quarta-feira, 25 de junho de 2008

Varig de novo na praça: vencer é possível

MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 25 DE JUNHO DE 2008
O pesoal da VARIG trava a mãe de todas as batalhas trabalhistas. Se o Supremo lavar as mãos e se os mais de 11 mil ROUBADOS NA MÃO GRANDE ficarem em casa à espera de um milagre, estarão desmoronando para todo o sempre TODOS OS DIREITOS SOCIAIS dos trabalhadores brasileiros e iniciado o processo de total descrédito de TODOS OS FUNDOS DE APOSENTADORIA COMPLEMENTAR.
Os funcionários demitidos (e não indenizados) e aposentados da Varig marcaram uma nova manifestação de rua para o próximo domingo, quando se encontrarão na praça Nossa Senhora da Paz e seguirão por algumas ruas da orla.
Com essa nova caminhada, os organizadores esperam ganhar uma adesão ainda maior em relação à última do dia 15, tendo em vista a sucessão de acontecimentos que dizem respeito diretamente a todos, inclusive, de forma mais preocupante, o desdobramento do processo de “recuperação da empresa”, cujo prazo está por terminar.
Mas não isso só. Os advogados do TGV – Trabalhadores do Grupo Varig – conseguiram uma importante vitória, com a decisão do Supremo Tribunal Federal de admitir se manifestar no conflito de competência sobre as reclamações trabalhistas dos empregados que não receberam um único centavo ao serem demitidos.
Enquanto a Justiça do Trabalho reconhecia seus direitos elementares, os sucessores da Varig recorriam ao STJ, que optava invariavelmente pelo desconhecimento desses direitos, ao entender que todas as pendências relativas à Varig eram da jurisdição do juiz da Vara Empresarial.
Há ainda outros fatos, apesar do recuo dos senadores oposicionistas em relação à instalação de uma CPI:
1. O CADE – Conselho de Defesa Econômica – voltará a apreciar a compra da “nova Varig” pela Gol, enquanto esta entrou numa corte internacional pedindo de volta metade do que pagou por ter descoberto que caiu no conto da superaviação.
2. A ANAC está adotando medidas em relação ao controle acionário da Variglog, desmascarado com a briga entre os “laranjas” brasileiros e o fundo abutre dos EUA. O que acontecer numa empresa, vai repercutir na outra.
3. O processo sobre defasagem tarifária, de onde poderá sair a grana para reativar a empresa e, sobretudo, pagar ao fundo de pensão Aerus, está andando, ainda que a passos lentos, produzidos pelas manobras protelatórios do governo.
4. O desconforto do presidente Luiz Inácio aumenta com as sucessivas revelações sobre o envolvimento do seu compadre Roberto Teixeira em manobras direcionadas para favorecer o fundo estrangeiro, sabendo-se que desde que ele foi contratado por 5 milhões de dólares esteve seis vezes com Lula – e não foi para falar do Corinthians.
Diante disso, é hora de todos mostrarem suas caras, escreveram às seções de cartas dos leitores, mandarem e-mails para todo mundo, enfim, não existe uma oportunidade mais preciosa do que essa para se obter o resgate de tudo o que foi surrupiado nesses anos.
A manifestação de domingo terá de ser muito maior do que a anterior. Mesmo quem nunca quis participar, mas continua no prejuízo, tem que estar lá na praça Nossa Senhora da Paz. Esse novo protesto poderá ser estratégico dentro de uma luta que só pode acabar com a vitória dos variguianos ativos e inativos.
coluna@pedroporfirio.com

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Tributo a Leonel Brizola, com saudade, carinho e afeto


MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 20 DE JUNHO DE 2008

"Serei como um cavalo inglês: só vou morrer na cancha"
Leonel Brizola, aos que sugeriam que ele abandonasse a política depois da derrota eleitoral em 1998.
Ao registrar o transcurso, amanhã, dia 21 de junho, do quarto aniversário da morte de Leonel de Moura Brizola, permito-me uma reflexão serena, que gostaria de dividir com você.
A cada dia que passa aumenta o número de brasileiros que sentem a sua falta e que avaliam com tristeza a escassez de homens de sua têmpera, de sua vocação, do seu despojamento e patriotismo nestes dias em que a vida pública está cada vez mais vilipendiada por interesses e ambições menores, mesquinhas, nocivas, doentias.
Mais doloroso ainda é constatar que o Brasil deixou de tê-lo à frente dos seus destinos, em função de uma deliberação inapelável do sistema internacional, que se valeu de todos os expedientes, os mais sujos, e de todos os meios, os mais influentes, para impedir sua ascensão natural, especialmente no pleito presidencial de 1989.
Abstraindo qualquer paixão pessoal, comprometimento partidário, impulso ideológico, posso dizer, sem medo de errar, que o Brasil estaria muito melhor, mais seguro de si como nação, se naqueles idos em que o sistema fabricou o “caçador de marajás”, Brizola tivesse sido escolhido, em nome de sua história invejável e seu patriotismo inegável.
Ao lembrar os acontecimentos pretéritos, sinto uma angústia a jogar-me na vala da depressão. É difícil entender como tantos e tão imprudentes arautos das novidades recondicionadas tenham se empenhado com tanta persistência em colaborar com esse conluio que mesclou sentimentos de vingança e temor de mudanças reais, que, infelizmente, parecem ter sido esterilizadas para todo o sempre.
Quem ousar livrar-se da bitola da intolerância e tiver a grandeza de abrir a janela para a história verá que nenhum brasileiro acumulou tantos atributos para pôr este país nos eixos de um futuro promissor como esse gaúcho que exerceu o primeiro cargo público com pouco mais de vinte anos e se tornou o único brasileiro a governar dois Estados, pelo voto direto e soberano do povo.
Coragem e visão
De tal profundidade foi sua atuação como protagonista dos mais importantes momentos da vida nacional, que seu nome ainda hoje se destaca na proa das grandes causas do povo brasileiro. Os 82 anos vividos foram tão intensos que, mesmo com o prejuízo de 15 no desterro, nenhum outro homem público somou tantas horas, tantos dias, tantos anos de dedicação obstinada à defesa da soberania nacional e da justiça social, pilares irrenunciáveis da pátria de nossos melhores sonhos.
Essa dedicação ao país hoje ninguém poderá negar de sã consciência. Porque se é verdade que o guerreiro de todas as horas foi antes de tudo um bravo, é igualmente incontestável que foi o governante de maior visão e maior sensibilidade.
Penitenciam-se nestes dias os que não consideraram o que foi a sua maior bandeira – a educação pública de qualidade, capaz de sedimentar uma nação de cidadãos de verdade, sem o que tudo o mais é mentira pífia, forjada pelas elites que insistem na escravidão da pirâmide social intocável.
Desde que foi prefeito de Porto Alegre, eleito com 33 anos de idade, Brizola arregaçou as mangas para levar a luz do conhecimento a todos, assegurando-lhes oportunidades de ascensão jamais imaginada pelos administradores e nunca tolerada pelas elites.
Ao tomar posse, em 1956, Porto Alegre tinha pouco mais de 400 mil habitantes. Num período de dois anos e meio, até desincompatibilizar-se para disputar o governo do Estado, construiu 137 escolas para 35 mil alunos, triplicando as ofertas de vagas no ensino municipal.
Como governador do Rio Grande do Sul, construiu nada menos de 6 mil e 300 escolas,alcançando os lugares mais distantes, inclusive as zonas do Pampa, onde até então não havia um único equipamento educacional público.
No Estado do Rio, que governou duas vezes, revolucionou o ensino com a implantação de 500 CIEPs de tempo integral, uma proposta pioneira no Brasil, de grande alcance social, minada por todos os lados, mas que hoje aparece cinicamente nos manuais dos que investiram contra ele, exatamente porque queria que os pobres tivessem um ensino de base decente, que prescindisse desses gatilhos sob forma de cotas.
Memória agredida
O dramático, ao relembrar o gigante que ainda vive no imaginário de um povo cada dia mais enganado, é constatar que o seu exemplo de dedicação à vida pública não seja observado pelos políticos que hoje, de um lado ou de outro, só tratam de seus interesses privados, de suas vaidades esquizofrênicas, suas ambições insaciáveis, numa sofisticada remontagem de Sodoma e Gomorra, blindada contra a cólera divina.
É como se com o velho inconformista tivessem sepultado os bons propósitos e as boas intenções, o espírito público e a visão missionária da atividade política.
É como se por castigo de Deus o Brasil ficasse à deriva, ao sabor dos mais espertos, mais inescrupulosos, mais afoitos, mais gananciosos, no sortilégio engendrado por fabricantes de ilusões e quimeras, ingredientes indutores da estupidez cultivada, da alienação acrítica e da passividade pusilânime.
Dá pena pensar que um homem de tantas virtudes tenha desaparecido no apagar das luzes de uma sociedade que entrega seu destino a carreiristas fabricados, a mistificadores e manipuladores loquazes de todos os matizes, a canastrões levianos e irresponsáveis, que se valem do marasmo generalizado, da apatia autofágica e do descuido inercial.
Se outra vida há e se desde o infinito distante o legendário sonhador puder contemplar estes dias em sua própria cidadela, terá a amarga sensação de nunca ter sido entendido por muitos dos que se alistaram em sua caravana libertadora.
Porque, como aconteceu com tantos pregadores e desbravadores, sua memória para os mais audaciosos é apenas o mal-cheiroso condimento de perdidas ambições pessoais, peças malditas que miniaturizam seu legado e abrem um perigoso fosso entre o hoje sem coração e o amanhã sem cérebro.
Mesmo assim, como a teimosia me fascina, ainda espero que os ventos uivantes da indignação latente produzam um cataclismo moral e façam ruírem os tentáculos do consentimento tácito, da cumplicidade tacanha, da omissão abjeta, reanimando os cérebros e oxigenando os corações do amável mundo novo porque viveu Leonel de Moura Brizola.
Esse é mais do que o nosso sonho. Tem de ser o nosso compromisso.
coluna@pedroporfirio.com

Executados porque eram pobres e favelados

Enterro dos jovens do Morro da Providência entregues por militares aos traficantes do Morro da Mineira: mais três para a coleção dos milhares jovens, vítimas da banalização das execuções de pobres e favelados, cujas investigações engrossam a lista dos crimes "sem solução".
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 19 DE JUNHO DE 2008
O que aconteceu no Morro da Providência, envolvendo um grupo de homens do Exército, está causando uma grande perplexidade por suas características inusitadas.
Não se tem notícia de algo parecido: militares prendem três moradores de uma favela por desacato e, orientados a libertá-los por ordem superior, em represália, decidem soltá-los numa outra comunidade, dominada por bandidos de uma facção rival.
Certamente, a história não é bem essa. E provavelmente, será muito difícil saber o que realmente aconteceu, embora o tenente que comandou o grupo tenha contado essa versão, com a declaração de que não estava arrependido do que fez.
Para entender esse acontecimento brutal, é preciso deixar claro, em primeiro lugar, que essa é uma prática totalmente fora da realidade de uma instituição militar.O Exército não tem sido empregado em tarefas semelhantes a que lhe foi atribuída nesse projeto do Morro da Providência: não há a menor hipótese de que haja clima em todas as Forças Armadas de hoje para um ato tão inexplicável, com requintes da maior irresponsabilidade e da pior selvageria.
Também não é correto investir contra o projeto, que é uma experiência nova e acontecia tranquilamente dentro do objetivo a que se propôs, nada diferente das antigas ACISOS - ações militares de cunha social.
Nada diferente do que acontece rotineiramente na Venezuela de Hugo Chávez, onde as Forças Armadas prestam serviços de toda natureza diretamente às comunidades.
E até mesmo do Haiti, onde tropas brasileiras atuam com sucesso nas áreas pobres e violentas do país.
Considere-se, igualmente, que a grande maioria dos militares das três armas é formada por cidadãos oriundos das classes de renda menor, inclusive na oficialidade.
Você me perguntará: então, porque 11 soldados do Exército fizeram aquilo?
A resposta está na ponta da língua: infelizmente, neste país, a vida do pobre, do favelado, do morador da periferia não vale um níquel.
Dos milhares de casos sem solução nas prateleiras das delegacias policiais, a quase totalidade envolve a execução de pessoas pobres, vítimas de uma cultura de impunidade quando elas são os alvos.
Entre as famílias dessas comunidades, há sempre um dia de luto por conta da morte violenta de um dos seus filhos. É só conferir. Policiais e bandidos coincidem no mesmo critério: esse tipo de crime não tem castigo.
Tanto que até agora só se falou nos militares que, como já definiram seus superiores, mancharam o uniforme, numa situação insólita: a grande maioria dos moradores do Morro da Providência estava satisfeita com o projeto.
Mas não me consta que a polícia tenha corrido atrás dos bandidos que executaram os três jovens, num nível de perversidade que só surpreende quem não conhece o clima de desesperança imperante entre jovens dessas favelas, para os quais a sina é matar ou morrer.
Só espero que, antes de tentarem "politizar" essa aberração, que não pode deixar ninguém impune, os formadores de opinião sejam honestos o suficiente para ir fundo na questão da banalização do crime contra os pobres. De parte a parte.
coluna@pedroporfirio.com

