DE TER SUA RELIGIÃO

Houve um tempo, no período do Império, em que a Igreja católica fazia parte do poder e dava as cartas. Nada podia ser feito sem o consentimento dos representantes do Vaticano. Com isso, quem não rezasse pela cartilha dos padres não podia aspirar uma posição na sociedade.
Então, praticamente, não havia culto evangélico. Assim mesmo, os poucos que ousassem demonstrar simpatia pela reforma de Lutero eram discriminados.
As religiões afros restringiam-se à senzalas. E também sofriam forte repressão, como se fossem coisas do demônio, magia negra.
A grande adversária era a maçonaria, que tivera papel preponderante na independência e tinha à frente do ministério, em 1872, o visconde do Rio Branco, maçom importante. Na época, muitos padres também freqüentavam a maçonaria e isso ia dar num tremendo qüiproquó, quando o Papa Pio IX, valendo-se do bispo de Olinda, Dom Vital, de apenas 27 anos, mandou bater de frente com essa irmandade.
Com a República, Aconteceu o que todos desejavam: governo para um lado, Igreja para outro, cada um cuidando do que lhe dizia respeito. Iniciamos então o “Estado laico” com liberdade de culto e tudo o que a democracia exigia, embora persistisse a influência do clero em tudo.
Em outras palavras: a igreja católica não assimilou os novos tempos. Decidia quem podia e quem não podia ser votado e como até 1950 em sua esmagadora maioria o povo se considerava católico, continuava mandando e desmandando.
Quando os meios de informação se ampliaram, a coisa foi mudando. O ensino religioso passou a ser obrigatório apenas nos colégios católicos. Os evangélicos, que tiveram como pioneiros no ensino os batistas, passaram a oferecer aos alunos sua própria leitura da Bíblia.
O Brasil passou a ser então um dos paraísos da liberdade religiosa. Até mesmo as perseguições policiais aos terreiros de macumba foram desaparecendo e hoje um dos acontecimentos mais bonitos é a festa de Iemanjá, na véspera do ano novo.
Como isso é algo que vai bem por aqui, como cada um pode ter sua religião ou até não ter nenhuma, vem agora o Papa Bento XVI e propõe uma volta no tempo. Quer que o Brasil seja novamente atrelado à sua Igreja. Pode? É sobre isso que falarei amanhã.

coluna@pedroporfirio.com