domingo, 10 de fevereiro de 2008

Se bobear, eu é que vou parar no xilindró

MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 11.02.08 (Página 4)

Ainda bem que você não me cobrou um palpite sobre o assunto do momento, esse festival de jocosas revelações sobre o mau uso do mal inspirado “cartão corporativo”, dinheiro vivo e fácil à mão de não sei quantos cortesãos.
Ainda bem, repito em letreiros luminosos, porque não gosto de hipocrisias, nem de embarcar na nave da vez. Pode ser até o assunto da moda, mas eu lhe pergunto com toda a sinceridade: se dona Matilde não tivesse passado seu cartão no “free shop”, tanta pasmaceira teria vindo à luz?
Há um quê de inexplicável nessa nova cruzada capciosa, que não quer ir fundo, embora, fique claro: eu, que fui titular de uma Secretaria envolvida em emergências – Desenvolvimento Social – e nunca recorri a astúcias, não estou aqui para passar a mão na cabeça de ninguém.
Antes, pelo contrário, acho que essa é a hora de cortar umas certas cabeças que engendraram essa alquimia com a intenção clara de formalizar um “caixa 2” despudorado.
Dizer que houve só mal uso é, mais uma vez, jogar para a platéia. A ser honesta a proposta, não há outra providência senão rasgar todos esses cartões.
E mais: vai fundo e você vai encontrar algum lobista dessa ou daquela “bandeira” por trás da cartola que, antes de ter sido pecado localizado nesse ou naquele ministério, é uma farra da pesada, envolvendo muita gente desde que, no primeiro ano deste milênio, o sábio FHC baixou decreto, burilando a peça, já em uso desde de 1986.
E é bom que se diga: esse ralo não é exclusivo do poder executivo. Tome tenência e gosto pela verdade e você verá estripulias de igual conteúdo nos três sagrados poderes da República e em muitos estados, já que os maus costumes são vírus que se espalham com o sopro da primeira ventania.
Nesse carnaval de pouca vergonha, se gritar “pega cartão”, não escapa um, meu irmão. Vai querer encarar essas trapaças de cabo a rabo, sem poupar quem quer que seja, conte comigo.
Em certas áreas que ninguém ousa meter o bedelho, tem coisas do arco da velha. Porque a corrupção é hoje uma robusta enciclopédia que faz um festão da vida de quem detém qualquer poder, seja aqui, ali ou acolá.
O que eu acho uma covardia é ficar só nisso ou naquilo. Os incautos sempre pagam o pato, até por serem novos no ramo. Pagam, vírgula, daqui a pouco estarão por aí serelepes rindo das nossas caras.
Dentro da minha atual busca voraz da verdade, também estou preparando a “Enciclopédia da Corrupção”, na qual há verbetes para todos os paramentados. Se concluí-la, assim como me surrupiaram o mandato, eu é que vou acabar indo para o xilindró.
coluna@pedroporfirio.com

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