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A esperança que renasce nas ruas


Nas fotos de Paulo Resende momentos emocionantes da manifestação do pessoal da Varig e do seu fundo de pensão Aerus

MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 17 DE JUNHO DE 2008
Sinceramente, surpreendeu-me a grande adesão à emocionante manifestação que levou centenas de ex-funcionários da Varig e aposentados do Aerus às ruas de Ipanema e Copacabana, no final da manhã desse domingo.
Afinal, já faz tanto tempo que os aqueles profissionais vêm sendo submetidos a um massacre sistemático, a uma sucessão de frustradas expectativas, a um processo perverso de endividamento e humilhações que é preciso ser muito forte e muito obstinado para se manter numa luta tão desgastante.
No entanto, ficou claro naquele domingo de mormaços que ainda há um punhado de bravos, pessoas confiantes em que ainda é possível reverter o mais covarde, suspeito e inexplicável golpe perpetrado contra a maior, mais completa e mais tradicional companhia aérea brasileira, entregue de mão beijada, sabe Deus como, aos testas de ferro de um fundo abutre dos Estados Unidos.
Ficou claro que esse punhado de bravos não vai se render jamais, até porque, como ficou patente durante a passeata, tem o apoio unânime da opinião pública, especialmente dos cariocas, cuja cidade abrigava o coração da empresa.
A manifestação do domingo, 15 de junho de 2008, afigurou-se como a retomada da longa jornada e reflete, ao mesmo tempo, o renascimento de uma nova esperança.
Hoje em dia, todo mundo já tem conhecimento da manipulação que se escondeu por trás da postura insensível de um governo, no mínimo míope, que tinha tudo para intervir positivamente, ao invés de facilitar o lado do advogado, compadre do presidente, que recebeu 5 milhões de dólares para ?operar? em favor dos piores interesses.
Pode-se dizer que as revelações sobre o complô montado, e que não envolveu apenas o Poder Executivo, mostraram as vísceras mal-cheirosas da trapaça e oferecem o grande diagnóstico para a crise de toda a aviação comercial brasileira, muito mais profunda do que se mostrou nos ?apagões? que tanto transtornos causaram em nossos aeroportos.
O governo sabe hoje onde foi amarrar seu burro. Sabe que está pagando um tremendo mico e, além de ter inviabilizado o sistema aéreo de qualidade e segurança, expôs a sorte de toda a previdência complementar.
Depois que o Aerus deixou milhares de contribuintes a verem navios, numa insolvência precedida de anos de calotes dados pela patrocinadora, hoje ninguém se sente mais tranqüilo.
Ainda há pouco, se não fosse pela disposição firme dos sindicatos dos portuários, outros tantos aposentados estariam padecendo do mesmo ?salve-se quem puder? que tanto sofrimento marca vidas amarguradas de pessoas que prestaram serviços ao país com tanta abnegação.
A manifestação foi o novo grande grito da dignidade do povo brasileiro. Fatalmente ela terá que ecoar nos centros de poder de Brasília e principalmente entre os demais ex-empregados e aposentados, vítimas do mais perverso desrespeito aos elementares direitos trabalhistas, previdenciários e constitucionais.
coluna@pedroporfirio.com

