segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A “ÉTICA” QUE SERVE A INTERESSES

Eu sempre digo: por trás de cada atitude despropositada de alguém em qualquer patamar do poder há uma motivação escamoteada, nem sempre lícita.
Essa inédita manifestação do banqueiro Marcílio Marques Moreira de pedir a cabeça do ministro do Trabalho, sob o pretexto de que ele exerce cargo na direção de um partido não tem nada a ver com as funções da desfalcada Comissão de Ética Pública, que ele preside provisoriamente desde o mal-fadado governo FHC.
Além de ser um dos grandes defensores da demolição dos direitos trabalhistas legados por Getúlio Vargas, o embaixador que sempre foi muito bem remunerado servidor dos bancos e grandes empresas multinacionais, está tiririca porque o ministro Carlos Lupi quer modernizar a Carteira do Trabalho, com o que poderá atingir a American BankNote, empresa que recebe cerca de R$ 5 milhões por ano para confeccionar as carteiras profissionais antigas. Ele é membro do Conselho de Administração desse conglomerado norte-americano.
Isto é o que denunciam as centrais sindicais em nota oficial, na qual pedem ao presidente Lula o imediato afastamento do banqueiro, que lembra a fábula da raposa posta para tomar conta do galinheiro.
As entidades representativas dos trabalhadores afirmam com todas as letras em sua nota oficial: “Vale ressaltar que o Sr. Marcílio Marques Moreira, além de presidente das Comissão de Ética Pública, integra também os conselhos de empresas como IBM, Coca-Cola, Novohotel, GE, Hoescht, ABN (banco holandês), Sendas, entre outros. Isto também gera conflitos de interesses, desabilitando-o a continuar como presidente em exercício de uma instituição que prega a ética e a moralidade”.
Assinada pela Força Sindical, Nova Central Sindical, UGT, CGTB e CNTM, a nota informa as entidades pedirão diretamente ao presidente Lula o afastamento do banqueiro do cargo ao qual jamais poderia ter sido alçado, mesmo sem a remuneração explícita. O encontro com o presidente estava agendado para ontem, durante a 4ª Marcha dos Trabalhadores a Brasília.
O documento não conta da missa um terço, até porque não expõe um extenso currículo de serviços prestados pelo embaixador durante os 76 anos de vida, 18 dos quais na vice-presidência do grupo Unibanco. Nem da “consultoria” que presta a bancos norte-americanos com grande atuação no Brasil.
O presidente Lula, que o manteve no cargo para não parecer que queria manipular a Comissão de Ética Pública, também deve estar muito desconfortável. Provavelmente, não acreditava que esse eterno prestador de serviços das grandes empresas fosse pôr as unhas de fora logo no seu governo.

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