quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

HORA DE CAIR NA REAL

Coluna no jornal POVO DO RIO de 8 de fevereiro de 2008
Agora que o carnaval passou, é de se perguntar quando é que o nosso povo vai cair na real. Isso mesmo: cair na real. Porque em matéria de fantasias, descontração e vocação festiva ninguém chega perto dos brasileiros.
Desculpe, não quero ser o estraga prazer. Mas, meu Deus, já pensou se aparece um maluco com a idéia de promover um carnaval a cada três meses? Esse lunático teria até como argumentar: afinal, esse corpo que dança e está à mostra, dos pés a cabeça, como nos tempos áureos de Adão e Eva, é um forte apelo turístico.
E não há uma indústria mais sintonizada com a natureza do brasileiro, especialmente dos moradores desta cidade que nessas horas parece maravilhosa.
Eu passei esses dias todos enfurnado numa pesquisa sobre salários dos militares e dos civis, esse drama todo que não é suficiente para conter 500 mil pessoas na Avenida Rio Branco, atrás do Cordão do Bola Preta, em plena manhã de sábado.
Estou realmente invocado com a concentração da grana na mão de uma ínfima minoria. Mas chegou a pensar que sou um “ET”. Pelo som dos tamborins e as latas de cerveja espalhadas nas calçadas, fico a imaginar que ando com a idéia do personagem do “Alienista”, a obra genial de Machado de Assis.
Você já parou para pensar? Então fica com essas informações: Um estudo do IPEA , órgão do governo federal, divulgado em outubro de 2007 conclui que a diferença entre o menor e o maior salário no Brasil é de 1.714 vezes, isso considerando a premissa de que o maior salário é de um Executivo da Região Sudeste, que ganha R$ 120.000,00 e o menor, o de um trabalhador do setor de serviços da mesma região, que receberia por mês bem menos do que o salário mínimo, isto é, não mais de R$ 70,00.
No setor público, a pesquisa oficial é também falha, pois trata tão somente dos vencimentos dos estatutários da administração direta, para encontrar R$ 28 mil como a maior remuneração, esquecendo de anotar os penduricalhos no Judiciário e no Legislativo, que podem dobrar esse valor, e os salários em estatais, fundações e no sistema “S”, mantido pelo desconto na folha salarial dos trabalhadores.
Um outro relatório, divulgado no início deste ano pelo The Boston Consulting Group (BCG), com base em números da Receita Federal, revela que 130 mil pessoas têm metade do nosso Produto Interno Bruto (a soma de nossas riquezas) , algo em torno de 1 trilhão de reais.
Eu me toco com isso. Muitos que não sabem nem onde cair morro estão mais ligados na modelo que perdeu o tapa-sexo e no sarro que pode tirar no Bola Preta ou nos encantos da Beija Flor.
coluna@pedroporfirio.com

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