terça-feira, 10 de junho de 2008

Varig: a hora de cair a ficha

O deputado Paulo Ramos, presidente da CPI da ALERJ sobre a Varig, acabou fazendo seu próprio relatório, aprovado em plenário,relatando tudo o que se fala agora. O documento entregue às associações da empresa, entre as quais, a dos Pilotos, representada por Élnio Borges.
MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 11 DE JUNHO DE 2008
Tudo que vem sendo falado agora sobre esse jogo perigoso de interesses que envolveu a transferência da Varig para os prepostos do fundo abutre norte-americano por uma bagatela inacreditável foi objeto de uma CPI na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, na qual o deputado Paulo Ramos fez das tripas coração, solitariamente, para chegar aos verdadeiros interesses que se ocultam por trás da transação.
Infelizmente, seu criterioso trabalho pôde produzir frutos, até porque o trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito, regulado por uma Lei Federal de 1952, foi obstruído por setores da Justiça, que impediram a quebra de sigilo fiscal dos envolvidos. Além disso, o juiz da Vara Empresarial que procedeu o leilão de um único lance, num momento inadequado, também se recusou a prestar esclarecimentos à CPI e o deputado ainda acabou sendo objeto de processo movido pela Associação dos Magistrados.
A verdade nua e crua é que toda essa infeliz manobra do governo, que jamais poderia ter abandonado à própria sorte uma companhia da importância estratégica da Varig, foi um dos atos mais sórdidos da história republicana.
Por isso, o deputado Paulo Ramos tem muita autoridade em se pronunciar sobre esse processo, como o fez da tribuna da Assembléia:
“A Comissão investigou, ouviu muitas pessoas, mas simultaneamente enfrentou dificuldades. E é preciso dizer que, lamentavelmente, a Comissão quebrou o sigilo bancário fiscal e telefônico, que é competência de CPI estadual, dos principais envolvidos – os senhores Marcos Audi, Luiz Gallo, Marcos Haftel, Lap Chan. E aqui eles conseguiram uma liminar no Tribunal de Justiça, impedindo a CPI de aprofundar as investigações.
Registramos também, alguns procedimentos, lamentavelmente duvidosos, da Vara de Recuperação Judicial do Rio de Janeiro”.
“As verdades começaram a surgir porque os quatro, que se organizaram, como laranjas, para a aquisição de todas as parcelas da Varig, VarigLog, a marca Varig, eles se desentenderam. E aí, vêm as verdades. O Marco Antônio Audi diz que contratou o Sr. Roberto Teixeira como advogado por cinco milhões de dólares e diz assim: "Eu não sei o que ele fez. Eu sei que ele tinha amizades grandes no Palácio do Planalto, onde transitava com toda desenvoltura." E, lamentavelmente, acesso com muita intimidade até ao próprio Presidente da República. Cinco milhões! Diz, cinicamente, aqui o Sr. Marco Antônio Audi: "Eu não sei o preço realmente de contratação desse advogado. Foi um preço muito alto, mas ele apresentou resultados." E os resultados, quais foram? A ingerência política, o tráfico de influência, de modo a golpear a Varig, impedindo a sua verdadeira recuperação”.
Só espero que agora o Congresso Nacional deixe cair a ficha e entre de sola. Muita coisa poderá ser revelada ao país e, quem sabe, poderemos obter uma reavaliação de tudo feito até agora em prejuízo da aviação comercial brasileira.
coluna@pedroporfirio.com

Na rua, faça chuva ou faça sol

MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 10 DE JUNHO DE 2008
Se algum variguiano ou beneficiário do Aerus me perguntar, não terei dúvida em responder: estão criadas as condições para reverter o quadro perverso e insustentável que levou ao esfacelamento da maior companhia aérea do país, com essa carrada de desastres de repercussão em toda a nossa aviação.
Isso só acontecerá, no entanto, se houver uma reaglutinação de todo o pessoal lesado e de todos os segmentos que estiveram contra as maracutaias que redundaram na escandalosa entrega desse patrimônio brasileiro a um fundo abutre de investimento dos Estados Unidos, através de “laranjas” que não escondiam essa condição.
Essa reaglutinação terá de levar para as ruas de todo o país o grito que está parado no ar. É preciso tomar as praças e exigir o resgate dos direitos surrupiados de todos – funcionários, aposentados, pensionistas e usuários do transporte aéreo.
Ir para a rua não pode ser um esforço hercúleo de meia dúzia de abnegados lutadores de todas as horas. É uma obrigação de todos, inclusive dos que até hoje não mostraram suas caras.
Ao longo das lutas sociais, têm maiores possibilidades de vitórias aqueles que forem mais representativos da categoria. E o pessoal da Varig deve ter aprendido muito nesses últimos anos da mais sórdida humilhação, imposta sobretudo devido à divisão de que se aproveitaram os sanguessugas, sedentos da última gota de sangue da corporação.
As associações profissionais têm clareza quanto a isso. Uma grande mobilização deverá ocorrer em todo o país, com a realização de manifestações onde for possível.
No Rio, há um encontro marcado para o próximo domingo, dia 16, com uma concentração na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, a partir das dez e meia da manhã.
Os organizadores da manifestação estão conclamando a todos a que chamem seus vizinhos, conhecidos: enfim, esse complô contra a Varig, o Aerus e se pessoal diz respeito a todo o povo brasileiro.
“Sairemos para a praia, em Ipanema, e vamos percorrer a Orla até o Arpoador. Do Arpoador vamos pela Francisco Otaviano e pegamos a Avenida Atlântica até o Copacabana Pálace.
Levem cartazes, bandeiras, apitos. Vamos buscar o apoio da população. Isso é muito importante, pois tem muita gente que via e ainda vê os ex-funcionários como "marajás". Claro que isso é um estereótipo que foi criado, pois não é verdadeiro. E, hoje, todos passam por sérias dificuldades e procuram sobreviver aos trancos e barrancos.
Vamos para a avenida falar da nossa dor e exigir o que nos é devido. Não podemos deixar cair no esquecimento.
Vamos arregaçar as mangas e montar cartazes, lembrar que a juíza já iniciou as vistas ao processo da Defasagem Tarifária. Mais uma razão para aumentarmos o barulho, pois um parecer favorável irá resolver o problema do AERUS”.
Eu estarei lá, faça chuva ou faça sol.

sábado, 7 de junho de 2008

Devolvam a VARIG aos brasileiros


O leilão de 2006 apenas sacramentou a trama que agora vem à luz do dia: sozinha, a preposta do fundo abutre norte-americano comprou a Varig por US$ 24 milhões, o equivalente a R$ 52,3 milhões. É para o Brasil inteiro chorar.

MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 7 DE JUNHO DE 2008
O governo do sr. Luiz Inácio e todos que dele participam, sem exceção, devem ao povo brasileiro mais do que lorotas para tentar explicar a tremenda negociata que se esconde por trás do processo de desestruturação da Varig, desmoralização do fundo Aerus e destruição de milhares de vidas de profissionais da aviação, ativos e inativos, que ficaram a ver navios.
Não tenha dúvida: se o Ministério Público Federal entrar nos subterrâneos da longa agonia que precedeu o leilão da maior e mais respeitada aérea brasileira, logo no dia de Santos Dumont, vão surgir revelações do arco da velha.
Se é verdade que a Varig não andava bem das asas, é igualmente sabido que o governo do PT se esmerou no jogo sujo para transferir o controle da empresa, inclusive entrando com grana do BNDES para que a TAP portuguesa comprasse a Variglog, subsidiária que três meses depois cairia nas mãos do fundo abutre norte-americano pela metade do valor financiado.
Quando a crise da Varig começou a tomar vulto, ali por 2002, os próprios funcionários, através de suas associações e com assessoria técnica de um economista altamente preparado, apresentaram várias soluções, até mesmo a disponibilização das reservas do fundo de pensão, de forma a que todos os problemas poderiam ter sido equacionados sem repercussão negativa no setor e sem nenhum tipo de apropriação do dinheiro público.
O que está sendo revelado agora pela mulher que pulou a cerca e não quer ir para o inferno sozinha era do conhecimento de todo mundo da área. Tanto que muitos empresários andaram namorando a empresa que tinha a mais homogênea corporação e os melhores índices de desempenho, da pontualidade à segurança.
O governo efetivamente jogou pesado porque, no fundo, o que pretende mesmo é adotar a tal política de céu aberto, pela qual os Estados Unidos tramam desde a década de 40, quando seu projeto foi derrotado na Convenção de Chicago.
Mais do que um crime grosseiro de favorecimento, os operadores do governo que trabalharam abertamente contra a sobrevivência digna da Varig cometeram um crime de lesa-pátria, tal a importância que os 80 anos de uma área que pousava em mais de 190 aeroportos domésticos e navega pelos quatro continentes,
Para variar, aparecerão sempre a turma do deixa disso e os que se referirão ao choro pelo leite derramado.
Menos. Esta é a hora certa do resgate da coluna vertebral da nossa aviação. Como já disse, se é importante remover todo o lamaçal que serviu de pista para o grande desastre, é igualmente importante para os brasileiros, entre os quais 8 milhões de titulares de milhagens, que o governo livre-se das amarras menores e conheça o plano de recuperação preparado com competência pelos próprios trabalhadores do grupo Varig.
coluna@pedroporfirio.com

quinta-feira, 5 de junho de 2008

A mocinha que voou alto demais e se perdeu nos ares

Denise Abreu abre o jogo e deixa Dilma em maus lençóis na trama que entregou ilegalmente a Varig a um fundo de pensão estrangeiro, através de um chinês da pesada.

MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 6 DE JUNHO DE 2008

"Dilma disse que era muito difícil provar origem do dinheiro".
Denise Abreu, ex-diretora da Anac jurando que a ministra a pressionou para que não exigisse o Imposto de Renda dos sócios da VarigLog.

