Há um clima de indignação diante de um atrevido ofício do banqueiro Marcílio Marques Moreira, em nome de uma Comissão de Ética Pública, dando prazo até o dia 6 de dezembro para o ministro Carlos Lupi decidir se fica no Ministério do Trabalho ou na direção do PDT.
No Senado, o ex-ministro Dornelles fez um pronunciamento incisivo, lembrando que presidia o PP quando foi ministro do Trabalho de FHC e ninguém reclamou. Ainda citou outros casos de dirigentes partidários que exerceram simultaneamente ministérios sem precisar afastar-se de suas responsabilidades partidárias.
O que causou maior estranheza é que nos seus 19 artigos o Código de Ética Pública faz qualquer referência a um virtual conflito entre hierarquia partidária e exercício de cargos essencialmente políticos.
Tal é o óbvio: são os partidos que exercem o poder numa democracia, cabendo a eles as indicações de seus representantes no Executivo. Nenhum titular de um cargo governamental é obrigado a renegar sua filiação e suas responsabilidades partidárias porque uma precária comissão assim entende.
De fato, quem pode discutir se um ministro deve ou não afastar-se do cargo partidário são seus correligionários. Brizola nunca precisou afastar-se do comando do PDT quando desempenhou por duas vezes o mandato de governador do Estado do Rio de Janeiro.
É muito mais honesto o exercício transparente de um mandato partidário ao tempo do cargo público do que esse jogo hipócrita em que o governante continua dando as cartas através de terceiros de sua confiança, como acontece nas nossas barbas.
Porque o estar no governo pesa muito num ambiente em que as vértebras partidárias são quebradas por quem tem a caneta na mão. O próprio PDT já amargou “rachas” clamorosos quando governantes o abandonaram, cooptando maltas de arrivistas, inclusive filiados que se consideravam a fina flor da coerência ideológica.
A verdade é que o ministro Carlos Lupi, objeto do ultimato sem qualquer fundamento jurídico, começa a desapontar aos que apostavam que ele não teria como sobreviver, postando-se na defesa da legislação trabalhista, ante o cerco astucioso de alguns influentes, próximos e poderosos interessados em remover históricas conquistas sociais.
Quem se beneficia com esse jogo baixo é fácil de identificar. Mas é de se perguntar ao grupo dos quatro depositários da “ética pública” se está mudando o foco de sua missão de boa fé ou se quer simplesmente criar embaraços para o governo, alvejando quem tem a responsabilidade de honrar o legado de Leonel Brizola e de zelar pelos pétreos direitos dos trabalhadores.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
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