Melhor trabalhar menos por dia do que menos dia por ano Nunca pensei que meu grito contra a farra dos feriados fosse causar tanta polêmica, o que revela, para a minha satisfação, que um bom número de leitores está realmente ligado no que escrevo. Muitos consideraram mais do que oportuna a minha reação. Houve até quem manifestasse o desejo de entrar na Justiça com um processo contra os feriados religiosos, em nome do Artigo 19, inciso I da Constituição Federal, que declara o Brasil como um país laico, isto é, neutro em relação à religião. Alguns, no entanto, discordaram da minha opinião, o que faz parte do jogo, defendendo o direito ao descanso com unhas e dentes. Nesses casos, argumentavam que não havia relação entre muitos dias parados e desemprego. Para estes, eu estaria vendo a coisa apenas do ponto de vista dos interesses econômicos das empresas. Não haveria nenhuma garantia de que com maior freqüência à atividade produtiva teríamos mais postos de trabalho. Um amigo oculto disse com todas as letras: “Crise de emprego pouco tem a ver com feriados, e você sabe disso. O discurso dos exploradores consiste em explorar cada vez mais. Se praias cheias de trabalhadores deixam você preocupado com o horizonte econômico-financeiro do seu país, você está apenas preocupado com uma parte dele”. É essa visão que pretendo contestar agora. Senão vejamos: Em 2007, trabalhamos 250 dias (68,5%) e folgamos 115 (31,5%). Um ano tem 52 semanas. Se trabalhássemos sem feriados, observando a semana de 44 horas, somaríamos 2.288 horas. Com os feriados e feriadões, demos em 2007 até 1.567 horas e deixamos de trabalhar 720 horas. Se, no entanto, a semana laboral fosse de 36 horas, cada um trabalharia 1908 horas, folgando sábados e domingos. Teríamos sobre o ano uma diferença de 370 horas, praticamente a metade do consumido nos feriados e feriadões. Com esse “banco de horas”, teríamos o ponto de partida para uma negociação de dois turnos de trabalho, que somariam 72 horas semanais. A conquista de mais emprego se daria, portanto, com a redução da jornada de trabalho e o aumento da capacidade produtiva das empresas. Mesmo que estejamos racionando por hipóteses, você haverá de convir que é muito mais interessante socialmente trabalhar menos por dia do que menos dias no ano. Calma! Eu não estou querendo abolir todos os feriados. Pode até ser que essas contas feitas em cima da perna não reflitam exatamente a realidade dos fatos. O que eu quero dizer, porém, é que manter a atividade econômica não significa necessariamente explorar o trabalhador. Pelo contrário. E mais: com o incremento que possibilitaria muito mais empregos, estaríamos matando outro coelho na mesma cajadada: teríamos condições de suprir o aumento da demanda, apesar da disponibilidade de energia hoje mal dar para o gasto atual. O que você acha dessas idéias? coluna@pedroporfirio.com
Jornalista desde 1961, quando foi ser repórter da ÚLTIMA HORA, PEDRO PORFÍRIO acumulou experiências em todos os segmentos da comunicação.
Trabalhou também nos jornais O DIA e CORREIO DA MANHÃ, TRIBUNA DA IMPRENSA, da qual foi seu chefe de Redação, nas revistas MANCHETE, FATOS & FOTOS, dirigiu a Central Bloch de Fotonovelas. Chefiou a Reportagem da Tv Tupi, foi redator da Radio Tupi teve programa diário na RÁDIO CARIOCA.
Em propaganda, trabalhou nas agências Alton, Focus e foi gerente da Canto e Mello. Foi assessor de relações públicas da ACESITA e assessor de imprensa de várias companhias teatrais.
Teatrólogo, escreveu e encenou 8 peças, no período de 1973 a 1982, tendo ganho o maior prêmio da crítica com sua comédia O BOM BURGUÊS.
Escreveu e publicou 7 livros, entre os quais O PODER DA RUA, O ASSASSINO DAS SEXTAS-FEIRAS e CONFISSÕES DE UM INCONFORMISTA.
Foi coordenador das regiões administrativas da Zona Norte, presidente do Conselho de Contribuintes e, por duas vezes, Secretário Municipal de Desenvolvimento Social. Exerceu também mandatos em 4 legislaturas na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, sendo autor de leis de grande repercussão social.
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