Outro dia, disse aqui mesmo: prefiro a menina Dilma dizendo NÃO do que a coroa Rousseff dizendo “SIM, SENHOR”. Muitos, não. Adoram a maturidade forjada nas delícias do poder com o sangue juvenil esvaindo-se na transfusão de apetites pragmáticos.
A maturidade, aliás, é tiro e queda. Por uma embira de desculpas, os primeiros cabelos brancos fazem o dito ficar pelo não dito com a embalagem da sabedoria.
Sobre a maturidade podemos elaborar um tratado, dos escritos de Maquiavel, aos achados do padre Gusman, jesuíta espanhol que escreveu “A arte da Prudência”, até esse magote de empavonados “cientistas políticos” intelectuais e jornalistas de nariz em pé e olhar de soslaio nos caramelos do poder.
Ser maduro é tudo de bom que você pode desejar depois de virar as páginas da cartilha do “ABC”. É ver com os próprios olhos arregalados e cobiçar céus e terras, naquela velha conversa de que “os fins justificam os meios”.
Dona Dilma não é a única a descobrir que Joana Darc é coisa de doido. Bom mesmo é olhar por trás dos óculos, exibir as gordurinhas e ter um bando de eunucos substituindo o espelho da madrasta da branca de neve.
Quando a meninada saiu de casa o iogurte era raridade. Em Minas, onde ela se criou sob a avidez de grana de um emigrante que fugitivo da Europa em chamas, o charme era goiabada cascão com catupiri. Bons tempos, aqueles.
Tudo era devaneio nas tertúlias da Praça Sete, pelas cochias da Afonso Pena. Corria-se atrás de um ideal com a alma da generosidade, o despojamento apolíneo que as lendas alterosas inoculavam na fronte iluminada.
Nos pampas, ela fez sucesso. Inteligente que só ela, apesar dos anos de tormentos, foi-se adaptando e descobrindo o os dois lados da moeda, eis que, antes do sonho acabar, tal cobre não passava do vil metal.
À sobra da amendoeira
Articulada à sombra de uma frondosa amendoeira, foi traçando seu caminho novo, no vendaval dos intimamente arrependidos. Doutorou-se e se não fosse pela briga de poder nas casamatas do regime, bem que teria seguido a vida discreta de economista de uma estatal.
Mas o general Frota, possesso com a carona presidencial, fez o listão dos tolerados pelo general Geisel, em quem viu alguns fios da barba de Karl Marx e o cheiro bucólico de Brizola. E sobrou para ela, com aquela fatalidade: o emprego se foi.
Foi aí que a maior de todas as mulheres dantão, chamada Terezinha Zerbini, deu o primeiro grito guerra pela paz. Quando tudo eram trevas, ela acendeu o candeeiro e foi tirar Dilma da mesmice para mexer os pauzinhos na busca dessa esperança doce chamada anistia.
Foi o recomeço sem riscos. A mineira estava casada com o gaúcho Carlos Araújo, rebelde de pai e mãe, e foi fazer alguma coisa de útil por aquilo que julgava ter exaurido nos idos da utopia.
Com as bênçãos de Brizola do histórico Alceu Collares, foi galgando degraus sem abrir mão do salto alto. Fatias saborosas de poder foram-lhes caindo às mãos e ela, que nunca foi realmente esse bicho papão que os bobalhões da direita pintam, descobriu sua vocação voraz pelo poder, no que isso acrescenta à própria sexualidade.
Indicada pelo PDT, foi ser secretária do bigodudo do PT e, quando Brizola percebeu que estava em maus lençóis, quis sair fora com os pupilos. Uns poucos pediram o boné. Ela, o velho Sereno e o próprio filho do caudilho preferiam permanecer com a mão na massa.
Só a casca
Aí dona Dilma já era casca pura. Tudo o mais renegava como todo político de carreira. Sua ideologia verdadeira aflorou na sublimação da doença infantil e ela passou a ser alguém capaz de usar de seu talento para projetar-se com sucesso nas áreas de decisão.
Ministra das Minas e Energia, seguiu linearmente as instruções do manual. Não há indícios de dolo, mas ela se postou do lado da grande traição, mantendo o sistema de leilão das áreas potenciais de petróleo, que seriam naturalmente da Petrobrás, desde a Lei 2004, que custou aquele tiro no peito do presidente Getúlio Vargas.
Sabendo que o”Zé” dava as cartas e operava grandes tacadas, não teve dúvidas: juntou-se a ele e, ao substituí-lo depois da delação do aliado esquisofrênico, manteve a mesma carteira de compromissos.
Aí sobrou para a Varig. As bocarras dos emergentes tinham dívidas a saudar nos ares do Brasil e abandonariam a maior empresa brasileira do setor à sua própria má sorte, com esse discurso canalha de que o problema e do mercado.
Dona Dilma foi de uma infelicidade atrás, posando de Margareth Tatcher e torpedeando toda e qualquer proposta de salvação da Varig, embora esta seja ate hoje credora de uma grana preta do governo, conforme decisões em várias instâncias do judiciário.
Todo mundo viu que ela tomou partido da débâcle que facilitava a vida da companhia que sempre transportou a turma do PT e da CUT do Oiapoque ao Chuí com a generosidade dos céus de brigadeiro.
Quem conhece os meandros dos podres poderes sabe que isso é pouco. Tem muito mais truta na sopa do que supõe a vã filosofia. E é isso que emerge do poço de lama que uma pupila do Zé começou a jogar no ventilador, para o desconforto da ex-menina que hoje em dia é outra coisa.
Dona Denise Abreu, a tal que mandava mais do que o grandalhão gaúcho, disse com todas as letras que aquele abominável processo que pôs a Variglog e depois a sua placa-mãe nas mãos de um fundo abutre estrangeiro através de um chinês da pesada foi manobra encomendada e sacramentada pela a agora quase sessentona Dilma Rousseff.
Das primeiras pílulas, todo mundo já sabe. Dá para perceber que o Zé Dirceu perdeu as esperanças de voltar ao colo do sapo barbudo. E como nesse mundo onde cada um só trata de si é uma “África”, temos pela frente a possibilidade de novas e eletrizantes revelações.
Coisa que está deixando muita gente sem dormir. Os que se aproveitaram dessa torpeza e não estão dando conta do recado, às milhares de vítimas que sofreram um processo de destruição de suas vidas inocentes, e, principalmente, os que empurraram a Varig para o buraco, na mais incompetente, leviana e irresponsável atitude de um governo que dá uma no cravo e outra na ferradura.
Com isso, tudo pode acontecer de bom e de mau. Até mesmo alguém de bom senso pode cair da nuvens para fazer voltar a fita, a fim de que essa sucessão de bobeadas que escureceu os céus do Brasil tenha o final de todo filme de terror, isto é, o inevitável “The End”.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Deputados mal na fita


"Estou ligando para agradecer aí a ajuda, a torcida, todo o trabalho de vocês."Álvaro Lins, ex-chefe da Polícia Civil, agradecendo o apoio de bicheiros a sua candidatura a deputado estadual. Já a doméstica Angélica Aparecida Souza Teodoro, de 18 anos, ficou presa durante 128 dias no Cadeião Pinheiros, acusada de ter roubado um pote de manteiga. Para ela, segundo polícia e justiça, cadeia é pouco.

MINHA COLUNA NO POVO DO RIO DE 5 DE JUNHO DE 2008

Realmente, pegou muito mal para toda a Assembléia Legislativa a inusitada decisão de passar por cima da Justiça Federal e aprovar um decreto legislativo que arrancou detrás das grades o deputado Álvaro Lins, preso em flagrante em função de crimes que não são protegidos pela imunidade parlamentar.
Para o povão fica mais uma vez provado e comprovado que cadeia no Brasil é para pobre, negro e favelado. Homens que são pagos para defender a Lei, têm porte de arma e outras tantas prerrogativas, não podem em hipótese alguma merecer qualquer tipo de condescendência de quem quer que seja, muito menos de uma Casa Legislativa.
Para a Polícia Federal pôr a mão no deputado Álvaro Lins, teria que ter muitas evidências, pois, do contrário, seus delegados estariam se submetendo a um risco duplo: de um lado, o mandato de um parlamentar é virtualmente blindado; de outro, o homem foi até o final do governo passado o mais da cúpula policial do Estado.
Eu mesmo não sabia que a Assembléia poderia decidir tornar sem efeito uma decisão da Justiça, ainda mais com essa gravidade. Daí a minha amarga perplexidade: para defender o meu mandato, inatacável sob todos os aspectos, nada se pode fazer a não ser esperar pelo tempo que os desembargadores do Tribunal de Justiça determinarem.
Mas para desautorizar uma ordem de prisão de um deputado envolvido até a medula em falcatruas devidamente catalogados, aí 40 senhores deputados estaduais não vacilam: em menos de 24 horas aprovaram a soltura do colega, contra a postura decente de 15 outros, e foram lá passar a mão em sua cabeça.
Isso só serve para manchar ainda mais a imagem dos políticos, que estão muito mal na fita a tal ponto que, se o voto não fosse obrigatório, a maior parte dos brasileiros nem sairia de casa no dia das eleições.
Serve também, o que é pior, para nivelar por baixo. Para o cidadão eleitor, qualquer candidato só disputa uma eleição para levar vantagem pessoal. Daí, seu voto deixa de ser uma expressão de sua confiança política, sentimento raro hoje em dia, para ser uma moeda de troca. Ganha quem tiver mais na mala, pois, como disse, o eleitor acha que se são todos baitas corruptos, quer pelo menos tirar alguma vantagem no sistema pré-pago.
De posse do relatório da Polícia Federal, que considerou ESTARRECEDOR, o deputado Luiz Paulo Coelho da Rocha, corregedor da Assembléia fluminense, se disse disposto a pedir a cassação do mandato do colega arrancado da cadeia.
Pode até ser que isso venha a acontecer, porque o povo está muito indignado com esse gesto pra lá de comprometedor da maioria esmagadora do legislativo.
Mas para o tipo de crime cometido pelo sr. Álvaro Lins, tal como consta do trabalho sério dos “federais” a resposta que a sociedade exige é outra – é aquela que dão na hora à moça pobre que apanha um tablete de manteiga de um supermercado.
coluna@pedroporfirio.com

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A nova máscara da CPMF e a realidade da saúde

Como naqueles idos, o diretor do Cardoso Fontes manda fotografar as reniões dos funcionários para continuar com a mão na massa por meio da intimidação
MINHA COLUNA NA TRIBUNA DA IMPRENSA DE 02 DE JUNHO DE 2008

“Engana-se quem pensa que num hospital público não poderemos receber um tratamento digno de um ser humano”
Jorge A. Vieira, Paciente nº 00207850 do Hospital Cardoso Fontes, após ser submetido a uma operação antes do governador Cabral mandar o ministro Temporão demitir a competente diretora Zenilde Fernandes*.
Essa do governo tentar recriar a CPMF com outra sigla é o mesmo que o PFL se vestir de DEM, depois de ter saído das entranhas do PDS, que foi uma corruptela da Arena daqueles idos infernais.
É muita cara de pau. Afinal, a antiga taxa acabou de bater as botas. O governo não teve cacife para prorrogá-la no Senado e depois saiu dizendo que ia cortar aqui e ali, vitaminar outros tributos e apertar o cerco aos sonegadores.
Não durou muito. Não deixou nem o cadáver esfriar. Não deixou que fosse para o arquivo da memória curta de uma grande massa acrítica. Cheio de si, chamou a tropa de choque e mandou ver.
É bonito isso? O governo acha que resolve tudo mudando de sigla e trocando a faca pelo canivete. Desta vez, jura de pés juntos que o que entrar no desconto do cheque vai direto para a saúde, essa useira e vezeira do CTI - muito mais pela pouca vergonha, pela ação impune dos sanguessugas, pela incompetência e pela absoluta falta de criatividade no trato de uma mazela que é considerada o maior desafio por 71% da população brasileira.
Se neste monstruoso valhacouto tolerado por Deus somos brindados noite e dia com o desfile de histriônicos canastrões e, cenas explícitas de roubalheiras e simulações mambembes de punições, a relação dos governos com a saúde é deliberadamente deletéria.
Velhice seletiva

Está provado por A + B que o sistema é conceitualmente contra a saúde pública. Tiranizado pela síndrome da fatalidade econômica, opera silenciosamente a seleção dos que podem viver mais da conta.
Isso ninguém diz, porque ninguém que trata das estatísticas tem a indispensável liberdade de ir fundo. Você vê falar em expectativa de vida, mas jamais tomou conhecimento de uma decupagem social dos óbitos.
Sabe-se, sim, que estão matando jovens a rodo. Percebe-se com um olhar mais acarado que essa moçada é dos guetos, que aqui se chama de favelas. E dá para entender as malévolas regras do extermínio: só a polícia matou mais de 1.600 garotos num ano, em troca de tiros, nas quais os meninos demonstram uma incrível ausência de pontaria.
Da minha classe média e dos abastados até tem mortes violentas – mais em acidentes de carros e outros descuidos que a boa vida permite. Há algumas vítimas de balas perdidas e de assaltantes cruéis. Mas os números não se comparam.
Na contabilidade geral, o sistema não faz segredo: para continuar vivendo mais, o cidadão vai ter que pagar pedágio. Estão aí as bocas de lobo atrás de tirar o coro dos mais velhos. Senão, entra o plano “B”: deixar os aposentados e pensionistas a pão e água, no maior sentimento de culpa por continuarem dando despesa.
O sistema vem montando um “corredor polonês” para inibir o envelhecimento. Começa por uma aritmética da pesada: depenam o velho, aumentam seu custo de vida e fecham as portas da saúde pública para seus reumatismos.
Nunca vi coisa igual: o governo do ex-pobretão é a alegria da meia dúzia de três ou quatro donos do cofre. As estatísticas ficam no meio do caminho também quando falam da concentração da grana. Trabalham com 10% de detentores de 70% das nossas riquezas.
Dinheirama mal usada
Mas não falam que, na ponta do lápis, a dinheirama fica mesmo é com menos de 1% de potentados insaciáveis,especuladores contumazes sem pátria,sem escrúpulos e sem pai nem mãe,que estão se lixando para a saúde do povo trabalhador e dos 20 milhões de teimosos maiores de 60 anos.
Os governos sabem que há um bom dinheiro para salvar nossas vidas e minorar nossas dores. As verbas para a saúde hoje, mesmo sem CPMF, são as maiores rubricas do orçamento federal – superam até a educação. E as disponibilidades investimentos na saúde é também uma baba nos orçamentos dos estados e municípios.
No entanto, esse dinheiro se evapora principalmente nos mais recentes achados da universidade da corrupção. As terceirizações e as excedentes organizações não governamentais já ficam com a maior parte do bolo, numa escandalosa profissionalização da solidariedade às custas do nosso tributo.
Dá para acreditar num Ministério da Saúde que aceita a condição de Ministério das Doenças e entrega hospitais médicos indicados por políticos que, por sua vez, vão ser ovelhas brancas no Congresso, e certamente não têm nada a ver com o peixe.
O que fizeram com o Hospital Cardoso Fontes, aqui no sopé da Serra dos Três Rios, retira toda e qualquer autoridade moral para o governo arrancar mais dinheiro dos brasileiros, que já pagam impostos tão escorchantes que têm de trabalhar um terço do ano só para não entrar na dívida ativa, pior do que o SPC.
Mais dinheiro nos cofres do governo, infelizmente, é mais festa para os donos dos laboratórios, os vendedores de equipamentos superfaturados, dos indóceis interesses periféricos.Ao povo e aos profissionais da saúde só restará a sobra do banquete.
Qualquer governo sabe muito bem que a função de um órgão de saúde é cuidar da saúde e não deixar o mosquito picar para depois sair pagando enterro de brasileiros indefesos, sem lenços e sem documentos,e se locopletando do artigo 24 da Lei 8666/93.
Nessa tramóia associam-se malandros de todos os plantéis. O que eles querem é poder, é meter a mão, é criar situações de trauma para que possam sair comprando a preços exorbitantes com dispensa de licitação.
Ou você acha que o governador Sérgio Cabral Filho pediu ao ministro Temporão a cabeça da diretora do Cardoso Fontes, 33 anos de casa e excelente administração, para que?
O que os 407 mil moradores de Jacarepaguá podem esperar de um hospital que, além de todas as limitações estruturais, é entregue de mão beijada nas mãos do dono da clínica ginecológica da Rua Mirandela, em Nilópolis, que conheceu suas instalações no dia em que, escoltado pela polícia, foi tomar posse do seu presente, ou melhor do presente dado pela dobradinha Lula/Cabral ao deputado federal daquele município, ou melhor da família Beija Flor?
Essa repentina mudança ocorreu exatamente na hora em que a unidade do Ministério da Saúde adquiriu “autonomia financeira” e a bagatela de R$ 37 milhões para gastos diversos.
Só quero saber quem vai facilitar a aprovação do imposto de duas caras. Isso, aliás, não será difícil. Afinal, o grande personagem do “mensalão” , batizado Marcos Valério, jamais experimentou um único dia de cadeia e olha que ele não tem as prerrogativas do deputado Álvaro Lins, solto pela votação em tempo recorde dos seus pares da Assembléia Legislativa do Estado do Rio.
coluna@pedroporfirio.com

*CLIQUE AQUI e veja o depoimento do paciente operado no Cardoso Fontes em 2006

domingo, 1 de junho de 2008

"Milicianos", os novos intocáveis

Na prática, as milícias são consentidas e agem de comum acordo com boa parte polícia, até porque muitas delas são formadas por policiais.
MINHA COLUNA NO JORNAL POVO DO RIO DE 2 DE JUNHO DE 2008
Esse episódio de tortura de repórteres do jornal O DIA nas mãos de policiais que agem ostensivamente na ilegalidade não me surpreende nem um pouco.
Aconteceu no dia 14 de maio, mas só ontem o veio a público, neste fim-de-semana, decorridos 15 dias das sevícias sem que se saiba da punição de quem quer que seja.
Antes, teremos daqui para frente três profissionais traumatizados para o resto da vida e toda uma categoria com medo de trabalhar e escrever a verdade.
Os requintes de perversidade servem como uma advertência ostensiva a tudo e a todos. Quem a psicologia das horas de policiais sem freios sabe que em nenhum momento os torturadores dos jornalistas imaginavam que a proeza fosse abafada.
A intenção dos “milicianos” era exatamente realizar uma ação de propaganda, no sentindo de intimidar e mostrar que têm costas largas.
Já estão habituados a mandar para a vala ou para a laje os que se recusam a meter a mão no bolso, mesmo que não tenham um tostão. O próprio jornal O DIA relatou um caso numa comunidade da Taquara, em Jacarepaguá, em que os moradores eram obrigados a abrir a geladeira para pagar a conta dos “milicianos” com seus alimentos.
Quando eu digo que não me surpreende é porque todo o aparato de governo no Estado do Rio de Janeiro dá ampla cobertura a conhecidos facínoras, que exercem uma tirania muito mais radical do que os próprios traficantes.
Nesse aspecto, nenhuma dessas autoridades aí tem moral para dizer qualquer coisa de tais personagens, alguns dos quais, com vida pregressa conhecida, têm acesso a seus gabinetes.
Essas autoridades preferem tirar proveito do poder tirânico exercido por esses verdugos com os quais fazem acordos políticos abertos.
Um delegado de polícia que faz o gênero do grande xerife foi candidato a deputado estadual em 2006 e fez dobradinha com um desses chefes na maior sem cerimônia.
Para agravar, não me surpreende, igualmente, quando uma novela de televisão de grande audiência transforma o personagem de um “justiceiro” desses em verdadeiro mocinho. Você também deve ter visto a institucionalização midiática de um miliciano, aliás, caricaturado num péssimo desempenho por um dos melhores atores brasileiros.
Eu que eu vou dizer aqui, você não vai acreditar: qualquer um pode fazer campanha política na Jacarezinho, onde o tráfico é forte, Mas ninguém pode entrar nas quase oitenta áreas cujo controle foi terceirizado às “milícias” por uma polícia cúmplice, de cujas fileiras saem os cabeças desses supostos mantenedores da ordem com as próprias mãos.
O caso do poderio desses grupos paralelos, com o tácito assentimento do governador Sérgio Cabral Filho é o corpo de delito de um estado de ilegalidade que torna a vida dos pobres um trágico dilema: ou convive calada com os vendedores de maconha, que nada lhes cobra mas exige o silêncio, ou morrem nuns bons trocados nas mãos desses milicianos.
coluna@pedroporfirio.com